FMI aconselha Portugal a política orçamental mais flexível em 2025
Recomendação deve-se ao impacto económico das tensões comerciais causadas pelas tarifas. Fundo pede mais investimento público para aumentar o crescimento a longo prazo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) aconselha Portugal a uma política orçamental mais flexível este ano devido ao impacto económico das tensões comerciais causadas pelas tarifas norte-americanas, pedindo ainda mais investimento público para aumentar o crescimento a longo prazo.
“Apoiamos uma política orçamental mais flexível em 2025, tendo em conta alguns dos fatores adversos a que assistimos do lado comercial“, afirmou o diretor para a Europa do FMI, Alfred Kammer, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.
Um dia após a apresentação das previsões económicas de primavera da Comissão Europeia, marcadas por cortes nas perspetivas de crescimento precisamente devido aos possíveis efeitos das tarifas norte-americanas, Alfred Kammer apontou que, apesar deste panorama, “Portugal tem sido extremamente bem-sucedido neste domínio ao longo dos últimos anos“.
Apoiamos uma política orçamental mais flexível em 2025, tendo em conta alguns dos fatores adversos a que assistimos do lado comercial.
“Quando olhamos para a nossa previsão do lado orçamental, a longo prazo, Portugal deverá continuar a ter um excedente primário e a reduzir a dívida pública“, acrescentou.
De acordo com o responsável do FMI, “o que Portugal precisa a médio prazo é de um aumento do investimento público“. Para Alfred Kammer, a “absorção total” dos fundos e a implementação das reformas apoiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “são especialmente importantes” e urge pensar já num programa que lhe suceda.
“A implementação do PRR, tanto do lado do investimento público como do lado das reformas estruturais, é crucial porque ajudará a aumentar a produtividade e o crescimento a longo prazo“, assinalou. Além disso, “quando esse programa terminar [em 2027], a manutenção do mesmo nível de investimento terá de ser financiada pelo orçamento de Portugal e, como é óbvio, precisamos de ter espaço orçamental para o fazer”, sugeriu.
Nesta entrevista à Lusa, Alfred Kammer defendeu ainda que “poderá ser criado espaço adicional através de uma série de reformas que o FMI tem vindo a discutir com o Governo, incluindo a reforma fiscal e a utilização de revisões da despesa para aumentar a eficiência”.
“E também precisamos de pensar em como lidar com as pressões adicionais sobre as despesas [decorrentes do envelhecimento da população, da transição ecológica, da defesa] utilizando parte desse espaço orçamental”, propôs ainda.
A posição surge um dia após a divulgação das previsões de primavera da Comissão Europeia, mais pessimistas do que as do FMI e as do Governo português. Em concreto, o executivo comunitário estimou que Portugal irá ter um excedente orçamental de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que se transformará num défice de 0,6% em 2026.
Estes cálculos representam uma revisão em baixa face às previsões de novembro, quando Bruxelas perspetivava um excedente de 0,4% este ano, e são também mais pessimistas do que as estimativas inscritas no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). Ao mesmo tempo, o executivo comunitário reviu em baixa as previsões para o crescimento da economia portuguesa este ano, para 1,8%, mas está agora confiante de que o PIB vai crescer 2,2% em 2026.
Em abril, o FMI projetou um excedente para Portugal de 0,5% do PIB este ano e de 0,1% em 2026 e reviu em baixa as previsões para o crescimento do PIB português este ano, para 2%, face ao que estimava em outubro e abaixo das previsões do Governo.
Economia da zona euro cresceria em 2025 sem tensões comerciais
O FMI defende que a economia da zona euro cresceria este ano se não fossem as tensões comerciais causadas pelas tarifas norte-americanas, calculando os impactos do comércio e da incerteza em 0,3% do PIB.
“Globalmente, para a zona euro, a nossa revisão em baixa é de 0,2 pontos percentuais em 2025 e 0,2 pontos percentuais em 2026. Teríamos tido uma melhoria do crescimento da zona euro se não fossem as questões relacionadas com o comércio”, afirmou o diretor para a Europa do FMI.
Um dia após a apresentação das previsões económicas de primavera da Comissão Europeia, marcadas por cortes nas perspetivas de crescimento precisamente devido aos possíveis efeitos das tarifas norte-americanas, o responsável do FMI indicou que, “somando tudo, o impacto do comércio e da incerteza política é de 0,3% este ano e de 0,4% [do PIB] no próximo ano”.
Globalmente, para a zona euro, a nossa revisão em baixa é de 0,2 pontos percentuais em 2025 e 0,2 pontos percentuais em 2026. Teríamos tido uma melhoria do crescimento da zona euro se não fossem as questões relacionadas com o comércio.
“As medidas relativas aos direitos aduaneiros sobre o comércio apenas reduzem 0,1 pontos percentuais do PIB este ano e 0,2 pontos percentuais do crescimento do PIB no próximo ano, mas o maior impacto vem, de facto, da incerteza política que está a ser criada e das condições financeiras mais restritivas resultantes da incerteza política e isto retira 0,2 pontos percentuais ao crescimento este ano e 0,2 pontos percentuais ao crescimento no próximo ano”, elencou Alfred Kammer nesta entrevista à Lusa.
A Comissão Europeia reviu em baixa o crescimento económico da zona euro para este ano, de 1,3% para 0,9%. Bruxelas alertou ainda para uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) e pressões inflacionistas, falando numa taxa média de direitos aduaneiros dos Estados Unidos mais elevada do que na década de 1930.
As tensões comerciais devem-se aos anúncios de Donald Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas, entretanto, suspensas por 90 dias.
Cálculos da Comissão Europeia, divulgados em meados de abril, dão conta de que os novos direitos aduaneiros norte-americanos podem implicar perdas de 0,8% a 1,4% no PIB dos Estados Unidos até 2027, sendo esta percentagem de 0,2% do PIB no caso da União Europeia (UE).
Antes de, no próximo verão, se começar a discutir no espaço comunitário o próximo orçamento da UE a longo prazo, Alfred Kammer adiantou à Lusa que, para o FMI, o Quadro Financeiro Plurianual 2028-2034 “deve dar prioridade aos bens públicos europeus” como defesa, energia e investigação e ser usado como “alavanca para incentivar as reformas nacionais”.
Quanto ao financiamento, “há argumentos a favor de um aumento de empréstimos comuns […] porque se trata também de um investimento no futuro”, argumentou o responsável, pedindo também novos recursos próprios na UE para se assegurar o pagamento da dívida contraída.
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