Exportações ditam quebra da economia alemã na reta final do ano. PIB contrai-se 0,2%

Ligeira recuperação no consumo na reta final do ano face ao terceiro trimestre foi insuficiente para compensar a queda acentuada das exportações. Destatis confirma segundo ano de recessão.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha caiu 0,2% no quarto trimestre de 2024 face aos três meses anteriores, confirmou esta terça-feira o Destatis, o organismo de estatísticas alemão. A penalizar o desempenho da economia esteve principalmente a diminuição das exportações.

Os dados confirmam ainda que o PIB contraiu-se 0,2% na comparação homóloga, ajustada de calendário e sazonalidade, bem como na globalidade do ano. Concretiza-se assim o segundo ano consecutivo de recessão.

A ligeira recuperação no consumo na reta final do ano face ao terceiro trimestre foi insuficiente para compensar a queda acentuada das exportações, levando o PIB a cair face ao crescimento de 0,1% registado no terceiro trimestre. No quarto trimestre de 2024, as exportações de bens e serviços caíram 2,2% na comparação em cadeia, a quarta maior quebra desde o segundo trimestre de 2020.

“As exportações de bens, em particular, diminuíram substancialmente em 3,4% em comparação com o trimestre anterior. Em contraste, as importações de bens e serviços aumentaram 0,5%”, detalha o Destatis na publicação feita esta manhã.

A quebra da indústria alemã tem penalizado especialmente o desempenho da economia. Pela sétima vez consecutiva, a produção nesta área recuou 0,6%, refletindo reduções na construção de máquinas e equipamentos e na produção de automóveis. Paralelamente, a produção na construção também voltou a cair, reduzindo-se 0,9%.

Friedrich MerzLusa

Fora da indústria, o Valor Acrescentando Bruto (VAB) no setor de atividades financeiras e de seguros foi substancialmente menor do que no trimestre anterior (-2,1%). Ademais, o desempenho em serviços empresariais e outros serviços também caiu em comparação com o trimestre anterior (-0,3% cada). Em contrapartida, o VAB no comércio, transportes, alojamento e restauração subiu 0,5% e nos serviços públicos, educação e saúde 0,3%.

Paralelamente, registaram-se trajetórias distintas no que toca ao investimento. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em máquinas e equipamentos caiu 0,3% em relação ao trimestre anterior, marcando a quinta queda consecutiva. Por outro lado, na construção aumentou 1% face ao terceiro trimestre, “em parte devido às condições climáticas amenas”. No geral, o investimento subiu 0,4%. Já o consumo subiu 0,2%, resultado do crescimento de 0,4% do consumo público e de 0,1% das famílias.

A queda de 0,2% do PIB alemão coloca o país abaixo da média da União Europeia (UE) e da Zona Euro, que na comparação em cadeia avançaram 0,2% e 0,2%, respetivamente, e 1,1% e 0,9% na variação homóloga.

Os dados são conhecidos dois dias após as eleições no país, que elegeram Friedrich Merz como o próximo chanceler. O principal desafio reside no facto de a AfD e o Die Linke deterem um total combinado de 216 assentos – mais de um terço do Bundestag –, o que lhes confere a capacidade de vetar quaisquer alterações constitucionais. Para aumentar o teto da dívida — um passo crucial para financiar o reforço dos investimentos em Defesa e Infraestruturas — é necessária uma maioria de dois terços dos 630 deputados.

Se no Parlamento o xadrez político não se adivinha fácil, na política económica é preciso ganhar a aposta de uma estratégia que retire o país da recessão. Para isso, o líder da CDU defende a redução das prestações sociais, como do subsídio de desemprego, bem como da burocracia e do número de funcionários públicos. Simultaneamente, apoia cortes nos impostos sobre os rendimentos pessoais e das empresas, o que, a concretizar-se, baixaria as receitas do Estado para criar mais investimento.

No entanto, os analistas alertam para os riscos. “Da defesa à despesa com infraestruturas e à revitalização da potência económica da Europa, os desafios que o provável novo chanceler alemão, Friedrich Merz, enfrenta são enormes. Afirma que não trabalhará com o partido de direita AfD, que ficou em segundo lugar nas eleições deste fim de semana, o que tornará a formação de um governo de coligação particularmente difícil”, assinala Carsten Brzeski, economista do ING, numa nota de research divulgada esta terça-feira.

Ainda assim, Friedrich Merz terá iniciado negociações com o SPD para aprovar rapidamente até 200 mil milhões de euros em despesa para a defesa, avança esta terça-feira a Bloomberg. Segundo a agência noticiosa, em cima da mesa está a estratégia para contornar as restrições da Alemanha sobre empréstimos governamentais para libertar recursos para as a defesa.

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