Exclusivo Espanhola Genia Bionenergy planeia investir 150 milhões no biometano em Portugal

O primeiro projeto da empresa espanhola, em Leiria, deverá estar pronto para arrancar no final do próximo ano. Os restantes quatro projetos que estão na calha devem sair do papel até 2030.

A empresa espanhola Genia Bioenergy, que já havia anunciado um projeto para a construção de uma central de biometano em Leiria, quer alargar a atividade em Portugal. O plano é investir 150 milhões de euros, que se traduzem em cinco projetos de biometano de norte a sul do país, até 2030.

“Temos o objetivo de avançar com o mínimo de cinco projetos entre hoje e 2030, e de investir 150 milhões de euros em Portugal nos próximos anos”, anunciou o CEO da Genia Bioenergy, Gabriel Butler, em declarações ao ECO/Capital Verde.

Para já, estão a ser feitos contactos com “atores locais” e empresas que possam ter interesse em juntar-se à Genia Bioenergy, beneficiando do negócio — ou como clientes, que comprem o biometano, ou como produtores dos resíduos que são usados para o fabrico deste gás renovável. “Estamos a trabalhar desde o norte de Portugal até à zona de Lisboa, e um pouco abaixo de Lisboa, onde exista indústria agroalimentar que produza resíduos que se possam valorizar”, partilha Butler.

O objetivo desta energética é injetar o gás renovável produzido na rede nacional de gás, embora esteja também em conversações diretamente com empresas “de todo o país” que possam estar interessadas em adquirir diretamente o biometano. Pode ainda servir para a produção de biocombustível para veículos.

O preço a que o biometano será vendido é ainda difícil de prever, assume o líder da Genia Energy, mas arrisca dizer que está garantida a “competitividade”. O biometano, sendo um gás renovável, deverá aliviar o custo que as licenças de emissões de dióxido de carbono representam para as empresas — as poupanças nesta frente podem ajudar a pagar este gás, antevê.

"Estamos a trabalhar desde o norte de Portugal até à zona de Lisboa, e um pouco abaixo de Lisboa, onde exista indústria agroalimentar que produza resíduos que se possam valorizar.”

Gabriel Butler

CEO da Genia Global Energy

Nas estimativas da empresa, o conjunto dos cinco projetos permitirá a criação de 75 empregos diretos e mais 175 empregos indiretos, “em localizações rurais, onde fazem falta empregos para fixar a população”, salienta o responsável. Já foi criada a Genia Bioenergy Portugal, que irá gerir os investimentos previstos no país.

A Genia Global Energy foi fundada em 2012, por cinco sócios, entre eles o atual CEO, Gabriel Butler. Desde então tem desenvolvido projetos em vários países, como Espanha, Ucrânia, Inglaterra, Países Baixos, República Dominicana, Palestina e Honduras. A empresa divide-se em três áreas: solar, eficiência energética e bioenergia, sendo que esta última se move por debaixo da insígnia Genia Bioenergy.

A empresa está presente desde o desenho do projeto até à sua construção e, desde que a Repsol comprou uma participação de 40%, a energética ganhou a capacidade de investir nos seus próprios projetos, que se propõe agora a gerir por um período de 30 anos, em vez de os entregar a outros investidores. Foi desde a entrada da Repsol na empresa que se desenhou um novo programa de investimentos em Espanha e em Portugal. Butler indica que, até ao momento, a empresa não participou dos concursos de gases renováveis

Central em Leiria no final de 2025

Entre os cinco projetos para Portugal inclui-se a já anunciada — e mais avançada — central de biometano em Leiria, à qual corresponde um investimento de 30 milhões de euros. “Vamos construir esta primeira central, demonstrar que funciona e que tem valor acrescentado, e continuaremos a fazer novos projetos para ajudar a essa transformação, que faz falta”, pontuou o gestor.

Esperamos ter as licenças necessárias e iniciar a construção no terceiro ou quarto trimestre no próximo ano“, avançou ainda Gabriel Butler. Do lado da Genia Bioenergy já está o direito de ligação à rede de gás, de forma a nela poder injetar o biometano, e estão também concluídos os estudos de viabilidade. O projeto já tem inclusivamente o selo PIN – Potencial Interesse Nacional, um rótulo que permite uma tramitação mais célere de procedimentos administrativos. De momento, a empresa está na fase final do processo de engenharia de construção e a desenvolver os estudos ambientais.

"Esperamos ter as licenças necessárias e iniciar a construção no terceiro ou quarto trimestre no próximo ano.”

Gabriel Butler

CEO Genia Global Energy

Para alimentar este projeto, já estão firmadas parcerias com a Ambilis, associação de recolha e tratamento de resíduos que agrega 180 suinicultores locais, e com empresas de avicultura. Estes foram envolvidos desde o início do projeto, para maximizar as sinergias.

O líder da Genia Global Energy enquadra que existem, de momento, 14.000 plantas de biogás na Europa, sendo que na Dinamarca todo o gás consumido é este, renovável, e em França estavam a ser construídas em média 10 centrais por semana, recentemente. “Em Espanha e Portugal não temos feito nada. Chegámos tarde a todo este desenvolvimento”, observa.

"Em Espanha e Portugal não temos feito nada. Chegámos tarde a todo este desenvolvimento [da indústria do biometano].”

Gabriel Butler

CEO da Genia Global Energy

Mas porquê apostar neste gás? Por um lado, há o argumento ambiental, explica o gestor. O biometano é produzido através de resíduos que já não têm qualquer outra utilidade, e que portanto costumam representar um problema — muitas vezes contaminam os campos, atmosfera e rios, se erradamente descartados. Cria-se, desta forma, um circuito de economia circular: os desperdícios passam a ingrediente para um gás renovável e ainda são gerados fertilizantes orgânicos no processo, que podem voltar à terra. Por outro lado, é uma questão de independência energética: “Portugal tem a capacidade de produzir o seu próprio gás”, argumenta Butler.

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