Turismo admite investimentos para reduzir consumo de água na Algarve. Governo afasta compensações

Setores mostram-se comprometido com a meta de reduzir os consumos de água em 15%. Investimentos necessários estão a ser "estudados" e Governo não prevê compensações para os operadores.

De alma e coração”. Os empreendimentos turísticos no Algarve asseguram estar comprometidos em voltar a reduzir os consumos de água nos próximos tempos face ao agravamento da situação da seca na região, mesmo que o Governo não tenha previsto compensações para o setor. À semelhança do sul de Espanha que também não escapa aos impactos meteorológicos, o turismo nas sete regiões do extremo sul do país vai ter de reduzir em 15% o consumo de água e a captação deste recurso nos aquíferos.

Esta foi uma das 46 medidas apresentadas esta quarta-feira pelos ministérios do Ambiente e da Agricultura e não chocaram o setor. Não por terem sido antecipadas por vários meios de comunicação social dias antes da comunicação ao país, mas porque organizações como a Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) e o Turismo do Algarve participaram nas reuniões da comissão da seca, das últimas duas semanas, que serviram para avaliar os níveis de escassez de água na região.

Apresentámos as soluções que achávamos que dariam um contributo ideal. É um trabalho que temos levado a cabo desde o ano passado”, recordou o presidente da AHETA, Hélder Reis, ao ECO/Capital Verde, referindo a título de exemplo que, em 2023, os campos de golfe – um consumidor de grandes volumes de água – conseguiu reduzir os consumos em 50% como resultado das restrições impostas pelo Governo. “É um trabalho que tem de ser continuado”, defendeu.

Tal como a agricultura — que terá de reduzir os consumos de água em 25% – também o turismo está debaixo dos holofotes uma vez que, de acordo com os dados da Agência Portuguesa do Ambiente, o setor urbano consumiu 75 hectómetros cúbicos (hm3), dos quais 40% são da responsabilidade da atividade turística, e o agrícola consumiu um total de 135 hm3.

Falta de vontade parece não haver. O grande obstáculo será, no entanto, a capacidade financeira para executar algumas das medidas a nível da eficiência hídrica. Seja através de métodos de reutilização de “águas cinzentas” (efluente que resulta da água consumida num edifício em banheiras, chuveiros e lavatórios), aplicação de relva sintética nas áreas circundantes dos hotéis, resorts ou pousadas, reduzindo desta forma a quantidade de água usada para a rega, ou substituição de torneiras e autoclismos por equipamentos mais eficientes.

Neste campo, esclarece o presidente do Turismo da Região do Algarve, os valores estão a “ser orçamentados” com o Governo e a Agência Portuguesa do Ambiente de forma a serem criados “instrumentos de apoio que fomentem a adesão ao selo “verde” e à implementação das medidas”. As medidas a serem aplicadas no setor do turismo serão anunciadas posteriormente em Conselho de Ministros.

As medidas não nos chocam. O que nos choca é que durante 20 anos não se tenha feito nada sobre esta matéria. Vamos de alma e coração tentar fazer tudo o que pudermos-

Hélder Reis, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA)

Os apoios ficarão por aqui. De acordo com o ministro do Ambiente e da Ação Climática, durante o briefing de Conselho de Ministros, esta quinta-feira, a comissão da seca entendeu que o turismo não vai beneficiar de nenhuma compensação pelas restrições impostas, ao contrário da agricultura, por entender que os constrangimentos não serão impactantes o suficiente.

De acordo com Duarte Cordeiro não há qualquer “restrição ao desenvolvimento da atividade” turística, apenas um “condicionamento relativamente à eficiência hídrica e poupança de água”. “Não perspetivamos a necessidade de qualquer tipo de compensação para o setor”, afirmou.

Estas medidas vão exigir novos equipamentos e uma alteração das infraestruturas. São medidas que vão perdurar no tempo e vão continuar a produzir resultados”, garante André Gomes ao ECO/Capital Verde. O trabalho, acrescenta, deverá ser mais fácil de fazer em hotéis que estejam em fase de construção. Nos empreendimentos com “30 ou 40 anos pode não ser tão rápido” e pode levar, até, a uma rutura de stock se não forem acautelados todos os riscos.

“Se todos os hotéis optarem por usar chuveiros ecológicos, vai ser uma corrida e não vai haver nada no mercado”, acrescenta.

Ainda assim, a vontade de concretizar o plano de contingência do Governo, que será monitorizado todos os meses, é clara. “As medidas não nos chocam. O que nos choca é que durante 20 anos não se tenha feito nada sobre esta matéria. Vamos de alma e coração tentar fazer tudo o que pudermos”, garante o responsável da AHETA.

As palavras são subscritas pelo presidente do Turismo do Algarve, recordando que os empreendimentos que seguirem este caminho terão direito a um selo de eficiência hídrica que será renovado periodicamente se forem respeitadas as aplicações das medidas prioritárias e estruturantes ao longo de todo o ano.

“O tema da seca é estrutural e por isso carece de um nível de intervenção dos próximos governos para que a região não viva de forma cíclica”, defende André Gomes. Para isso, defende, será necessário “aumentar a coesão territorial” e uma mudança de mentalidades. “Tem que haver outro olhar para estas questões. Temos duas realidades a nível da disponibilidade de água no país: a norte temos uma abundância e a sul uma seca”.

Ademais, acrescenta por seu turno, Hélder Martins, é importante que não se recue nas medidas adotadas hoje caso haja uma melhoria da situação a longo prazo – com a inauguração da futura dessalinizadora do Algarve, cujo concurso será lançado até ao final do mês – e a curto prazo. Nos últimos dias, o Norte e Centro do país registaram níveis elevados de pluviosidade graças à Depressão Irene, tendo obrigado ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a decretar alerta amarelo em várias regiões.

Ainda que no Algarve não tenha chovido com a mesma intensidade, o presidente da AHETA recorda o que aconteceu há 20 anos. “Espero que o Governo não baixe os braços como em 2005. Naquela altura estávamos em risco de cortar água nas torneiras mas depois choveu. Agora estamos numa fase de alarme. É tempo de agir”, atira.

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