Empresários propõem redução do IRC para 17%, lei do trabalho “flexível” e “ressuscitar Simplex”

Confederações patronais apresentaram propostas "para um debate político responsável e gerador de confiança", como o alívio do IRC, a flexibilização da lei do trabalho e a renovação do Simplex.

Com o país a preparar-se, novamente, para ir às urnas, as cinco confederações patronais apresentaram esta quinta-feira aos jornalistas um conjunto de propostas, que vão, entretanto, fazer chegar aos vários partidos. Entre elas, estão, nomeadamente, a redução da taxa normal de IRC para 17%, o alívio do IVA, a eliminação das tributações autónomas e a flexibilização da lei do trabalho.

“Portugal precisa de um choque de produtividade e competitividade”, sublinhou Francisco Calheiros, em conferência de imprensa, em Lisboa.

Coube ao presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) apresentar as propostas dos empresários, que se agrupam cinco grandes temas: alívio da carga fiscal, reforço da Concertação Social, investimentos em infraestruturas e na capacidade produtiva, mercado de trabalho, e simplificação administrativa.

Portugal precisa de um choque de produtividade e competitividade.

Francisco Calheiros

Presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP)

No que diz respeito à carga fiscal, as confederações patronais defendem que “os últimos indicadores dão sinal de que existe margem para uma redução“, pelo que propõem a redução da taxa normal de IRC para 17% (e para 15%, no caso das pequenas e médias empresas), a reversão do aumento da derrama estadual, a eliminação das tributações autónomas, e o alívio do IVA (para 6% em toda a reabilitação urbana e para habitação acessível).

Exigem, além disso, que deve ser implementada a agenda de simplificação fiscal que o Governo ainda em funções apresentou recentemente, apesar das eleições marcadas para 18 de maio.

No acordo assinado em outubro na Concertação Social, já constava o compromisso do atual Governo de reduzir, progressivamente, o IRC, mas essa foi uma das medidas mais difíceis e aprovar no Orçamento do Estado para 2025. Isso mesmo lembrou, questionado, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Armindo Monteiro, esta quinta-feira. “O Governo quase caiu por ousar, e estou a usar toda a ironia, reduzir em dois pontos percentuais o IRC. Acabamos por reduzir singelamente um ponto“, observou.

O Governo quase caiu por ousar, e estou a usar toda a ironia, reduzir em dois pontos percentuais o IRC. Acabamos por reduzir singelamente um ponto.

Armindo Monteiro

Presidente da CIP

Aos jornalistas, o “patrão dos patrões” assinalou que o que os empresários estão a propor é apenas que se adotem “as mesmas condições” de que dispõem os congéneres europeus. E realçou que é preciso acabar com a “bizarria” que é a progressividade que hoje existe nos impostos que se aplicam às empresas.

Patrões pedem reforço da Concertação Social

Reunião Plenária da Conselho Permanente de Concertação Social - 03ABR25
Confederações empresariais pedem o reforço da Concertação Social.Hugo Amaral/ECO

Já quanto à Concertação Social, os empresários reconheceram esta manhã que o modelo português é dos mais avançados da Europa, mas lembraram que o seu potencial nem sempre tem sido aproveitado.

Sobre este ponto, João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), lembrou que os patrões suspenderam a sua participação nesse órgão ainda em 2021, quando o Governo de António Costa fez aprovar em Conselho de Ministros propostas de alteração à lei do trabalho, que não tinham sido discutidas previamente com os parceiros sociais.

Por outro lado, no que diz respeito aos investimentos em infraestruturas e na capacidade produtiva do país, Francisco Calheiros destacou o novo aeroporto, mas também a ferrovia.

Temos um exemplo histórico em Espanha, que desenvolveu a ferrovia em bitolas europeias nos circuitos principais, enquanto manteve uma série de linhas na bitola ibérica. Se queremos entrar na rede europeia, teremos de fazer opções nesse sentido.

João Vieira Lopes

Presidente da CCP

A propósito, João Vieira Lopes destacou o exemplo espanhol, país onde se “desenvolveu a ferrovia em bitolas europeias nos circuitos principais enquanto manteve uma série de linhas na bitola ibérica“. “Se queremos entrar na rede europeia, teremos de fazer opções nesse sentido. É preciso tomar uma decisão”, apelou.

Ainda sobre os investimentos, Francisco Calheiros defendeu também, em nome das cinco confederações, uma estratégia construtiva para a água, a aceleração dos investimentos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a criação de um ambiente propício ao aumento da oferta de habitação.

Quanto à água, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Álvaro Mendonça e Moura, salientou que esta tem “importância paralela com a construção do novo aeroporto“.

“É uma reforma estrutural do país. Se queremos crescer, precisamos de água, seja para o consumo humano, para o turismo ou para a agricultura. Não tem havido água suficiente para o que existe e muito menos ainda para pensarmos em crescer”, declarou, frisando que é preciso implementar a estratégia que o Governo apresentou.

Lei laboral mais flexível?

Confederações empresariais pedem lei do trabalho mais moderna e flexível.Freepik

Já quanto ao mercado de trabalho, a visão dos empresários centrou-se na legislação, avisando que as mudanças que têm sido feitas têm retirado flexibilidade. “Precisamos de legislação laboral mais moderna e flexível“, frisou o presidente da CTP, em conferência de imprensa.

Por fim, no que diz respeito à simplificação administrativa, Francisco Calheiros explicou que é preciso “ressuscitar o Simplex“, já que a Administração Pública precisa “de uma verdadeira reforma, que vá para além da digitalização dos processos, incluindo o quadro normativo e administrativo“.

Não é ainda tempo para abordarmos este ponto [do lay-off simplificado[. A situação ainda não está extremada. Devemos guardar para tempos mais difíceis.

Armindo Monteiro

Presidente da CIP

Na conferência desta manhã, as confederações empresariais foram ainda questionadas sobre a proposta do PS de aumentar o salário mínimo nacional para 1.100 euros até ao fim da próxima legislatura (em 2029). Em reação, Armindo Monteiro salientou que é preciso que a economia cresça, de modo a suportar esses reforços salariais.

Por outro lado, numa altura em que a guerra comercial ameaça os negócios portugueses, os empresários foram questionados sobre a necessidade de o Governo fazer regressar o lay-off simplificado, regime que, durante a pandemia, apoiou o emprego. “Não é ainda tempo para abordarmos este ponto. A situação ainda não está extremada. Devemos guardar para tempos mais difíceis“, respondeu o presidente da CIP.

Esta quinta-feira, o Governo aprova em Conselho de Ministros um pacote de medidas para ajudar as empresas a enfrentarem os efeitos da guerra comercial. O lay-off simplificado não deverá constar, mas haverá, por exemplo, um apoio à formação, que ajudará as empresas a segurar os seus empregados.

(Notícia atualizada às 13h11)

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