Caso BES/GES. “Estouraram com mais de 20 mil milhões! Isto é uma coisa extraordinária”, diz Fernando Ulrich

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  • 16:04

O chairman do BPI, Fernando Ulrich, foi ouvido esta terça no julgamento do BES. Chegou a defender publicamente que as autoridades deviam ter atuado mais cedo face aos problemas no GES.

Fernando Ulrich chegou perante o coletivo de juízes e a magistrada do Ministério Público – no âmbito do processo BES – e começou a criticar o julgamento. “Eu pedia-lhe que respondesse às perguntas. A relevância ou não há-de ser aferida pelo tribunal”, respondeu desde logo a juíza Helena Susano.

Da parte da tarde foi a vez de ser ouvido o presidente do conselho de administração do BPI (chairman), Fernando Ulrich. O banqueiro, então presidente executivo do BPI, chegou a defender publicamente que as autoridades deviam ter atuado mais cedo face aos problemas no GES. Ulrich visou, nomeadamente, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Banco de Portugal (BdP) e o Governo, acrescentando que essa ação deveria ter chegado ainda em 2012, a fim de tentar evitar o que viria a ser a ruína do grupo.

Fernando Ulrich, Presidente do BPI .Paula Nunes

Ulrich falou agora sobre os sucessivos aumentos de capital do BES, com a magistrada do MP a querer saber se, na perspetiva de Fernando Ulrich, os sucessivos aumentos de capital que o BES fez eram “sinal de vitalidade”. “Se considerarmos o início de 2013 e olharmos para o período entre 2000 e 2012 — esta era uma análise que costumávamos fazer. A questão da reputação dos bancos era uma grande prioridade e eu, na apresentação de resultados, apresentava sempre um slide em que o título era ‘os bancos não são todos iguais’ e um dos quadros era o montante dos aumentos de capital dos principais bancos e o montante dos dividendos distribuídos. E o que se vê é que a CGD, BCP e BES fizeram mais aumentos de capital do que pagaram dividendos”, respondeu.

“O que é que interessa o que me está a perguntar quando estouraram 18 mil milhões de euros?”, perguntou ainda o chairman do BPI. A magistrada continua a perguntar pelas relações de empréstimo do BPI à ESI, que é também arguida neste processo. Mas Fernando Ulrich volta a criticar Ministério Público: “Assim nunca vamos chegar a lado nenhum. Isto é de tal maneira monstruoso. O que é que interessa o que me está a perguntar [empréstimo de 100 milhões de euros] quando estouraram 18 mil milhões de euros? A resposta é sim, mas de que é que isso adianta?”, questionou. Dizendo ainda que “não sou eu que estou a ser julgado, nem o BPI. Essa pergunta serve para quê?”

O Ministério Público quis saber mais pormenores sobre as ligações entre o BPI e as empresas do GES mas Fernando Ulrich avisou logo que não ia responder a algumas questões: “Amanhã levo com um processo por violação do segredo bancário”.

A conversa que teve com o governador do Banco de Portugal em 2013 também foi falada pelo chairman, sublinhando que o que o “preocupava era as consequências que esta situação do GES pudessem vir a ter no BES e que isso gerasse um problema sistémico” e que pusesse todos “em perigo como veio a acontecer”. “Estouraram com mais de 20 mil milhões! Isto é uma coisa extraordinária”, defende.

Ricardo Salgado está acusado de 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014, incluindo associação criminosa, corrupção ativa no setor privado, burla qualificada, infidelidade, manipulação de mercado, branqueamento de capitais e falsificação. A queda do GES causou prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

Ninguém arrisca prever quando termina este julgamento, pois envolve 18 arguidos, sete empresas, 733 testemunhas, 135 assistentes e mais de 300 crimes. Um megaprocesso que já vai nos 215 volumes após uma acusação com mais de quatro mil páginas. Este que já é o maior processo judicial da história da justiça portuguesa juntou no processo principal 242 inquéritos, (que foram sendo apensados) e reuniu queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro.

Devido à vastidão de crimes, arguidos, assistentes, testemunhas, factos e documentos que integram este caso, o processo informático do BES tem oito terabytes de informação, correspondente a muitos milhares de ficheiros.

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