Exclusivo Novobanco sem interessados para terrenos que eram de Luís Filipe Vieira

Banco quer vender 11 terrenos até ao final de 2024 e está a auscultar informalmente potenciais interessados. Mas a falta de licenciamento, alvarás caducados e solos contaminados afastam investidores.

O Novobanco quer vender até ao final deste ano por cerca de 110 milhões os onze terrenos que eram propriedade das empresas do antigo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. Fontes do mercado contaram ao ECO que o banco já está informalmente a consultar potenciais investidores, mas com as atuais condições dos imóveis, dificilmente o negócio será fechado em 2024 por vários problemas. Esta não é, contudo, a primeira tentativa do banco para vender estes imóveis localizados, sobretudo, na região de Lisboa e no Algarve.

“Os terrenos ainda não estão no mercado e o Novobanco tem feito uma sondagem, diretamente, junto dos potenciais interessados, mas a recetividade dos investidores tem sido muito baixa”, diz ao ECO uma fonte conhecedora do processo.

Um dos problemas que está a afastar os investidores é a falta de projetos licenciados para construção nos terrenos. “Nenhum terreno tem licenciamento aprovado”. E, apesar de estarem em curso algumas conversas com as câmaras, onde se localizam os terrenos, e de ter sido feito algum trabalho para submeter projetos para aprovação de licenciamento, ainda está tudo “em fase embrionária”, diz a mesma fonte.

Além da falta de licenciamento, conta outra fonte ouvida pelo ECO, os alvarás de loteamento emitidos em alguns destes terrenos “já estarão caducados”.

Além disso, em alguns destes terrenos funcionavam antigas instalações fabris e os solos não foram descontaminados sendo desconhecido que resíduos se encontram nos mesmos. É o caso, por exemplo, do ativo mais valioso deste leque, localizado no Parque Oriente, em Santa Iria da Azoia, na zona da Expo, ao lado do terreno onde, em 2023, foi construído o palco para a visita do Papa.

Por tudo isto, os 110 milhões que estão a ser pedidos pelo Novobanco são um valor “elevado” para os investidores que, depois de terem sido consultados pelo banco, estão longe de terem ficado tentados com o negócio.

“Os terrenos, tal como estão, não são atrativos, não são localizações prime e nenhum tem licenciamento”, remata ainda ao ECO a fonte conhecedora do processo.

O presidente do Conselho de Administração da Promovalor, Luís Filipe Vieira, falou perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novobanco e imputadas ao Fundo de Resolução, na Assembleia da República, em Lisboa.António Cotrim/Lusa 10 maio, 2021

Enquanto decorre esta operação, o banco liderado por Mark Bourke já pediu autorização ao Fundo de Resolução (FdR) para aprovar o Processo Especial de Revitalização (PER) das empresas de Vieira incluídas no fundo de investimento alternativo especializado (FIAE), que estão em risco de falência, escreveu o Correio da Manhã. A entrada das empresas de Luís Filipe Vieira em PER vai permitir ao Novobanco, que detém 96% do FIAE, receber os terrenos em dação em pagamento de parte da dívida e possibilita que sejam vendidos.

Por isso, só depois de aprovado o PER destas empresas de Vieira os terrenos podem entrar no mercado, o que não deverá acontecer antes do verão. Além disso, o valor pedido pelos terrenos será condicionado pelos problemas apontados pelos investidores, como a falta de licenciamento, sabe o ECO.

O banco acabou por ficar com as unidades de participação do FIAE gerido pela C2 Capital Partners (atualmente Gaw Capital) no âmbito de uma reestruturação de dívida valor de cerca de 220 milhões de euros realizada entre 2016 e 2017, e que envolveu a entrega de ativos imobiliários em Portugal, Espanha, Brasil e Moçambique por parte de Vieira. A operação foi duramente criticada pelo Banco de Portugal.

Com as verbas arrecadadas com a venda dos terrenos ficará paga parte da dívida do grupo de Vieira, o Promovalor, ao Novobanco, que em 2017 ascendia a cerca de 400 milhões de euros (incluindo os chamados VMOC no valor de 160 milhões da Promovalor e da Inland).

Entre as antigas proprietárias dos onze terrenos estão empresas como a Muscateinvest Portugal, a Imocachão, a Quinta dos Fidalgos, a Overbrick ou a Royal Iberia e do leque dos onze terrenos, há seis que em 2021 tinham um valor comercial de 70 milhões:

  • Parque Oriente (Overbrick): terreno com 383 mil metros quadrados, localizado em Santa Iria da Azoia (Loures), que previa a construção de 248 moradias, 574 apartamentos e zona de comércio, em 2021 tinha alvará de loteamento emitido;
  • Portas Santa Luzia (Royal Iberia): Terreno com 98 mil metros quadrados, localizado em Tavira, que prevê a construção de 17 moradias, 456 apartamentos, 9 espaços comerciais e 2 lotes destinados a estacionamento, em 2021 tinha alvará de loteamento emitido;
  • Quinta do Cochão (Imocochão): Terreno com 191 mil metros quadrados, localizado em Vila Franca de Xira, que prevê a construção de 99 moradias, 481 apartamentos e zona de comércio, em 2021 tinha alvará de loteamento emitido;
  • Quinta dos Fidalgos (Quinta dos Fidalgos): Terreno com 183 mil metros quadrados, localização em Vila Franca de Xira, que prevê a construção de 198 moradias e zona de comércio, em 2021 estava em fase de licenciamento;
  • Páteos da Luz: Terreno rústico com 77 mil metros quadrados, localizado em Tavira, que se encontra disponível para venda sem projeto;
  • Sesmarias: Terreno rústico com 128 mil metros quadrados, localizado em Tavira, que se encontra disponível para venda sem projeto;
  • Também foram integrados estes ativos no FIAE: Urbanização Lagar, Urbanização Azur Vila, Brancanes, Frações Nisa, Terreno Agrícola Samora Correia, Terreno Rústico Monte Gordo, Urbanização Lagar 44+Azur Villa 84.

Além destes onze terrenos, o Novobanco também está com dificuldades em vender os ativos da carteira Eleanor que entraram no mercado em 2023. A meta do banco era vender os cinco terrenos incluídos neste portfólio até ao final de 2023, mas também por problemas com o licenciamento e de arquitetura só vendeu dois ativos e os investidores interessados nos outros três terrenos – dois em Lisboa (Amoreiras e no Parque das Nações) e um em Benagil – decidiram aguardar pela aprovação dos projetos pelas autarquias, não fechando o negócio. Estes três processos estão, para já, suspensos, sabe ainda o ECO.

Desta forma, dos 365 milhões pedidos pelo banco pela carteira Eleanor, só ainda foram arrecadados cerca de 70 milhões.

O ECO questionou o Novobanco sobre os detalhes da venda dos terrenos que eram das empresas de Luís Filipe Vieira mas até à hora de publicação deste texto não teve qualquer resposta.

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