“Vivemos a tempestade perfeita em Portugal: salários baixos e fiscalidade elevada”, afirma Pais Antunes
Pais Antunes alerta que empresas grandes são ainda mal tratadas, nomeadamente do ponto de vista fiscal. Sobre a tecnologia, deixa claro que IA vai criar novos empregos, pelo que não há que ter medo.

O presidente do Conselho Económico e Social (CES) sublinhou esta quarta-feira que o país enfrenta uma “tempestade perfeita” composta por baixos salários e níveis elevados de fiscalidade. Na segunda edição da Conferência Anual do Trabalho, organizada pelo Trabalho by ECO, Luís Pais Antunes defendeu ainda que é preciso que as empresas cresçam para suportar vencimentos mais expressivos, mas deixou a nota de que as grandes companhias ainda hoje “são mal tratadas”.
“A minha primeira reflexão tem que ver com a tempestade perfeita que vivemos em Portugal: salários baixos e fiscalidade elevada. Estão relacionadas entre si”, afirmou o responsável, a quem coube encerrar os trabalhos.
Na visão de Pais Antunes, o problema fiscal não está necessariamente nas taxas de IRS, mas nos escalões, que levam a que as taxas mais elevadas sejam aplicadas a rendimentos que noutros países ainda beneficiariam de impostos mais leves.
Ainda sobre a fiscalidade, mas no que diz respeito às empresas, o responsável alertou que o crescimento é hoje penalizado do ponto de vista tributário, quando, na verdade, o caminho do país terá de ser feito com as micro empresas a passarem a pequenas, as pequenas a médias e as médias a grandes. “Só assim vamos ter níveis salariais superiores“, assinalou o mesmo.
Vivemos muito agarrados a uma mentalidade ‘small is beautiful’. Tratamos mal as grandes empresas e isso é contrário às nossas necessidades de desenvolvimento económico e social.
“Vivemos muito agarrados a uma mentalidade ‘small is beautiful’. Tratamos mal as grandes empresas e isso é contrário às nossas necessidades de desenvolvimento económico e social“, observou, assim, Pais Antunes.
Por outro lado, o presidente do CES chamou a atenção para a transformação do mundo do trabalho, à boleia da tecnologia, deixando claro que “não há que temer o impacto das diferentes revoluções tecnológicas“. Por exemplo, nos últimos 25 anos, as transformações foram muitas, mas o volume de emprego não mirrou, uma vez que, a par dos empregos destruídos, foram criados muitos postos de trabalho novos, indicou.
“Não tenho a menor dúvida que a inteligência artificial trará muitos novos empregos. Isso aumenta o grau de exigência: obriga a uma formação contínua permanente“, disse ainda sobre este ponto Pais Antunes.
O último desafio identificado pelo presidente do CES foi a longevidade, que obrigará a “alterações do ponto de vista do enquadramento legal e regulamentar para acomodar a nova realidade demográfica”.
Continuamos com o modelo de enquadramento legal do trabalho à luz de meados do século XX. O sistema é basicamente o mesmo.
“É contraproducente, do ponto de vista dos valores que defendemos, colocarmos a tónica na diversidade e flexibilidade, mas, depois, do ponto de vista regulamentar e legal do mundo do trabalho damos provas de enorme rigidez“, atirou Pais Antunes.
“Continuamos com o modelo de enquadramento legal do trabalho à luz de meados do século XX. O sistema é basicamente o mesmo, quando o mundo é bem mais diversificado”, acrescentou o responsável, que rematou com o recado de que é preciso olhar para os problemas do presente, mas sobretudo ter uma visão a dez e 20 anos.
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