EUA anunciam acordo com Kiev sobre “fundo de investimento para reconstrução”
Estados Unidos e Ucrânia assinaram um acordo que cria um "fundo de investimento para a reconstrução". Não inclui garantias explícitas de futura assistência militar dos EUA.
O Departamento do Tesouro norte-americano anunciou esta quarta-feira a assinatura entre Estados Unidos e Ucrânia de um acordo que cria um “fundo de investimento para a reconstrução”, após semanas de negociações bilaterais sobre o acesso aos recursos naturais ucranianos. Não inclui garantias explícitas de futura assistência militar dos EUA.
Num vídeo publicado no X, o secretário norte-americano do Tesouro, Scott Bessent, adiantou que “esta parceria permite aos Estados Unidos investir em conjunto com a Ucrânia, desbloquear os ativos de crescimento da Ucrânia, mobilizar talentos, capital e padrões de governação americanos que irão melhorar o clima de investimento da Ucrânia e acelerar a recuperação económica do país”.
A ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, confirmou à Associated Press (AP) que o acordo foi assinado em Washington. Numa publicação no X, Svyrydenko disse que Kiev está a criar com os Estados Unidos “o Fundo que atrairá investimento global para o país”.
“O documento na sua forma atual é uma garantia de sucesso para ambos os países”, garantindo ainda que Kiev mantém “a propriedade e o controlo totais” dos seus recursos naturais, adiantou Svyrydenko.
Segundo a agência AP, os EUA pretendem aceder a mais de 20 matérias-primas da Ucrânia consideradas estrategicamente críticas para os seus interesses, incluindo o titânio, utilizado no fabrico de asas de aeronaves e outras indústrias aeroespaciais, e o urânio, que é utilizado na energia nuclear, equipamento médico e armas.
A Ucrânia tem também lítio, grafite e manganês, que são utilizados nas baterias de veículos elétricos.
“Em reconhecimento do significativo apoio financeiro e material que o povo dos Estados Unidos forneceu à Ucrânia desde a invasão da Rússia, esta parceria económica posiciona os nossos dois países para colaborar e investir em conjunto para garantir que os nossos ativos, talentos e capacidades possam acelerar a reconstrução económica da Ucrânia”, refere o Departamento em comunicado.
Uma pessoa com conhecimento do processo disse ao jornal New York Times que o documento final não inclui garantias explícitas de futura assistência militar ou de segurança à Ucrânia. Uma outra fonte, que também pediu ao jornal para não ser identificada, disse que essa reivindicação, feita por Kiev no início das negociações, foi rapidamente rejeitada pelos Estados Unidos.
Num comunicado, o secretário norte-americano do Tesouro, Scott Bessent, sublinhou que “nenhum Estado ou indivíduo que tenha financiado ou fornecido a máquina de guerra russa poderá beneficiar da reconstrução da Ucrânia”.
Washington forneceu à Ucrânia ajuda militar no valor de dezenas de milhares de milhões de dólares, durante a presidência do democrata Joe Biden (2021-2025), depois de a Rússia ter invadido o país em fevereiro de 2022.
O projeto de acordo esteve durante semanas no centro de tensões entre Kiev e Washington, cujo apoio é essencial à Ucrânia.
O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, declarou hoje após uma reunião do Governo Trump que os Estados Unidos estavam prontos para assinar o acordo sobre minerais, detalhando que os ucranianos “decidiram [na terça-feira] à noite fazer algumas alterações de última hora”.
Questionado sobre as alterações, o secretário do Tesouro respondeu: “Nada foi retirado. É o mesmo acordo que alcançámos este fim de semana. Não há alterações da nossa parte”.
Por sua vez, o Presidente norte-americano, Donald Trump, reiterou que os Estados Unidos queriam algo em troca “dos seus esforços” em relação à Ucrânia. “E nós dissemos: as terras raras. Eles têm terras raras muito boas”, acrescentou.
“Concluímos um acordo que garante o nosso dinheiro e nos permite começar a escavar e a fazer o que precisamos de fazer”, prosseguiu Trump, sublinhando que “também é bom para eles porque haverá uma presença norte-americana” na Ucrânia.
Uma versão anterior do texto devia ter sido assinada durante a visita do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à Casa Branca, no final de fevereiro, mas a altercação sem precedentes com Trump em direto da Sala Oval precipitou a partida sem assinar o acordo.
Uma nova versão, proposta por Washington em março, foi considerada pelos deputados e pela comunicação social ucranianos muito desfavorável.
No decurso das negociações, esse documento foi transformado numa versão mais aceitável para Kiev, segundo responsáveis ucranianos.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 – após a desagregação da antiga União Soviética – e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
EUA anunciam acordo com Kiev sobre “fundo de investimento para reconstrução”
{{ noCommentsLabel }}