Setor segurador angolano emitiu prémios brutos de 345,6 milhões de euros em 2022

  • Lusa e ECO Seguros
  • 31 Janeiro 2024

A ministra das Finanças de Angola, Vera Daves de Sousa, disse que quer taxa de penetração de seguros "mais ambiciosa", acreditando ser possível através da aposta em literacia financeira e na inovação.

O setor segurador angolano emitiu prémios brutos de 312,7 mil milhões de kwanzas (345,6 milhões de euros) em 2022, mais 13% face a 2021, com os seguros não vida a liderarem a carteira de prémios.

No estudo “Angola Insurance Outlook”, que apresenta os principais resultados do setor segurador entre 2019 e 2022, apresentado esta terça-feira, em Luanda, pela Ernest Young (EY) Angola, refere-se que os prémios brutos adquiridos em 2022 foram de cerca 300 mil milhões de kwanzas (331 milhões de euros) contra os 263 mil milhões de kwanzas (290 milhões de euros) de 2021.

A estrutura da carteira de prémios não-vida “alterou significativamente” no período em análise, com um peso de 92%. Os seguros de acidentes, doenças e viagens têm a maior fatia da produção total em todos os anos, representando mais de metade da produção total em todos os anos, observa-se no estudo.

A componente do seguro agrícola em Angola é também desenvolvida nesta pesquisa da EY. O mercado angolano da banca e seguros apresentam um sentimento de “incerteza e relutância” em assegurar os riscos inerentes ao seguro agrícola, apesar da importância vital da agricultura para o país lusófono, refere-se.

Apesar da importância da agricultura, o seguro agrícola “ainda tem pouca relevância, funcionando em modelo de cosseguro sem fundos de compensação”, acrescenta-se. “Verifica-se ainda um sentimento de incerteza e relutância no mercado da banca e seguros em assegurar os riscos inerentes a este setor de atividade”, lê-se no estudo apresentado durante a conferência “Seguros”, promovida pela EY em parceria com a Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG).

O Governo angolano e o International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, assinaram, em julho de 2023, um acordo de parceria para um projeto de desenvolvimento do seguro agrícola no país, instrumento cujo beneficiário direto é a ARSEG.

A ARSEG, à luz do acordo, tem a missão de mobilizar o mercado segurador para a criação de condições legais, institucionais, técnicas e operacionais para a operacionalização do seguro agrícola no país.

Para a EY, nas perspetivas plasmadas no estudo, o acordo entre Angola e o IFC “será impulsionador” para o país seguir o exemplo de outras regiões africanas como o Quénia, Zâmbia e Senegal.

A consultora considera que a expansão na oferta de seguros agrícolas irá potenciar a melhoria do setor agrícola em Angola em vários eixos, nomeadamente estímulo ao investimento privado e em tecnologia e práticas agrícolas sustentáveis, proteção contra riscos climáticos naturais, redução dos riscos para os investidores no setor agrícola e outros.

No estudo, que apresenta igualmente os principais resultados do setor entre 2019 e 2022, refere-se que a estrutura do setor segurador angolano era composta por 24 empresas, sendo uma totalmente detida pelo Estado, a Empresa Nacional de Seguros de Angola (ENSA), e as restantes capitais privados.

Destaca-se ainda o aumento “considerável” de mediadores de seguro que passou de 1.088 em 2019 para 1.456 em 2022. “O aumento do número de mediadores, tanto coletivos como singulares, vem demonstrar uma tendência, que se tem vindo acentuar, das empresas de seguros diminuírem as suas agências próprias e de aumentarem a capilaridade da sua rede através dos canais de mediação”, acrescenta-se no documento.

Ministra angolana quer taxa de penetração de seguros “mais ambiciosa”

O valor dos fundos de pensões em Angola atingiu 835 mil milhões de kwanzas (922 milhões de euros) em 2022 e o setor segurador precisa alcançar uma taxa de penetração de seguro “mais ambiciosa”, disse esta terça-feira fonte oficial.

O fundo de pensões, um dos elementos do setor segurador angolano, é um património autónomo afeto à realização de um ou mais planos de benefícios de saúde.

De acordo com a ministra das Finanças de Angola, Vera Daves de Sousa, apesar de todos os impactos negativos e desafios associados ao setor segurador entre 2019 e 2022 este “foi capaz e reinventar-se e conseguir manter uma trajetória crescente neste período”.

“Os prémios brutos emitidos cresceram a uma média anual de 22%, no geral 32%, a taxa de sinistralidade do setor manteve a sua tendência decrescente com 32% em 2022”, disse a governante na abertura da conferência.

As contribuições para os fundos de pensões cresceram 144% no período, ao passo que o valor dos fundos de pensões cresceu em torno de 100%, ou seja, mais do que duplicou, passando de 409 mil milhões de kwanzas (452 milhões de euros) para 835 mil milhões de kwanzas em 2022, adiantou.

Falando na conferência organizada pela Ernst & Young (EY) Angola, em parceria com a Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG), onde foram apresentados os principais resultados do setor entre 2019 e 2022, a ministra também destacou as reformas e o quadro legislativo do setor.

Considerou que o quadro legislativo do setor “também ajudou a imprimir uma nova dinâmica na forma de acesso e exercício da atividade seguradora” e a ARSEG, na sua ação de reforço dos mecanismos de supervisão, procurou alinhar-se cada vez mais as melhores práticas.

“Nalguns casos, tomando medidas difíceis, mas necessárias para reforçar a solidez, a reputação e a segurança dos tomadores de seguros nas instituições com as quais se relacionam, como reforço da supervisão, dos seus mecanismos de arrecadação e outros”, frisou.

A governante defendeu que a atuação das empresas de seguros é fundamental para que os segurados possam de facto contar com elas, nesta altura da inovação tecnológica, economia azul, para a regularização tempestiva dos seus sinistros quando eles acontecem”.

“Temos consciência que nem sempre os processos estão bem, muitas vezes a papelada não está correta, os pressupostos não foram cumpridos, mas o que devemos todos cuidar é evitar seguir o caminho de nos furtar a pagar para a regularização dos seguros”, observou.

Para Vera Daves de Sousa, um ambiente de suspeição e de desconfiança relativamente à efetividade e utilidade prática do seguro não contribui para o aumento da taxa de penetração de seguros em Angola, que em 2022 se manteve abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Temos de fazer o possível para alcançar uma taxa de penetração de seguro mais ambiciosa, o que no nosso entender apenas será conseguido se apostarmos fortemente na literacia financeira, na inovação, a oferta de produtos cada vez mais inclusivos”, defendeu.

A necessidade da contínua assimilação e implementação das boas práticas de governo corporativo, no intuito de promover mais solidez, profissionalismo, reputação, confiabilidade e credibilidade das empresas de seguros que operam em Angola foram também realçadas pela ministra angolana.

Por outro lado, incentivou igualmente a ARSEG a “continuar a ser” um agente ativo no domínio da literacia: “promovendo ela própria ou incentivando os operadores a terem uma agenda de literacia para que contribuamos para o aumento da penetração dos seguros e tornar potenciais tomadores de seguros em tomadores de seguro de facto”.

“Apostar na fiscalização efetiva dos seguros obrigatórios, e a ARSEG tem um papel fundamental nisto, mapeamento, regulamentação bem como treinamento das entidades responsáveis pela fiscalização dos mesmos nos aspetos ligados à técnica seguradora bem como na sensibilização”, rematou a governante angolana.

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