Governo quer serviços mínimos “em todas as ocasiões”

Governo quer que "em todas as ocasiões" haja serviços mínimos que não ponham em causa proporção entre direito à greve e os demais direitos, como o direito ao trabalho e à mobilidade.

O primeiro-ministro explicou, esta quarta-feira, que o Governo pretende mudar a lei da greve, de modo a garantir que “em todas as ocasiões” há serviços mínimos que não ponham em causa a proporção entre o exercício desse direito e os demais. No final da primeira reunião de Concertação Social desta legislatura, Luís Montenegro indicou que essa será uma das matérias a discutir no âmbito de uma revisão mais ampla do Código do Trabalho.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro (C), ladeado pelo ministro das Finanças, Joaquim Sarmento (C-D) e pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Rosário Palma Ramalho (C-E), preside à reunião plenária da Comissão Permanente de Concertação Social, para apresentação de cumprimentos institucionais e intervenção dos parceiros, na sede do Conselho Económico e Social, em Lisboa, 02 de julho de 2025.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

“Somos um país que tem uma legislação laboral, que importa revisitar para poder dar às empresas maior capacidade de serem competitivas e aos trabalhadores a possibilidade de terem maior perspetivas de segurança e progressão nas carreiras“, começou por sublinhar o chefe de Executivo, em declarações aos jornalistas.

Partilhei com os parceiros sociais a nossa pretensão de, em diálogo social, fazermos a avaliação das alterações à lei laboral, incluindo à lei da greve, aí permitindo uma conciliação maior entre a garantia inabalável do exercício do direito à greve e o exercício de outros direitos, como o direito a trabalhar e o direito à mobilidade para aceder a cuidados de saúde e serviços públicos”, acrescentou Luís Montenegro.

A intenção de “equilibrar” o direito à greve já constava do programa do Governo, mas, desta vez, o primeiro-ministro precisou que o que o Governo pretende é que “essa alteração possa consagrar que, em todas as ocasiões, há serviços mínimos que não põem em causa proporção entre o exercício do direito à greve e o exercício dos demais direitos“.

“O objetivo que pretendemos alcançar é o de termos a possibilidade de ter uma solução legislativa que garanta maior proporcionalidade entre o exercício de direitos e garanta que, naquelas circunstâncias, onde os serviços mínimos, por vicissitudes legais, não são possíveis para garantir essa proporção, possam passar a ser“, revelou ainda o governante.

A lei da greve voltou recentemente à ribalta, uma vez que, durante a campanha eleitoral da ida às urnas de 18 de maio, os trabalhadores da Comboios de Portugal levaram a cabo uma paralisação, que afetou significativamente a mobilidade no país. “Um dia vamos ter de pôr cobro a isto”, não tardou a reagir Luís Montenegro.

A campanha eleitoral, entretanto, terminou, as greves na Comboios de Portugal também. Mas o assunto não desapareceu da mente do primeiro-ministro. Tanto que, no programa do Governo, ficou a intenção de “equilibrar de forma mais adequada o exercício do direito à greve com a satisfação de necessidades impreteríveis”.

No programa, não eram detalhadas que alterações legislativas estariam em cima da mesa, mas as declarações desta quarta-feira do primeiro-ministro sinalizam que, afinal, as mudanças acontecerão ao nível dos serviços mínimos.

Hoje, está fixado que em empresas ou estabelecimentos para “satisfação de necessidades sociais impreteríveis” (como é o caso dos transportes), os sindicatos devem assegurar a “prestação de serviços mínimos indispensáveis” para salvaguardar essas necessidades.

Esses serviços mínimos podem ser definidos por acordo entre os representantes dos trabalhadores e os empregadores ou, na ausência desse entendimento, pelo Ministério do Trabalho e do Ministério responsável pelo setor de atividade afetado (ou, tratando-se de empresa do setor empresarial do Estado, por tribunal arbitral).

No caso da Comboios de Portugal, a decisão de não decretar serviços mínimos nos primeiros dias da greve em questão foi do tribunal arbitral, que argumentou que havia “o sério risco de se colocar em perigo a vida e a integridade dos passageiros”. Isto tendo em conta que a CP assumiu que um número reduzido de comboios “conduziria ao risco de acumulação descontrolada de pessoas nas estações e nos comboios”, foi explicado.

Parceiros sociais com outras prioridades na lei do trabalho

O primeiro-ministro, Luís Montenegro (D), ladeado pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Rosário Palma Ramalho (3-E) e pelo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes (2-E), fala aos jornalistas após a reunião plenária da Comissão Permanente de Concertação Social, para apresentação de cumprimentos institucionais e intervenção dos parceiros, na sede do Conselho Económico e Social, em Lisboa, 02 de julho de 2025.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

À saída da reunião de Concertação Social desta quarta-feira, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, defendeu que a revisão da lei do trabalho deve ser, sim, uma prioridade nesta legislatura, mas identificou o teletrabalho e os bancos de horas como os temas mais quentes. Questionado sobre a lei da greve, atirou: “não é um dos temas prioritários, mas não há tabus“.

No mesmo sentido, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), identificou como prioridades, na revisão da lei do trabalho, não a greve, mas os bancos de horas, frisando que é preciso atualizar a legislação laboral e diminuir a sua carga ideológica.

Já o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Armindo Monteiro, salientou que é preciso clarificar as razões para serem definidos serviços mínimos, em caso de greve. “O direito à greve não deve impedir o direito ao trabalho”, disse.

Do lado dos sindicatos, Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, realçou que este Governo quer “limitar o impacto das greves“, sendo esta a única ferramenta que os trabalhadores têm para conseguir melhores condições. Já Mário Mourão, secretário-geral da UGT, não fechou a porta a mudanças na lei da greve: “qualquer parte pode fazer propostas. Quanto a haver acordo, vai depender da proposta”.

A próxima reunião de Concertação Social ficou marcada para 24 de julho, altura em que deverão ser definidos os calendários das matérias a abordar nesta sede no curso da legislatura que acaba de começar.

(Notícia atualizada às 13h50)

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