Planeta atinge na quinta-feira a data em que se consumiram todos os recursos para este ano
Dia da sobrecarga é a data em que a procura da natureza por parte da humanidade ultrapassa a capacidade da Terra de a reabastecer durante todo o ano.
O planeta atinge na quinta-feira a sobrecarga, data em que se consumiram todos os recursos gerados para este ano, significando que a humanidade utiliza a natureza 1,8 vezes mais depressa do que os ecossistemas se conseguem regenerar.
O dia da sobrecarga do planeta (Earth Overshoot Day) é, segundo as contas da organização internacional de sustentabilidade pioneira da “Pegada Ecológica”, a “Global Footprint Network”, a data em que a procura da natureza por parte da humanidade ultrapassa a capacidade da Terra de a reabastecer durante todo o ano.
A Terra, nas contas da organização, esgota na quinta-feira o que tinha para dar aos seres humanos este ano, que passam agora a usar o “cartão de crédito”.
Uma ultrapassagem que acontece porque, explica a “Global Footprint Network” num comunicado, as pessoas emitem mais dióxido de carbono (CO2) do que a biosfera pode absorver, usam mais água doce do que a que é reposta, colhem mais árvores do que as que podem crescer de novo, pescam mais rápido do que as reservas de peixe se reabastecem, entre outros fatores.
A utilização excessiva além do que a natureza pode renovar “esgota inevitavelmente o capital natural da Terra” e compromete a segurança dos recursos a longo prazo, “especialmente para aqueles que já têm dificuldades em aceder aos recursos necessários para funcionar”, alerta.
Ainda que o dia da sobrecarga deste ano seja o mais precoce de sempre, a “Global Footprint Network” diz que o dia se tem mantido com alguma estabilidade nos últimos 15 anos, rondando a passagem dos primeiros sete meses do ano.
Apesar da tendência de estagnação a associação ambientalista portuguesa Zero nota, também em comunicado, que mesmo sem grande variação do dia da sobrecarga a pressão sobre o planeta continua a aumentar devido à acumulação de danos.
A humanidade, destaca a Zero, tem de “acelerar o passo e promover as mudanças necessárias” para reduzir o impacte que as suas atividades e necessidades têm sobre a capacidade de carga do planeta.
E a Zero dá exemplos: se metade do mundo implementasse um “Green New Deal” com o nível de ambição da União Europeia (UE) a sobrecarga podia ser adiada 42 dias nos próximos 10 anos.
Se fosse aplicada uma taxa por tonelada de carbono de cerca de 100 dólares, o adiamento seria de 63 dias. E se os humanos comessem metade da carne que comem atualmente o “cartão de crédito” acionado agora só seria usado dentro de 17 dias.
A “Global Footprint Network” adverte que o excesso de emissões de CO2 não causa só perda de biodiversidade ou esgotamento de recursos, mas também faz estagnar a economia, aumenta a inflação, a insegurança alimentar e energética, as crises sanitárias e os conflitos. E quem não se prepara, sejam cidades ou países, enfrentará riscos mais elevados, adverte a organização.
A sobrecarga é também uma falha do mercado, uma ameaça aos consumidores excessivos de recursos, e que se não for trabalhada a sobrecarga do planeta terminará em catástrofe, avisa.
Também a Zero diz que a tendência para antecipar “o uso do cartão de crédito ambiental é uma ameaça para o bem-estar das gerações presentes e futuras”.
A Zero advoga como solução a promoção de uma economia do bem-estar, em que a prosperidade não é definida apenas pelo crescimento do PIB, mas pela saúde ecológica, equidade social e bem-estar humano, numa lógica de reorientar os sistemas produtivos e de consumo para respeitarem os limites planetários, assegurando simultaneamente a satisfação de necessidades básicas e a qualidade de vida de todas as pessoas.
Uma abordagem cujo caminho passa, diz a associação, por uma lei que garanta que os direitos das gerações futuras e a defesa da justiça intergeracional são parte integrante do processo de decisão. Acrescenta que vários países estão a trabalhar neste sentido e que em Portugal as associações Zero, Oikos e Último Recurso estão a preparar uma proposta de Lei também com este intuito.
Todos os anos a “Global Footprint Network” anuncia no Dia Mundial do Ambiente, 5 de junho, a data do “Earth Overshoot Day”.
Na página da organização fazem-se os cálculos também país a país, segundo os quais Portugal esgotou os recursos que tinha disponíveis logo a 5 de maio. Se todos os habitantes do planeta consumissem como os portugueses seriam necessários quase três planetas.
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