Portugal entre países que tiveram “forte redução” do desemprego jovem, destaca OIT

Vários países do sul da Europa registaram "fortes reduções" do desemprego jovem entre o verão de 2022 e o verão de 2023. Portugal está nesse grupo, ainda que a taxa se mantenha acima da média da UE.

Metade dos países da União Europeia tem visto o desemprego jovem encolher, mas nuns a redução tem sido mais expressiva do que noutros. Segundo destaca a Organização Internacional do Trabalho (OIT) num relatório publicado esta semana, as maiores descidas têm sido verificadas nos países do sul europeu, estando Portugal entre os Estados-membros que registaram “fortes reduções” do desemprego jovem, ainda que a taxa apurada continue a superar a média comunitária.

“Ao longo de 2023, a situação dos jovens no mercado de trabalho da Europa melhorou de forma consistente“, sublinha a organização dirigida por Gilbert F. Houngbo, no relatório “Perspetivas sociais e de emprego no mundo: tendências 2024”.

No conjunto da União Europeia, em junho de 2023, a taxa de desemprego jovem fixou-se “pouco acima de 14%”, o que corresponde a uma queda de 0,3 pontos percentuais (p.p.) face ao registado um ano antes, é assinalado no estudo.

E de acordo com a OIT, essa redução do número de jovens sem emprego ficou a dever-se, pelo menos em parte, à escassez de trabalhadores sentida em vários países europeus (incluindo em Portugal, segundo têm alertado as empresas).

Contudo, os países que compõem o bloco comunitário estão a viver diferentes fases da recuperação pós pandemia e estão em momentos diversos do ciclo económico, o que significa que a referida melhoria da situação dos jovens não foi igual entre todos os Estados-membros.

Desde logo, só cerca de metade viu o desemprego jovem cair, sendo que “algumas das reduções mais acentuadas dos últimos anos da taxa de desemprego jovem foram registadas no sul da Europa“.

Em maior detalhe, entre o verão de 2022 e o verão de 2023, o recuo mais expressivo foi verificado na Grécia. Nesse país, junho do último ano foi sinónimo de uma redução homóloga de oito pontos percentuais do desemprego jovem.

Mas houve também reduções significativas noutros países do sul europeu, realça a OIT. Em destaque estão o Chipre (com um recuo de 2,1 p.p.), Portugal (com uma redução de 0,8 p.p.) e Espanha (com uma quebra de 1,8 p.p.).

Ainda assim, “o desemprego jovem continua elevado em muitos destes países“, alerta a Organização Internacional do Trabalho.

É o caso de Espanha, que, apesar da descida, ocupa o primeiro lugar do ranking europeu do desemprego jovem. Mas também da Grécia, que aparece na terceira posição dessa tabela (ver abaixo).

Já em décimo lugar no ranking do desemprego jovem, está Portugal. Apesar da referida redução, o desemprego jovem registado mantém-se acima da fasquia de 18% e, consequentemente, acima da média comunitária.

O Governo português tem frisado as melhorias nesse indicador, mas os especialistas — nomeadamente, o coordenador do Observatório do Emprego Jovem — têm declarado que este é ainda um problema a resolver, sendo um dos principais desafios, neste momento, do mercado trabalho.

Quase todos os países estão mais perto do mínimo histórico que do máximo

Em contraste com estes países, como Portugal, que viram o desemprego jovem cair, houve países europeus onde esse indicador sofreu um agravamento.

Na República Checa, por exemplo, houve um aumento de 6,3 pontos percentuais. E na Suécia o desemprego jovem piorou mais de cinco pontos percentuais, atirando esse país para o segundo lugar do pódio europeu.

“Também houve aumentos, embora mais modestos, na Bulgária, na Croácia, no Luxemburgo, na Alemanha, na Hungria, em Malta, na Holanda, na Eslováquia, na Polónia e na Finlândia“, analisa a OIT.

Importa explicar que, apesar desses aumentos, é na Alemanha (5,6%), na Holanda (8,3%) e na Letónia (9,8%) que se registaram as taxas de desemprego jovem menos expressivas do Velho Continente.

Mais, a OIT afirma que, mesmo com esses agravamentos, se olharmos para os países da União Europeia, quase todos têm taxas de desemprego mais próximas dos mínimos históricos do que os máximos.

A exceção a essa dinâmica são a Suécia, a República Checa e o Luxemburgo, o que pode ser explicado por um “impacto duradouro da pandemia nos mais jovens, que foram afetados de forma desproporcional”, é salientado.

Taxa de desemprego mundial deverá aumentar em 2024

Sim, os mercados de trabalho têm dados provas de “resiliência surpreendente“, mas a recuperação pós pandemia continua a decorrer de forma desigual entre os vários países e há “novas vulnerabilidade e múltiplas crises a erodir as perspetivas de mais justiça social“, assinala a OIT, no relatório divulgado esta semana.

Perante este cenário, a organização projeta um agravamento do desemprego mundial este ano. “Em 2024, dois milhões de trabalhadores adicionais deverão procurar emprego, o que fará subir a taxa de desemprego de 5,1% em 2023 para 5,2% em 2024“, lê-se nas “Perspetivas sociais e de emprego no mundo: tendências 2024”.

E também não há boas notícias quanto aos salários. Depois de os rendimentos terem caído, em termos reais, na maioria dos países que compõem o G20, “é improvável” que o declínio dos padrões de vida sejam compensados de forma rápida, estima a OIT, que antecipa também que a “pobreza no trabalho deverá persistir”. Por outras palavras, o número de pessoas que trabalham, mas vivem na pobreza piorou em 2023 e receia-se que volte a subir em 2024.

A somar a estas previsões, a OIT deixa anda um alerta: a produtividade está a abrandar. Depois de uma aceleração pós pandemia, a produtividade “regressou a mínimos da década anterior”. Isto apesar dos avanços tecnológicos e dos investimentos.

Uma das razões para essa trajetória é o direcionamento de investimento para setores tradicionalmente menos produtivos, como os serviços e a construção, é apontado no relatório. A escassez de trabalhadores qualificados e os monopólios no setor tecnológico são outros dos possíveis motivos para essa desaceleração.

Também Portugal se tem queixado de níveis cronicamente baixos de produtividade. Os patrões exigem, por isso, ao Governo medidas — nomeadamente, fiscais — para contrariar essa situação e já deixaram claro que a melhoria efetiva dos salários só será possível quando os empregadores forem mais produtivos e competitivos.

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