“Período de acrescida instabilidade global obriga a manter disciplina financeira”, diz CFO da Galp

  • ECO
  • 21 Maio 2024

Maria João Carioca, chief financial officer da Galp, garante que a empresa vai manter os planos de investimento previstos, apesar dos juros mais elevados.

Maria João Carioca, CFO da Galp.

Maria João Carioca, administradora financeira da Galp, é uma das nomeadas para o CFO Award da 36.ª edição dos Investor Relations and Governance Awards, uma iniciativa da consultora Deloitte. Em resposta por escrito a questões do ECO, salienta que perante o “período de acrescida instabilidade global é imperativo manter cautela e elevada disciplina financeira”.

Apesar do desafio colocado pelas taxas de juro mais elevadas, Maria João Carioca garante que a Galp irá manter os planos de desenvolvimento previstos. A empresa está atenta às potencialidades da inteligência artificial, tendo estabelecido um Laboratório de Transformação focado em iniciativas transversais.

A persistência de taxas de juro mais elevadas por mais tempo é o principal desafio que os CFO irão enfrentar este ano? Que outros destacaria?

A persistência de taxas de juro elevadas é, sem dúvida, um desafio significativo que requer uma gestão financeira disciplinada e estratégias proativas de mitigação de risco. Estes desafios têm reflexo não só relativamente à gestão da dívida atual, mas também ao nível de investimentos futuros, impactados pelo aumento dos custos de financiamento e pelo potencial menor “apetite” de investidores, mais cautelosos nestes períodos de incerteza.

Outro desafio que destacaria atualmente, e sobretudo no setor energético, relaciona-se com a robustez e disciplina financeira exigida para endereçar a elevada volatilidade dos preços de energia e em simultâneo os avultados investimentos associados à transição energética. Neste aspeto é hoje essencial analisar os desafios associados às diferentes evoluções regulatórias a nível internacional, das perspetivas de inovação tecnológica e das exigências de sustentabilidade que se aplicam cada vez mais numa lógica integrada e com perspetivas de longo prazo.

Como é que a empresa se adaptou a este contexto de taxas de juro mais altas? Os níveis de investimento tiveram de ser revistos? Foi necessário cortar custos?

O contexto que descreve exige uma disciplina financeira reforçada, de forma a garantir que mantemos a robustez do nosso balanço. Ainda assim, a nossa posição financeira robusta, com a dívida controlada, e a sua estrutura de capital reforçada com a geração de fluxos de caixa provenientes de investimentos realizados ao longo da última década em ativos altamente competitivos, permitem à empresa enfrentar o atual contexto económico mantendo os seus planos de desenvolvimento. Tal permitiu que, mesmo neste contexto prosseguir na nossa aposta em investimentos de larga escala e estratégicos para a Galp, como sejam os associados à transformação e descarbonização da nossa plataforma industrial em Sines, essencial para manter o fornecimento energético nacional.

Prevê um alívio nas condições financeiras ainda este ano?

As mensagens mais recentes provenientes dos bancos centrais, tanto Europeu como dos EUA, são de maneira geral mais positivas, apontando a um abrandamento inflação o que deverá ter consequência direta nas taxas de juro. Ainda assim, os choques macroeconómicos recentes relevam que atravessamos um período de acrescida instabilidade global, e é imperativo manter cautela e elevada disciplina financeira.

Que impacto é que os avanços na inteligência artificial poderão ter no negócio?

O impacto da Inteligência Artificial (IA) na indústria de energia é multifacetado, com potencial para automatizar a documentação de projetos, melhorar a precisão e eficiência da documentação de projetos, garantir conformidade e facilitar uma melhor gestão e colaboração de projetos. Existem inúmeras oportunidades relacionadas com a IA como melhorar a eficiência, automatizar tarefas repetitivas, diminuir o risco humano e libertar capacidade de recursos para concentração em tarefas de maior valor. No caso da Galp, destaco o desenvolvimento e estabelecimento de um Laboratório de Transformação focado em iniciativas transversais para a empresa, alinhando-as com os nossos objetivos estratégicos.

Como é que os temas do ESG estão a mudar o papel dos CFO e vão fazê-lo no futuro?

Temas relacionados com a sustentabilidade corporativa são cada vez mais presentes no dia-a-dia de gestão de uma empresa, levando a que o papel de um CFO esteja a evoluir naturalmente com essa incorporação. É hoje exigida uma abordagem estratégica empresarial que incorpore a gestão dos seus negócios em várias componentes, englobando os seus reflexos de materialidade financeira e não financeira, e que assegure modelos de governo corporativo eficazes para garantir um acompanhamento adequado dos riscos e oportunidade associados. Ao abordar as questões ESG de maneira proativa, um CFO deve procurar não apenas mitigar riscos ou acompanhar as exigências regulamentares de reporte e de transparência em geral por parte da sociedade, mas também identificar vetores de criação de valor e crescimento, fortalecendo a posição da empresa no mercado global. A título de exemplo, um compromisso forte em termos de aspetos que possam ser importantes do ponto de vista ESG pode ampliar oportunidades de parcerias ou melhorar o acesso a capital e condições de financiamento.

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