Maioria dos cursos profissionais tem menos de 20 alunos por turma. Ex-ministro apela a requalificação

Maioria dos cursos profissionais tem menos alunos por turma do que o mínimo legal. Ao ECO, David Justino diz que há um estigma em torno destes cursos e que é preciso aumentar a sua qualidade.

A maioria dos cursos profissionais não cumpre o número mínimo de alunos por turma definido pelo Ministério da Educação, desperdiçando-se, assim, recursos, “especialmente professores”. O alerta é deixado pelo think tank EDULOG num novo estudo. E, em reação, o ex-ministro David Justino diz ao ECO que não tem dúvidas de que é preciso requalificar estes cursos.

Comecemos pelos números que permitem perceber o cenário. De acordo com o estudo divulgado esta terça-feira, cerca de 89% das turmas de cursos profissionais nas escolas públicas têm menos de 24 alunos, mínimo definido pelo Ministério da Educação. Em média, no ano letivo em curso, estas turmas têm 14 alunos, menos três do que há apenas uma década.

“Esta é a oferta de ensino de nível secundário que mais problemas enfrenta. Esta quebra de dimensão poderá estar relacionada com a diminuição da procura desta via de ensino na transição do nono para o décimo ano“, lê-se na análise que foi publicada esta manhã.

Em conversa com o ECO, David Justino, membro do conselho consultivo do EDULOG e ex-ministro da Educação, salienta que essa menor procura está ligada ao estigma que tem sido associado aos cursos profissionais. “Criou-se a imagem de que só vão para estes cursos os alunos mais fracos“, argumenta.

Na visão deste especialista, há que eliminar, portanto, este preconceito, apostando na exigência e qualidade destes cursos. “O ensino profissional não pode ser uma via facilitista de acesso ao ensino superior ou ao mercado de trabalho“, sublinha.

Mas o estigma não é o único problema. A própria empregabilidade destes cursos está a torná-los menos apetecíveis. “Há alguma displicência na forma como se abrem estes cursos sem ter garantida a sua viabilidade, quer em termos de alunos por turma, quer em termos de empregabilidade”, critica David Justino. “Estar a criar cursos cuja empregabilidade é reduzida de pouco vale“, insiste o mesmo.

Há alguma displicência na forma como se abrem estes cursos sem ter garantida a sua viabilidade, quer em termos de alunos por turma, quer em termos de empregabilidade.

David Justino

Membro do conselho consultivo do EDULOG

Aliás, questionado sobre os milhares de jovens que nem trabalham nem estudam, o ex-governante frisa que muitos vieram precisamente destes cursos profissionais e acabaram por perceber que as competências aí adquiridas não estão ajustadas ao mercado de trabalho.

Neste momento, Portugal tem cerca de 140 mil jovens que nem trabalham, nem estudam, sendo que a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, tem dito e repetido que é importante dar atenção a este número e encontrar formas de promover a empregabilidade dos mais jovens.

Já perante estes números, David Justino realça que é preciso requalificar os cursos profissionais. “Não tenho grandes dúvidas”, declara, sugerindo mudanças ao nível curricular e um maior investimento das escolas para tornar estes “cursos apetecíveis”.

Ganhos de eficiência

A resolução dos problemas do ensino profissional não cabe apenas às próprias escolas, entende David Justino. O Ministério do Trabalho tem de regular as turmas destes cursos, para que não persista o desperdício de recursos que hoje está a ser registado, declara.

“Não é só limitar os cursos. Não podemos ter escolas próximas a dar os mesmos cursos. Cada escola não pode ter os cursos todos. As escolas têm de se especializar e isso aumentará a qualidade“, defende o membro do conselho consultivo do EDULOG.

No estudo divulgado esta terça-feira, são detalhadas duas recomendações nesse sentido.

Não podemos ter escolas próximas a dar os mesmos cursos. Cada escola não pode ter os cursos todos. As escolas têm de se especializar e isso aumentará a qualidade.

David Justino

Membro do conselho consultivo do EDULOG

Por um lado, concentrar os módulos de formação geral e científica no 10.º e 11.º ano, “agregando turmas pequenas de mais do que um curso e libertando tempo para a formação técnica e para a aprendizagem em contexto de trabalho (real ou simulado) no 11.º e 12.º ano”. “Haveria ganhos de eficiência”, argumentam os autores.

Por outro lado, recomenda-se agregar vários cursos com poucos alunos no 10.º ano e investir na especialização só no 11.º e no 12.º ano. “A experiência desenvolvida em algumas escolas que adotaram os cursos com planos próprios deveria ser considerada e estudada como alternativa”, defendem os especialistas.

De resto, no estudo publicado esta terça-feira, os autores frisam que esta é mesmo “a via de ensino que exige maior atenção por parte dos dirigentes políticos, no sentido de orientar as políticas públicas para a requalificação da oferta”.

O think tank EDULOG enquadra-se na Fundação Belmiro de Azevedo. O seu objetivo é “contribuir para a construção de um sistema de educação de referência” e a informação das políticas públicas “para a inovação e mudança na Educação”.

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