Um “operacional” perito em “organização”, quem é o novo diretor executivo do SNS?

Campos Fernandes realça "perfil operacional, menos técnico e político" de Gandra d’Almeida, já Nuno Rodrigues destaca "organização e planeamento". Mas avisam que é preciso clarificar competências.

A nomeação de António Gandra d’Almeida apanhou (quase) todos de surpresa, não só pela escolha ter sido guardada em segredo, mas também por ser um rosto pouco conhecido do público em geral. Ao ECO, personalidades ligadas ao setor destacam o perfil “operacional” e de “organização e planeamento” do tenente-coronel médico, bem como a sua experiência ligada a “questões de emergência”, que será “fundamental” para garantir o funcionamento da “rede de urgências no verão”. No entanto, sublinham que é preciso clarificar as competências do próprio diretor executivo, à luz da intenção do Governo de reformular a Direção Executiva do SNS.

“É uma boa surpresa e uma escolha fora da caixa”, afirma Adalberto Campos Fernandes, em declarações ao ECO, notando que o Governo optou “por um perfil operacional, menos técnico e político”. O antigo ministro da Saúde realça ainda que, com a “experiência” do almirante Gouveia e Melo no comando da task force contra a Covid, ficou plasmada na sociedade a ideia de que “os militares são bons organizadores e disciplinados”, o que poderá jogar a favor do novo CEO do SNS.

Licenciado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, o tenente-coronel médico, de 44 anos, ocupa o cargo de comandante do agrupamento sanitário e “desempenha atividade assistencial hospitalar e pré-hospitalar”. Segundo o comunicado do Ministério da Saúde, Gandra de Almeida tem uma vasta experiência em emergência médica e nas Forças Armadas, tendo acumulado funções de chefia e de coordenação.

Estas competências são, aliás, destacadas pelos especialistas ouvidos pelo ECO. “Pelo perfil, e sendo militar, cremos que terá competências na parte de organização e planeamento”, tendo em vista à “resolução de problemas”, indica Nuno Rodrigues, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM). “Pode ser uma boa escolha um militar habituado à questão da organização“, corrobora o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, sublinhando que Gandra d’Almeida tem estado “muito envolvido na questão da emergência em Portugal”, tendo, sido, nomeadamente, até janeiro deste ano, diretor da delegação regional Norte do INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica. É “um homem do terreno”, sinaliza.

Com esta nomeação, “a direção executiva pode ter um pendor mais operacional e menos estratégico”, antevê Campos Fernandes. No entanto, as personalidades ouvidas pelo ECO reiteram que é preciso clarificar as competências do próprio diretor executivo e até da própria direção executiva, à luz da intenção do Governo de reformular o organismo.

Tal como o ECO tinha noticiado, poderá existir um regresso ao Ministério da Saúde de “competências mais estruturantes”, como é o caso da nomeação de chefias e da avaliação dos planos de desenvolvimento organizacional (anteriormente conhecidos por planos de atividades e orçamento) das Unidades Locais de Saúde (ULS).

“Para além da pessoa há dados importantes” que têm de ser esclarecidos, como a “definição das competências, dado que ainda não são claras as funções e competências” que vão resultar da reformulação da direção executiva, bem como a “visão estratégica” que o novo diretor executivo “quer imprimir ao SNS”, sublinha o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), ao ECO. Por isso, e até porque não conhece Gandra d’Almeida, Xavier Barreto prefere não emitir “nenhum juízo”.

Também no âmbito desta reformulação, Nuno Rodrigues alerta que é importante clarificar a articulação entre entidades, de modo a prevenir eventuais conflitos ou até a “sobreposição” de competências, que resultaram da reforma do SNS, com a criação da direção executiva e a extinção das Administrações Regionais de Saúde.

O que pretendemos é que deixe de haver vários SNS e passe a haver só um SNS. Tanto para os médicos como para os cidadãos é muito diferente estar-se em Bragança, Leiria ou no Algarve”, afirma o secretário-geral do SNS, apelando a uma “harmonização” e a que se torne “o SNS mais competitivo e eficiente”.

Mas, ressalva, que para o efeito é preciso mais recursos humanos, que o Ministério da Saúde faça o seu papel ao proporcionar “concursos mais céleres” e que seja de facto feita a avaliação de desempenho dos médicos para que estes possam progredir na carreira.

Os especialistas ouvidos pelo ECO são unânimes em considerar que entre os principais desafios que o novo diretor do SNS terá a curto prazo “será garantir o funcionamento da rede de urgências no verão”, bem como “contribuir” para o cumprimento do plano de emergência para o SNS (que será apresentado até dia 2 de junho), sendo que ambos estão a cargo do grupo de trabalho liderado por Eurico Castro Alves.

Já a “longo prazo é garantir que reforma do SNS continua a ser implementada, que conseguimos continuar a integrar os cuidados e a reter profissionais no SNS“, resume o presidente da associação que representa os administradores hospitalares, indicando que “há vários temas estruturantes para o futuro” e “todos muito relacionados com a reforma” em curso, nomeadamente da ULS e que o Executivo também quer rever.

Já Campos Fernandes acrescenta que os desafios serão os mesmos que os do anterior diretor executivo: fazer face à “escassez de recursos” humanos, nomeadamente de médicos, “devido, sobretudo, às aposentações e saídas que desequilibram a balança” da oferta. Ainda assim, Gandra d’Almeida “como militar está habituado a lidar com situações de escassez e situações adversas”, por isso, “tem um sentido de organização mais apurado“, remata.

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