Lula da Silva deve um pedido de desculpa aos judeus, diz ministro israelita

  • Lusa
  • 20 Fevereiro 2024

"A vossa comparação é promíscua, delirante. É uma vergonha para o Brasil e uma cuspidela na cara dos judeus brasileiros", declarou o chefe da diplomacia israelita, Israel Katz.

O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, instou esta terça-feira o Presidente brasileiro a pedir desculpa aos “milhões de judeus” por ter comparado a guerra na Faixa de Gaza com as ações de Adolf Hitler no Holocausto.

“Milhões de judeus em todo o mundo aguardam o seu pedido de desculpas. Atreve-se a comparar Israel a Hitler?”, escreveu Katz na sua conta na rede social X (antigo Twitter), depois de ter declarado, segunda-feira, Lula da Silva ‘persona non grata’ (indesejada) em Israel devido a essa afirmação.

Katz convocou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, no domingo, depois de Lula da Silva ter comparado as ações israelitas em Gaza, onde mais de 29.000 habitantes morreram em 136 dias de guerra, ao Holocausto cometido pelos nazis contra os judeus. O encontro diplomático ocorreu segunda-feira no Museu do Holocausto, em Jerusalém, e, de seguida, Katz anunciou que o Presidente brasileiro era ‘persona non grata’.

Como reação, o Governo brasileiro convocou o embaixador israelita em Brasília e chamou para consultas o embaixador brasileiro em Telavive.

“A vossa comparação é promíscua, delirante. É uma vergonha para o Brasil e uma cuspidela na cara dos judeus brasileiros”, declarou o ministro israelita. Não é tarde demais para aprender a História e pedir perdão. Até lá, ele continua a ser uma personalidade indesejada em Israel”, acrescentou.

O Governo brasileiro qualificou de “absurda” a reação israelita às palavras de Lula, que já utilizou anteriormente a palavra “genocídio” para descrever a ofensiva israelita. E garantiu que as polémicas declarações do Presidente do Brasil sobre o Estado de Israel não vão contaminar as reuniões dos chefes da diplomacia do G20 que arrancam na quarta-feira, afirmou esta terça um diplomata brasileiro.

Em conferência de imprensa de antecipação das reuniões na cidade brasileira do Rio de Janeiro, o secretário de Assuntos Económicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do G20 do Brasil, embaixador Maurício Lirio, respondeu com um pronto “não” ao ser questionado pelos jornalistas sobre o contágio das declarações do Presidente brasileiro.

O Governo brasileiro reforçou ainda a defesa do direito ao território palestiniano perante o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, frisando que a ocupação israelita dos territórios “desde 1967, em violação ao direito internacional e a diversas resoluções da ONU, não pode ser aceite ou normalizada pela comunidade internacional”.

“Israel deve colocar um fim à ocupação da Palestina”, sublinhou o Governo brasileiro.

Estas tensões diplomáticas acontecem numa altura em que chegam ao Brasil os máximos responsáveis diplomáticos das 20 maiores economias do mundo, mais da União Africana e da União Europeia, autoridades dos países convidados da presidência brasileira, como o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, e representantes de doze organizações internacionais.

A tónica da reunião será precisamente a de resolver “questões urgentes” como os conflitos internacionais e reformas das instituições de governança global. “Entre os temas mais urgentes a serem discutidos estão a situação no Médio Oriente e a ofensiva russa na Ucrânia, que continuam a gerar preocupações globais em relação à crise humanitária instalada e aos desdobramentos geopolíticos e económicos dos conflitos”, frisou a diplomacia brasileira, antes das declarações de Lula da Silva sobre Israel terem sido proferidas.

Para além disso, contrariando os líderes ocidentais que se apressaram a acusar o Kremlin, depois da morte, na semana passada, do opositor russo Alexei Navalny, a diplomacia brasileira não teceu qualquer nota de pesar e, no domingo, em Adis Abeba, Lula da Silva afirmou que “se a morte está sob suspeita, você tem que primeiro fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu”.

Dentre os principais nomes confirmados estão o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que se encontra em Brasília e que se reunirá na quarta-feira de manhã com Lula da Silva, e o chanceler russo, Sergei Lavrov. Os Estados Unidos manifestaram entretanto a sua discordância com as declarações feitas no domingo pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, que comparou a intervenção militar israelita em Gaza ao Holocausto.

A discordância norte-americana coincide com a presença do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, no Brasil, para uma reunião do G20, no âmbito de uma deslocação pela América do Sul. “É claro que não concordamos com essas declarações. Temos sido muito claros ao afirmar que não acreditamos que esteja a ser cometido um genocídio em Gaza”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, aos jornalistas.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, estará presente no evento, que conta também com a presença, como convidados, dos chefe da diplomacia de Portugal, João Gomes Cravinho, do secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, sendo que Angola se fará representar pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, disse à Lusa fonte da diplomacia angolana.

As prioridades da presidência brasileira para o seu mandato à frente do G20 são o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global, nomeadamente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo que tem vindo a ser defendido por Lula da Silva desde que tomou posse como Presidente do Brasil, denunciando o défice de representatividade e legitimidade das principais organizações internacionais.

O Brasil, que exerce a presidência do G20 desde o primeiro dia de dezembro de 2023, convidou Portugal, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observadores da organização.

Portugal estará presente, ao longo do mandato do Brasil, em mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho, em nível técnico e ministerial, em cinco regiões brasileiras, culminando com a Cimeira de chefes de Estado e de Governo, que será realizada no Rio de Janeiro, em 18 e 19 de novembro de 2024.

(Notícia atualizada pela última vez às 20h27)

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