Só a troika supera número de greves comunicadas em 2023
Quase milhar e meio de pré-avisos de greve deram entrada no conjunto de 2023. Desde 2013 que não eram comunicados tantos avisos prévios de paralisações.
Viagens de comboio canceladas. Escolas encerradas. Hospitais em serviços mínimos. O ano de 2023 ficou marcado por um aumento considerável da contestação social, tendo o número de pré-avisos de greve atingindo o valor mais elevado desde 2013, isto é, desde o período da troika. A maioria absoluta do Governo do Partido Socialista e a inflação ajudam a explicar esse disparo das paralisações.
De acordo com a Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), em dezembro foram comunicados 216 avisos prévios de greve, o que atirou o total registado em 2023 para 1.495. Desses pré-avisos, 552 dizem respeito ao setor empresarial do Estado e 943 estão fora do setor empresarial do Estado.
Comparativamente, em 2022 tinham sido comunicados 1.087 pré-avisos de greve. Tal significa que, entre 2022 e 2023, houve um salto de quase 38% dos avisos prévios de greve.
Pós queda pandémica, queda não têm parado de aumentar
Fonte: DGERT
É preciso recuar a 2013 — período em que Portugal estava submetido ao programa de ajustamento acordado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional — para encontrar um total de greves mais elevado do que o registado em 2023.
A desagregação do valor anual de pré-avisos por setor de atividade ainda não está disponível, mas a DGERT já deu a conhecer os dados relativos a dezembro: mais de um quarto das paralisações diz respeito às atividades administrativas e serviços de apoio.
Em destaque estão também as atividades de informação e comunicação, numa altura em que o Grupo Global Media — dono da TSF, do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias — está a enfrentar um período de crise, com salários em atraso e a ameaça de um despedimento coletivo.
De acordo com os politólogos que têm sido ouvidos pelo ECO, a inflação, e o consequente agravamento do custo de vida — o aumento dos salários é uma das principais reivindicações dos sindicatos –, é uma das razões por detrás do aumento da contestação social. Outra é a maioria absoluta do PS.
José Palmeira, professor da Universidade do Minho, salienta que a contestação social “costuma aumentar em contextos de maioria absoluta“, uma vez que tende a transferir-se do Parlamento para a rua.
Por sua vez, Bruno da Costa, professor da Universidade da Beira Interior, realça que a maioria absoluta deu ao PS e ao Governo “os instrumentos necessários para implementar um quadro global de transformação do país”, mas, passados oito anos de “desgaste” e tendo em conta a “inoperância de alguns membros do Executivo”, a afirmação dessa maioria começava a enfrentar dificuldades.
De resto, o último Orçamento do Estado do Governo de António Costa (agora demissionário) não gerou consenso na sociedade portuguesa, já que, por exemplo, fez cair o IRS, mas aumentou os impostos indiretos, identificam os politólogos.
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