Fragilidades na cadeia de minerais críticos ameaçam economia, alerta AIE

A Agência Internacional de Energia vê um forte crescimento na procura e oferta de minerais críticos como o lítio e o cobalto, mas alerta para fragilidades na cadeia de abastecimento.

A procura por minerais críticos tem crescido a olhos vistos, assinala a Agência Internacional de Energia (AIE). Uma “corrida” na qual o lítio se destaca, com um salto de 30% no ano passado. Contudo, com a oferta também em ascensão, os preços têm evoluído no sentido contrário, o que ameaça as decisões de investimento ao dia de hoje, acrescenta a AIE.

Isto, ao mesmo tempo que identifica fragilidades na cadeia de abastecimento e alerta para possíveis impactos nos preços para os consumidores e na competitividade da indústria, o que pede uma diversificação das fontes destes minerais.

Os minerais críticos emergiram como um assunto decisivo na salvaguarda da segurança energética e económica” num mundo marcado pelas tensões geopolíticas, afirma a AIE, ao mesmo tempo que alerta que os riscos para a segurança de abastecimento destes minerais estão a proliferar. Estas conclusões foram divulgadas esta quarta-feira, no âmbito do relatório “Perspetivas Globais para os Minerais Críticos 2025”.

No documento, a agência identifica uma “vulnerabilidade” a choques na cadeia de abastecimento, que podem ser causados por disrupções no comércio ou por falhas técnicas e até fenómenos meteorológicos extremos. “O impacto de um choque nos minerais críticos pode ter efeitos de largo alcance”, sejam eles preços mais elevados para os consumidores ou uma redução da competitividade industrial.

Um choque na cadeia de abastecimento das baterias pode aumentar os preços das mesmas entre 40% a 50% e, tendo em conta os desequilíbrios que já se verificam em termos de custos em diferentes geografias, disrupções nas cadeias de abastecimento podem acentuar a desvantagem de fabricantes de baterias face à China.

A AIE alerta ainda que, apesar de a diversificação ser fulcral para a segurança energética, “o mundo dos minerais críticos está a mover-se na direção oposta nos últimos anos”, em particular na refinação e processamento. Nesta atividade, a concentração geográfica aumentou em quase todos os minerais, em particular no níquel e cobalto, desde 2020.

Registou-se uma concentração de 86% na atividade de refinação em 2024, sendo que a China domina a refinação de 19 dos 20 minerais analisados. A projeção da AIE aponta para que em 2035 esta concentração tenha diminuído apenas para 82%.

O mesmo cenário de elevada concentração verifica-se quanto à atividade mineira, apesar de um pouco abaixo: República Democrática do Congo, Indonésia e China controlam 77% da mineração destes elementos críticos. “O lítio é uma exceção notável”, assinala, contudo, a agência, apontando a Argentina e o Zimbabué como motores do crescimento deste material.

Neste contexto, a agência internacional afirma que o normal funcionamento do mercado não será suficiente para levar a uma diversificação: políticas públicas com este objetivo são essenciais, assim como o investimento em novas tecnologias, com base por exemplo em inteligência artificial.

Lítio com crescimento forte. Mas preços dos minerais afetam investimento

A AIE assinala um “crescimento forte” da procura por minerais críticos relacionados com o setor da energia em 2024, sendo que o lítio aparece em destaque: a procura por este mineral disparou 30% em 2024, muito acima dos 10% que eram previstos em 2010. No entanto, a produção global superou este salto, ao crescer 35% no mesmo período.

O crescimento da procura por lítio, a par com o crescimento de até 8% da procura por cobalto, níquel e grafite, é justificado em grande “por aplicações em veículos elétricos, em baterias, nas renováveis e nas redes elétricas”. O setor da energia contribui para 85% do crescimento da procura por minerais críticos, calcula a AIE.

Apesar do salto na procura destes minerais, os preços evoluíram no sentido contrário, já que a oferta também expandiu significativamente. China, República Democrática do Congo e Indonésia lideraram este alargamento, em particular no que diz respeito aos minerais associados às baterias. Os preços do lítio decresceram 80% desde 2023, depois de multiplicarem por oito entre 2021 e 2022. Os preços do grafite, cobalto e níquel caíram entre 10 a 20% no ano passado.

Apesar das grandes expectativas para o crescimento futuro da procura, as decisões de investimento ao dia de hoje enfrentam incertezas económicas e de mercado significativas”, lê-se no relatório, que identifica um problema: “Os preços dos minerais à data e hoje não estão a dar o sinal de investimento”.

O momentum de investimento no desenvolvimento dos minerais críticos enfraqueceu em 2024, com a despesa a subir 5%, ou 2% em termos reais (ajustado à inflação), abaixo dos 14% registados em 2023. A exploração estagnou no ano passado, terminando a tendência de crescimento que se verificava desde 2020. Isto, embora existam diferenças entre minerais: a despesa na exploração de lítio subiu, a par da de urânio e cobre, embora tenha decrescido no caso do níquel, cobalto e zinco.

Espera-se que o mercado de lítio se mantenha bem fornecido no curto prazo, mas projetos de mineração adicionais serão necessários para responder ao crescimento contínuo da procura nos próximos anos”, lê-se no relatório, que estima a necessidade de novos projetos de mineração para dar resposta à procura prevista a partir de 2030.

A AIE identifica alguns projetos que considera importantes para a diversificação da extração e refinação de lítio, espalhados pela América do Norte, Austrália e Ásia, enquanto na Europa “permanecem limitados”. No Velho Continente, são destacados dois projetos, um na Alemanha e outro na Finlândia, e mencionados os “projetos estratégicos” identificados pela Comissão Europeia, nos quais se incluem os de mineração e refinação em Portugal e Espanha.

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