Morreu Pinto da Costa, histórico presidente do FC Porto
O antigo líder dos dragões, 87 anos, lutava contra um cancro na próstata, diagnosticado em 2021. Derrotado por André Villas-Boas nas últimas eleições, liderou o clube portista durante 42 anos.
Morreu Jorge Nuno Pinto da Costa. O ex-presidente do Futebol Clube do Porto, que a 28 de dezembro completou 87 anos, lutava contra um cancro na próstata. O clube azul e branco confirmou a morte na rede social X com uma mensagem em que diz apenas: “Uma inspiração eterna. Um legado Imortal. Até sempre, Presidente dos Presidentes”.
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No site oficial, o clube afirmou que “está de luto pelo desaparecimento da maior figura da sua história“. Sublinhou que Jorge Nuno Pinto da Costa morreu este sábado com 87 anos de idade e 71 de associado, após mais de seis décadas nos órgãos sociais e de 42 anos na liderança da instituição que elevou como ninguém. Para trás deixa um legado único que orgulha toda a nação azul e branca.
Recordou ainda que os portistas festejaram 2.591 conquistas nos 15.356 dias da presidência mais duradoura e titulada de sempre. “Nos 89 anos prévios à eleição de Jorge Nuno Pinto da Costa o Clube tinha vencido somente 16 troféus – sete títulos nacionais, quatro Campeonatos de Portugal, quatro Taças de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira -, três deles já com o lendário dirigente à frente do Departamento de Futebol”.
“De então para cá tudo mudou“, adiantou o clube do Dragão. “Jorge Nuno Pinto da Costa transformou os Andrades em Dragões e fez do FC Porto o Clube português com mais títulos oficiais ao erguer 23 campeonatos, 22 Supertaças, 15 Taças de Portugal, duas Taças Intercontinentais, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus e outra Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia e uma Taça da Liga”.
Os azuis e brancos recordaram ainda que em 1977, quando Jorge Nuno Pinto da Costa assumiu a liderança do Departamento de Futebol, o clube tinha 52 mil associados, 90% dos quais concentrados nos concelhos do Porto, de Gondomar, da Maia, de Matosinhos, de Valongo e de Vila Nova de Gaia. “Hoje em dia, esse número ultrapassa os 147 mil e expande-se pelos quatro cantos do planeta”.
Derrotado por André Villas-Boas nas últimas eleições no clube, liderou os azuis-e-brancos durante 42 anos e é considerado o dirigente mais titulado do futebol mundial: conquistou 23 campeonatos nacionais, 14 taças de Portugal, a Taça dos Campeões Europeus, a Liga dos Campeões, a Taça UEFA e a Liga Europa.
Segundo a CNN Portugal, o seu estado de saúde sofreu um agravamento nas últimas semanas, o que levou o antigo dirigente a resguardar-se o máximo possível em casa, junto da família.
A 10 de janeiro, na sua última intervenção pública, Pinto da Costa reagiu pela primeira vez à auditoria às contas do FC Porto quando era presidente. A auditoria forense detetou despesas em joalharias e relojoarias e em viagens privadas para destinos não relacionados com a atividade do clube, entre outras. O ex-presidente do clube afirmou que não cometeu quaisquer ilegalidades.
A auditoria feita pela consultora Deloitte aos últimos 10 anos de governação de Jorge Nuno Pinto da Costa a que o ECO teve acesso revela um cenário financeiro alarmante, que aponta para uma série de operações que terão lesado o FC Porto em cerca de 60 milhões de euros.
“Ao longo dos últimos meses tenho mantido o silêncio perante os ataques que me têm sido dirigidos procurando, assim, contribuir para a preservação do bom nome do FC Porto e para não suscitar qualquer foco de instabilidade que possa ser visto como causador de insucesso desportivo”, escreveu Pinto da Costa, em comunicado.
“Assisti no estádio aos primeiros jogos, tendo recebido inúmeras manifestações de carinho, mas que não foram bem entendidas por alguns. O silêncio deixa, assim, de ser uma opção, numa altura em que se torna por demais evidente o objetivo de denegrir o caráter, o trabalho e o legado de quem dedicou longos anos ao serviço do clube”, explicou.
“Grande apoios, mas também muitas divergências”, diz Marcelo
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, já reagiu na rede social. “Jorge Nuno Pinto da Costa foi uma personalidade única no dirigismo desportivo, tendo sido o mais titulado dos Presidentes de Clubes à escala mundial”, escreveu o governante. “Em meu nome pessoal e do Governo, expresso profundo pesar e solidariedade à sua família, aos seus amigos e ao FCPorto”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apresentou, numa nota publicada no site da presidência, as condolências à família de Jorge Nuno Pinto da Costa, ao Futebol Clube do Porto “e a muitos milhares de adeptos que o acompanharam ao longo de mais de quatro décadas de liderança do clube.
Mais tarde, muitas foram as vezes em que pôde testemunhar além dos sucessos consecutivos, uma personalidade, uma determinação e um estilo muito próprio, que suscitava grandes apoios, mas também muitas divergências.
“Fá-lo recordando que, no início dos anos 80, era, então, jovem membro do governo quando conheceu quem levaria o seu clube a inúmeras vitórias nacionais e internacionais“, notou o chefe de Estado.
“Mais tarde, muitas foram as vezes em que pôde testemunhar além dos sucessos consecutivos, uma personalidade, uma determinação e um estilo muito próprio, que suscitava grandes apoios, mas também muitas divergências“, adiantou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “neste momento em que o juízo a formular deve ser o mais possível distanciado, o que mais deve avultar é aquilo que o país fica a dever de prestígio externo num período inseparável da sua liderança”.
Adorado por muitos adeptos pelas conquistas do clube, Pinto da Costa usou sempre a polémica e a provocação como formas de comunicação. Crítico do poder centralizado no Sul do país, a sua imagem foi, no entanto abalada pelo processo Apito Dourado. O escândalo de corrupção do futebol português emergiu em 2004, com uma investigação que retrata casos que podem ter tido início quase três décadas antes.
As investigações acabariam por incriminar Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, e Valentim Loureiro, antigo presidente do Boavista Futebol Clube e da Liga Portuguesa de Futebol.
Nas instâncias desportivas, o Futebol Clube do Porto e o seu presidente foram condenados num processo na Comissão de Disciplina da LPFP e ilibados na instância superior (Comissão de Justiça da FPF) e nos tribunais civis, tal como o Boavista e o seu presidente João Loureiro.
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“Gravatas azuis” no funeral
Pinto da Costa tinha apresentado no final de outubro o último livro, “Azul até ao fim”, no qual partilhou várias memórias, e nos últimos tempos antecipou diversas vezes o momento da sua partida, fazendo mesmo questão de dizer quem queria e quem não queria no funeral.
Numa entrevista ao programa Alta Definição da SIC, em abril do ano passado, o dirigente desportivo disse quando morresse não queria luto através de gravatas pretas. “Quero as pessoas com gravatas azuis em homenagem ao Futebol Clube do Porto”, afirmou então.
(Notícia atualizada às 21h15)
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