Caixa alcança lucro recorde de 1.291 milhões em 2023

Banco público viu o lucro disparar 50% no ano passado, beneficiando da escalada das taxas de juro. Incerteza leva a reforço de provisões em 200 milhões. Carteiras de crédito e depósitos encolheram.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou lucros recorde de 1.291 milhões de euros no ano passado, o que representa uma subida de 53% em comparação com 2022. E acabou de anunciar uma subida do dividendo: vai entregar 525 milhões de euros ao Estado.

Com este resultado, o banco público conseguiu anular as perdas que registou na última década. Perdas que levaram a um resgate de 4,9 mil milhões de euros do Estado em 2017. O cenário inverteu-se e a Caixa chega agora com uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) superior a 20%.

Como a generalidade do setor, também o banco do Estado beneficiou da escalada das taxas de juro nos últimos dois anos. A margem financeira – que corresponde à diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos – duplicou para 2,85 mil milhões de euros. As comissões deslizaram quase 7% para 565 milhões de euros. O banco não atualizou o preçário no ano passado e também não irá mexer nas comissões este ano, assegurou Paulo Macedo.

Assim, fechou 2023 com um produto bancário de 3,6 mil milhões de euros, mais 55,6% face a 2022. “Estamos satisfeitos com os resultados”, disse na apresentação dos resultados anuais que este ano foram divulgados mais tarde, depois das eleições do passado fim de semana.

Ainda assim, alertou para a inversão da tendência: “A Caixa terá menores resultados e menores margens, isso acontecerá mais no segundo semestre. A tendência é essa. Mas a Caixa tem outras fontes de receitas e tem um conjunto de buffers significativos e permitem estar otimistas sobre os resultados nesta conjuntura decrescente no futuro”.

Caixa põe 200 milhões de lado face à incerteza

O banco deu conta ainda de um aumento significativo das provisões e imparidades, na ordem dos 668 milhões de euros. “Esta evolução tem subjacente a continuidade da postura prudente e preventiva da Caixa na cobertura de eventuais riscos colocados pela atual conjuntura económica”, explicou a instituição no comunicado enviado ao mercado.

Porém, há fatores extraordinários a explicar este aumento (reforço da provisão para o programa de reestruturação e vendas de carteiras de ativos, por exemplo). Sem estes efeitos não recorrentes, o crescimento das provisões e imparidades foi de 276 milhões de euros, dos quais 206 milhões dizem respeito a riscos de crédito “com o objetivo de fazer face à incerteza económica”.

Paula Geada, administradora financeira, revelou que “não se está a assistir a um aumento do incumprimento” da parte dos clientes. O rácio de crédito malparado está em mínimos. A Caixa disse ter renegociado quase 40 mil créditos da casa no ano passado para aliviar o impacto da subida das taxas nas famílias.

Sobre o reforço das provisões para o programa de reestruturação, Paulo Macedo explicou que se prende com as estimativas para as saídas de trabalhadores com pré-reforma: “Pode haver uma pré-reforma aos 55 anos. Se a Caixa aceitar, tem de pagar esses anos todos até à reforma. A provisão é atualizada face aos custos potenciais com estas saídas”.

Crédito e depósitos em queda

Apesar dos lucros históricos, há notícias menos positivas e que estão relacionadas com o atual ambiente de taxas de juro elevadas. O volume de negócios da Caixa contraiu o ano passado.

A carteira de crédito em Portugal encolheu 0,4% para 45,4 mil milhões de euros, com o segmento da habitação a recuar 1,7% para 24,6 mil milhões. A escalada dos juros refreou a procura por crédito e levou as famílias a amortizaram o empréstimo mais cedo.

No que diz respeito aos depósitos em Portugal, registou uma quebra de 3,2% para 70 mil milhões de euros, uma evolução que se explica essencialmente com a fuga para os Certificados de Aforro e com o reembolso antecipado do crédito da casa.

(Notícia atualizada às 18h49)

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