Crise política atira juros da dívida francesa a 30 anos para níveis históricos
A moção de confiança do primeiro-ministro Bayrou mergulha a França na incerteza com a dívida numa escalada, o rating da República em risco e os investidores a punirem fortemente a economia francesa.
A instabilidade política em França está a colocar em xeque a confiança dos investidores na economia francesa, que estão a castigar fortemente os títulos de dívida do país.
As obrigações francesas a 30 anos negociam atualmente em máximos históricos acima dos 4,4%, enquanto o spread das obrigações do Tesouro a 10 anos face às congéneres alemãs escalam 18% desde o arranque da semana para mais de 82 pontos base – um nível não visto desde janeiro, que coloca França sob crescente pressão no mercado da dívida soberana europeia.
A tempestade perfeita começou quando o primeiro-ministro François Bayrou anunciou uma moção de confiança para 8 de setembro, numa jogada arriscada para forçar a aprovação do seu plano de austeridade de 44 mil milhões de euros.
No entanto, a estratégia saiu-lhe pela culatra: as três principais forças da oposição – a extrema-direita Rassemblement National, os Verdes e os socialistas – anunciaram que votarão contra o governo, tornando praticamente inevitável a queda do executivo.
O caso é de tal forma preocupante que o ministro das Finanças, Eric Lombard, advertiu que o país pode precisar da intervenção do Fundo Monetário Internacional se a situação não se estabilizar.
A reação dos mercados foi imediata e brutal. A yield das obrigações francesas a 10 anos dispararam até 3,53% – o nível mais alto desde março –, enquanto as taxas das obrigações a 30 anos alcançaram valores históricos.
No mercado acionista, o embate também foi forte, com o índice CAC 40 a cair quase 4% nas últimas duas sessões (estando a recuperar ligeiramente esta quarta-feira ao subir 0,3%), atingindo mínimos de três semanas, e com os bancos franceses a liderarem as perdas: BNP Paribas e Société Générale acumulam esta semana perdas de 8,5% e 10,3%
O spread entre as obrigações francesas e alemãs a 10 anos – um termómetro da confiança dos investidores – alargou para mais de 82 pontos base, o nível mais elevado desde início de janeiro. Esta divergência é particularmente preocupante quando comparada com Itália: o diferencial entre França e Itália estreitou para apenas 10 pontos base, invertendo uma hierarquia que se mantinha há décadas.
Guillaume Rigeade, da gestora Carmignac, alerta que o spread pode disparar para os 100 pontos base pela primeira vez desde 2012 se a crise política se agravar. Seria uma situação inédita para a segunda maior economia da Zona Euro, colocando França numa posição de maior risco que Itália, e com potencial de provocar danos colaterais para o resto das economias europeias.
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O contexto político é explosivo. Bayrou propõe congelar as pensões e prestações sociais, eliminar dois feriados públicos e implementar cortes drásticos na despesa pública para reduzir o défice de 5,4% para 4,6% do PIB em 2026. Contudo, sem maioria parlamentar – o partido que sustenta o governo detém apenas 210 lugares num total de 577 –, estas medidas enfrentam uma oposição muito forte.
O caso é de tal forma preocupante que o ministro das Finanças, Eric Lombard, advertiu que o país pode precisar da intervenção do Fundo Monetário Internacional se a situação não estabilizar, embora tenha depois recuado nas declarações.
A Fitch tem marcada uma revisão do rating de França para 12 de setembro – apenas quatro dias após a moção de confiança –, podendo daí surgir um corte do rating para “A+”.
Se o governo cair, Emmanuel Macron terá três opções: nomear um novo primeiro-ministro, manter Bayrou como chefe de um governo de gestão, ou convocar eleições antecipadas. Nenhuma garante a resolução do impasse orçamental, perpetuando a incerteza política que assombra França desde as eleições legislativas de julho de 2024.
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