No novo balcão para pedidos de nacionalidade, as filas de sempre

  • Lusa
  • 1 Setembro 2025

A secretária de Estado da Justiça lamenta as filas no novo balcão em Lisboa, mas considera normal pelo "fator novidade".

No seu primeiro dia de funcionamento, o novo balcão em Lisboa exclusivo para pedidos de nacionalidade atendeu até ao início da tarde mais de uma centena de pessoas, mas não conseguiu evitar as filas à porta.

Por volta das 14:30, quando a secretária de Estado da Justiça, Ana Luísa Machado, chegou para visitar o novo espaço inaugurado esta segunda-feira, havia dezenas de pessoas repartidas por três filas à porta do novo balcão, sem senha atribuída e sem qualquer garantia de ainda virem a ser atendidas hoje.

Questionada sobre a aparente relocalização das filas e várias horas de espera dos dois anteriores postos de atendimento agora concentrados num único no Parque das Nações, em Lisboa que pretende agilizar os atendimentos, a governante disse lamentar a situação, mas considerou-a normal, pelo “fator novidade” do novo balcão.

Lamento imenso. Infelizmente, nós gostaríamos de ser perfeitos e gostaríamos de ter sistemas perfeitos. Não existem sistemas perfeitos, estamos a dar o nosso melhor”, disse a secretária de Estado. Até ao início da tarde o novo balcão já tinha atendido cerca de 160 pessoas e a expectativa é a de que a média diária venha a superar as 200, adiantou o presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), Jorge da Ponte, que acompanhou a secretária de Estado da Justiça na visita.

Questionados sobre os mais de 500 mil pedidos de nacionalidade pendentes de análise e decisão nos serviços, a secretária de Estado disse que está a ser feito “um esforço muito grande para recuperar todas as pendências”. Jorge da Ponte remeteu para breve a atualização dos dados relativos às pendências, acrescentando, sem detalhar, haver “alguns sucessos” a registar na redução do número de processos pendentes, cujo último valor oficial, divulgado em junho, era de cerca de 515 mil.

No dia em que inaugurou o novo balcão de atendimento presencial, Ana Luísa Machado reforçou o apelo a que as pessoas recorram aos meios digitais e aos correios para submeter pedidos e documentação, consultar o andamento do processo, ou até agendar um atendimento, mas nas filas à porta havia quem estivesse há semanas a tentar o agendamento online, sem sucesso.

Era o caso de Fabiana, que soube que o balcão exclusivo para pedidos de nacionalidade abria hoje e resolveu tentar a sorte presencialmente. Chegou ao início da tarde e quando falou à Lusa já só tinha pouco mais de uma dezena de pessoas à sua frente na fila dos que ali estavam para dar início ao processo.

As outras duas filas – para quem só queria juntar documentos ao processo já existente ou na dos que pretendiam apenas informação sobre o andamento do processo – não pareciam avançar e houve quem desistisse da espera. Fabiana, que reside em Odivelas e em outras ocasiões já tinha tentado ser atendida noutros balcões, permanecia na fila, otimista.

“Eu tentei vir aqui com esse otimismo, que aqui, como é uma unidade nova, a expectativa é de conseguir, nesse momento inicial, o atendimento presencial, já que nos outros eu não consegui”, disse à Lusa, referindo que não tem sido fácil gerir o tempo perdido nas esperas com os dias de trabalho.

Fabiana já não teme eventuais impactos no seu processo da nova lei da nacionalidade que possa vir a ser aprovada no parlamento, mas teme por outros brasileiros, que agora já reúnem as condições e o tempo de residência necessários para dar início ao processo e que podem vir a ter que esperar mais algum tempo se não conseguirem iniciá-lo antes de a nova lei entrar em vigor, que prevê aumentar o tempo de residência necessário para se poder pedir a nacionalidade.

“Eu fico impactada com vários cidadãos brasileiros que estão aqui há (…) quase cinco anos, vão fazer cinco anos até o final do ano, e estão na expectativa de saber se a legislação vai ser promulgada ou não. Porque se for, eles podem ter de ficar mais dois anos. (…) Eu sinto empatia em relação a isso”, disse.

Ligeiramente à frente na fila estava Cláudio, que chegou pelas 09:30 e a essa hora já tinha muitas pessoas à sua frente. Outras pessoas ouvidas pela Lusa que preferiram não ser identificadas e que chegaram por volta da mesma hora contabilizaram mais de 80 pessoas à sua frente na fila logo na hora de abertura do novo balcão.

Cláudio, que também pretende iniciar o processo de pedido de nacionalidade, que no seu caso é por ascendência – o avô era português – não sabia que o novo espaço ia abrir e chegou já depois de ter ido a outro balcão encerrado. Também não conseguiu um agendamento online com a brevidade que precisa e, tal como muitos outros, lamenta as complicações laborais que os dias de trabalho perdidos nas filas de espera lhe trazem.

A gente perde dias de trabalho, arruma problema até com o patrão, porque não compreende muito bem, ele quer trabalho, produção, e aí fica difícil, complica a vida da gente”, disse. Apesar do transtorno, não abdica do otimismo nem do lugar na fila: “Ah, sim, sou brasileiro, não desisto nunca”.

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