Salários reais em Portugal já superaram rombo da crise da inflação

Portugal viu salário médio aumentar 1,8% entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2025. É um dos países da OCDE onde vencimento está acima do período pré-crise da inflação.

Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde os salários reais já estão acima dos níveis registados no primeiro trimestre de 2021, isto é, antes da crise inflacionista. Ainda assim, a incerteza geopolítica e o agravamento das tarifas poderão pôr em risco a continuação da recuperação dos rendimentos nos próximos tempos, alerta a referida organização, num novo relatório publicado esta quarta-feira.

De acordo com o “OCDE Employment Outlook 2025”, os salários reais aumentaram em 19 países da organização no primeiro trimestre deste ano, face aos primeiros três meses de 2021. A maior subida foi registada na Turquia (69,3%), seguindo-se a Hungria (13,5%) e a Costa Rica (12,6%).

Portugal também fez parte deste grupo de países, com um crescimento de 1,8% do salário médio real, entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2025. Essa subida foi inferior à média da OCDE (2,4%), mas permitiu a Portugal “escapar” ao grupo de 18 países onde os salários reais continuaram abaixo dos níveis pré-crise da inflação.

Nesses 18 países, apesar dos aumentos persistentes dos últimos anos, os salários reais mantiveram-se, assim, abaixo do nível verificado no arranque de 2021. Aliás, em nove destes, os salários reais continuaram mesmo mais do que 3% abaixo do registado antes da crise inflacionista: Austrália, Nova Zelândia, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Chéquia, Itália, Eslováquia e Espanha.

Por outro lado, de olhos no futuro, a OCDE antecipa que as incertezas geopolíticas e o agravamento das tarifas alfandegárias poderão enfraquecer de modo significativo os mercados de trabalho e fomentar um novo disparo das taxas de inflação, “dificultando, assim, a recuperação dos salários”.

Por esses mesmos motivos, a organização antecipa um abrandamento do emprego, depois de anos em que os mercados de trabalho deram prova da sua resiliência. Perante esta evolução, a escassez de mão de obra sentida pelos empregadores desde a recuperação pós pandémica deverá agora registar algum alívio.

As políticas sociais e de emprego (como seguros de desemprego, assistência social, e políticas ativas de emprego) serão essenciais para dar resposta às potenciais consequências negativas destes choques [a incerteza e as tarifas] no emprego.

OCDE

“As políticas sociais e de emprego (como seguros de desemprego, assistência social, e políticas ativas de emprego) serão essenciais para dar resposta às potenciais consequências negativas destes choques [a incerteza e as tarifas] no emprego”, avisa, assim, a OCDE.

Além disso, defende que, num momento em que os riscos de uma espiral inflacionista motivada pelos salários são baixos, a negociação coletiva e o diálogo social “bem desenhados e implementados” terão um papel a desempenhar, de modo a assegurar que “o custo da inflação está distribuído de forma justa entre os empregados e os empregadores (e entre os empregados nos diferentes níveis de rendimento)”.

Pôr o mercado a funcionar também para os mais velhos

As últimas décadas ficaram marcadas por um “aumento notório” do emprego de trabalhadores mais velhos, em reflexo do avanço da esperança média de vida. Mas a potencial extensão das vidas de trabalho continua a crescer, sendo necessárias medidas que ponham o mercado de trabalho a funcionar também para os empregados mais velhos, argumenta a OCDE, no “Employment Outlook 2025”.

“As reformas das pensões — como a subida da idade da reforma e o travão à reforma antecipada — contribuíram de forma significativa para aumentar a idade média de saída do mercado de trabalho, mas esses esforços devem ser enquadrados num quadro de políticas mais amplo, que permite ativamente que as pessoas mais velhas continuam ou até retomam a sua vida na força de trabalho“, sublinha a organização.

Entre as medidas sugeridas neste âmbito, está a promoção de estratégias de recrutamento e retenção de talento justas, bem como de ambientes de trabalho que fomentem a produtividade de todas as faixas etárias, e ainda de opções de trabalho flexíveis, que são “vitais para suster a empregabilidade ao longo do tempo”.

A aprendizagem ao longo da vida tem de se tornar um pilar central da política de emprego, com acesso a oportunidades de upskilling e reskilling.

OCDE

A OCDE frisa ainda que é crucial qualificar os trabalhadores, numa altura em que a tecnologia está a transformar o mercado de trabalho. “A aprendizagem ao longo da vida tem de se tornar um pilar central da política de emprego, com acesso a oportunidades de upskilling e reskilling“, detalha a organização.

“Só com a integração de reformas estruturais com apoio direcionado, práticas de emprego inclusivo, e políticas viradas para o emprego do futuro poderão os países da OCDE garantir que vidas de trabalho mais longas são não apenas possíveis, como justas, produtivas e motivo de um sentimento de realização para todos“, declara a organização.

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