Sustentabilidade já cria desconfiança e pede nova regulação
Os consumidores estão atentos às declarações de sustentabilidade das marcas e começam a questioná-las, assinala a Deco Proteste. Nova regulação será determinante para assegurar rigor.
Todos os dias, os consumidores se deparam com múltiplas “promessas” de sustentabilidade, associadas aos produtos e serviços que consomem. Neste dia 25 de setembro, dia nacional da Sustentabilidade, a Deco Proteste indica que este tipo de declarações está a gerar desconfiança do lado dos consumidores, e defende que apenas com regulação específica se pode colmatar o problema do greenwashing — isto é, quando um produto tenta passar por sustentável quando não o é realmente.
Um estudo recente de uma congénere espanhola da Deco Proteste mostra que cerca de 43% dos consumidores não acredita, ou pelo menos desconfia, das alegações ambientais dos produtos. Em Portugal, a Deco Proteste já regista “contactos de consumidores a questionar alguns rótulos”, indica a responsável pela área de Sustentabilidade desta organização de defesa do consumidor, Elsa Agante.
De momento, existem já mais de 450 rótulos “ecológicos” a nível mundial, o que aumenta a descrença, assume a Deco Proteste. Entre os rótulos mais confiáveis, a organização de defesa do consumidor portuguesa aponta aqueles que são certificados com o EU Ecolabel, o FairTrade e o Forest Stewardship Council.
"O que falha, muitas vezes, é a transparência das alegações.”
Em paralelo, existem as afirmações ambientais “autodeclaradas”, feitas por fabricantes, importadores ou distribuidores, sem certificação independente e que “nem sempre são exatos e verificáveis”. “Eco”, “renovável”, “biodegradável”, “feito de conteúdo reciclável”, “livre de”, são algumas das declarações deste tipo que muitas vezes se encontram nas embalagens. “O que falha, muitas vezes, é a transparência das alegações”, isto é, a clarificação dos benefícios ambientais anunciados, acusa Elsa Agante.
Tanto esta organização de defesa do consumidor como as homólogas a nível europeu estão a trabalhar no sentido de identificar e denunciar situações de greenwashing, indica Agante. “Ao nível das alegações ambientais, contactámos diretamente várias marcas para a possibilidade de as alegações serem consideradas como greenwashing, levando a que as mesmas se comprometessem a retirar as alegações em causa”, afirma.
Posto este cenário de desconfiança, “consideramos que apenas com legislação específica poderá haver uma maior proteção do consumidor”, conclui a responsável pela área de Sustentabilidade da Deco Proteste. Uma nova diretiva europeia, conhecida pela diretiva das Green Claims, prevê que todas as alegações tenham de ser verificáveis do ponto de vista científico, e que sejam certificadas por entidades independentes. “Uma mais-valia para tornar as alegações e rótulos ecológicos mais fiáveis”, considera a mesma organização.
Enquanto a nova legislação não é aplicada — o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu deverão discuti-la até ao final de 2024 –, os consumidores podem apenas tentar verificar as alegações ambientais dos produtos recorrendo à respetiva ficha técnica, e manter-se atentos, questionando “alegações vagas ou pouco precisas”.
Preço trava compras sustentáveis
Um outro estudo a nível europeu, levado a cabo pela Deco Proteste e respetivas congéneres, deteta que no ato de compra, 48% dos consumidores preferem comprar um produto com um rótulo ambiental. Em Portugal, a fatia ascende aos 60%. No entanto, quando a questão é o preço, as percentagens são menos expressivas: apenas cerca 40% dos consumidores na Europa estão disponíveis para pagar mais por “produtos sustentáveis” e, no caso dos portugueses, a percentagem não passa os 45%.
"Muitas são as pessoas que defendem comportamentos mais sustentáveis, mas ainda são poucas aquelas que os praticam.”
“Muitas são as pessoas que defendem comportamentos mais sustentáveis, mas ainda são poucas aquelas que os praticam”, reconhece Elsa Agante, ao mesmo tempo que assinala que “o preço continua a ser o fator mais determinante”.
Por outro lado, a Deco Proteste relembra que “os produtos mais sustentáveis não são necessariamente mais caros”, e que as marcas devem melhorar os seus produtos para os tornar mais sustentáveis mas, ao mesmo tempo, “necessariamente acessíveis a todos os consumidores”.
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