Prestação da casa vai ter maior subida desde a crise de 2011
Famílias cuja taxa do crédito da casa seja revista em maio vão ver a prestação subir entre 1% e 7%. Nos créditos com Euribor a 6 e 12 meses, será o maior agravamento desde a crise de 2011.
Guerra, inflação e Banco Central Europeu (BCE): a atual conjuntura está a ter implicações sérias no bolso dos portugueses. Desde os bens do supermercado à luz e combustíveis, muitos dos produtos e serviços que as famílias consumem no dia-a-dia estão mais caros. Também a habitação está a encarecer. Quem tiver de rever as condições do crédito à habitação em maio vai sentir novo aperto no seu orçamento. A prestação da casa vai sofrer o maior agravamento desde a última crise financeira.
A prestação a casa paga ao banco vai subir entre 1% e 7%, consoante o indexante utilizado no contrato, sendo que os empréstimos aos quais estão associados Euribor a seis e 12 meses vão ser os mais penalizados.
Considerando um empréstimo de 150 mil euros, por um prazo de 30 anos, e com um spread de 1%, as famílias com créditos associados à Euribor a seis meses (o indexante mais comum) vão ver a prestação subir mais de 3% no próximo mês, no maior aumento desde a revista feita em agosto de 2011. A prestação aumentará quase 14 euros, colocando o valor da mensalidade ao banco acima dos 460 euros nos próximos seis meses (até à próxima revisão).
Num mesmo cenário, em relação aos empréstimos associados à Euribor a 12 meses — o indexante que tem dominado os financiamentos para a compra de habitação nos últimos anos –, a subida será maior. A prestação sobe 7% (maior subida desde 2011) para cerca de 482 euros ao longo do próximo ano, isto depois de a Euribor neste prazo ter regressado a valores positivos no último mês.
No caso dos contratos indexados à Euribor a três meses, o agravamento rondará os 1%, na maior subida desde maio de 2020 que será traduzida num aumento de mais de mais de cinco euros na prestação: o encargo mensal passará para perto de 452 euros, o valor mais elevado desde julho de 2020.
Há uma boa e uma má notícia no meio disto. A boa notícia é que as Euribor continuam em níveis baixos e, nessa medida, a prestação da casa também está longe dos valores observados na última década, pelo que estas subidas ainda serão absorvidas com relativa facilidade pelas famílias. A má notícia é que as Euribor vão continuar a subir nos próximos tempos e isso traduzir-se-á num maior esforço com o empréstimo ao banco. Até quando vão subir é a pergunta central.
O aumento da prestação da casa surge na sequência da subida das taxas Euribor, que se intensificou neste mês de abril, perante as perspetivas de que o BCE vai ter de subir as suas taxas para travar o pico de preços. Recentemente, vários responsáveis do banco central, incluindo o vice-presidente Luis de Guindos, transmitiram a mensagem aos mercados de que o fim das compras de ativos poderia ocorrer em julho, mês em que as taxas poderiam começar a subir. Estas declarações tiveram impacto imediato nos mercados monetários.
Os analistas antecipam que a Euribor a três e a seis meses (perto de três quartos dos contratos de empréstimo para a compra de casa estão associados a estes dois indexantes) ainda se mantenham em terreno negativo durante este ano, devendo inverter para valores positivos em 2023.
Esta semana, o presidente do Santander Totta disse ao ECO que as famílias portuguesas estão “razoavelmente preparadas” para enfrentar a subida dos encargos com a habitação. “Vão pagar mais pela prestação da casa, mas não é passar para uma taxa de 1% que vai fazer grande diferença”, considerou Pedro Castro e Almeida em declarações ao ECO, lembrando que elas acumularam muitas poupanças durante o período da pandemia e poderão ser uma almofada importante para conter o embate da subida dos juros.
Banco de Portugal e o presidente da Associação Portuguesa de Bancos alertaram nos últimos meses para as famílias se prepararem para a subida das taxas dos empréstimos da casa.
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