Estalou o verniz entre Drahi e os credores. O que se passa na Altice France?

Subsidiária francesa da Altice tem uma meta de redução da alavancagem mais ambiciosa e não exclui forçar os credores a aceitarem um perdão de dívida para a alcançar.

Patrick Drahi, dono da Altice, quer que os credores participem na redução do endividamento da subsidiária em FrançaHenrique Casinhas/ECO

O dono da Altice e os credores da Altice France entraram esta semana “em rota de colisão”. O braço de ferro instalou-se depois de a empresa de Patrick Drahi ter suscitado a hipótese de um perdão de dívida para permitir que a dona da operadora SFR em França atinja um rácio de alavancagem mais baixo do que o anteriormente proposto, explica esta sexta-feira o Financial Times.

A Altice France apresentou resultados anuais na quarta-feira, uma semana depois de ter anunciado a venda dos ativos de media no país por 1,55 mil milhões de euros. A ocasião serviu para a Altice France definir também uma meta mais ambiciosa de redução do endividamento, de um rácio dívida/EBITDA de 5x para “bem abaixo de 4x” (terminou 2023 nos 6,4x).

Mas a forma de lá chegar surpreendeu os investidores, como escreveu o ECO esta semana. Numa chamada telefónica com os obrigacionistas na quarta-feira, Dennis Okhuijsen, um dos executivos mais antigos da empresa, deixou claro que a Altice conta com a “participação dos credores” para que essa meta seja atingida.

Um dos presentes na chamada perguntou, de seguida, se estava posta de parte a possibilidade de a Altice vir a forçar os credores a participarem nesse perdão de dívida. Citado pelo Financial Times, Okhuijsen respondeu: “Penso que não podemos excluir nada.” E salientou que, “se fizermos as contas”, parte da redução do endividamento vai ter de ser assumida pelos investidores.

Se o caldo não estava já entornado, o cenário piorou para os credores quando a gestão da Altice insinuou que o produto da venda da Altice Media pode não ser usado para abater a avultada dívida da empresa, escreve o jornal britânico. No final de 2023, a dívida líquida da Altice France aproximava-se dos 25 mil milhões de euros, montante que exclui a dívida da Altice International e da Altice USA.

Segundo o FT, durante a chamada, as obrigações unsecured da Altice France afundaram mais de 20 pontos percentuais e negociaram por menos de metade do seu valor nominal. Um sinal claro do nervosismo provocado nos investidores que lhe emprestaram dinheiro, ainda que, ao jornal, alguns especulem que a gestão da Altice quis baixar o preço das obrigações propositadamente, para tentar impor haircuts mais elevados.

Acontece que, como noticiou a Bloomberg na quinta-feira, e escreveu também o ECO, alguns credores da Altice France, detentores de cerca de 1,5 mil milhões de euros em obrigações da empresa, incluindo os fundos Attestor Capital e Arini, já estavam a preparar-se, mesmo antes desse incidente, para iniciarem conversações com Drahi em torno de um novo plano de dívida. Para tal, contrataram o banco de investimento Houlihan Lokey e a sociedade de advogados Milbank.

Drahi tem estado sob pressão para vender ativos e reduzir o passivo das subsidiárias do grupo. No mercado português, está em curso a venda dos ativos da Altice Portugal, num processo que, segundo a imprensa internacional, é liderado pela Saudi Telecom, com o grupo Iliad igualmente entre os interessados. A Altice International, holding que detém a Altice Portugal, fechou 2023 com uma dívida líquida de quase 8,8 mil milhões de euros.

Sob Drahi paira ainda o processo que em Portugal ficou conhecido por Operação Picoas, depois de, no verão passado, as autoridades terem feito buscas na sede da Altice Portugal e detido pessoas próximas da empresa, incluindo o antigo parceiro de negócios de Drahi, Armando Pereira. Entretanto, este mês, soube-se que foi iniciada uma investigação também em França.

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