Subida dos juros em julho “é possível”, admite membro do BCE
A missão do BCE será "evitar" que a elevada inflação fique "enraizada" nas expectativas das pessoas, mas Schnabel admite que haverá pressão para subir salários se a inflação se mantiver elevada.
Isabel Schnabel, que é membro da comissão executiva do Banco Central Europeu (BCE), admitiu esta terça-feira que é possível haver uma subida dos juros na Zona Euro já em julho. Porém, em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, a economista alemã considera que é preciso esperar pelo que disserem os dados no momento de decisão.
“Com base na perspetiva atual, um aumento dos juros em julho é possível, na minha opinião“, afirmou Schnabel na entrevista publicada no site do BCE, ressalvando que será preciso “esperar para ver como é que os dados evoluem até ao momento da decisão”. “Falar já não é suficiente, temos de agir”, acrescentou. No final de abril tinha sido a presidente do BCE, Christine Lagarde, a dizer que havia uma “forte probabilidade” de subida dos juros este ano.
Seja qual for o veredicto final, a economista deixou a garantia, tal como o BCE tem dito sempre, de que só haverá uma subida dos juros após o fim da compra líquida de ativos (dívida pública), o que deverá acontecer no início do terceiro trimestre, ou seja, em julho.
Em julho, o conselho de governadores do BCE — que junta os 19 governadores dos bancos centrais do países da Zona Euro e os membros da comissão executiva do BCE — irá reunir-se para decidir a política monetária da União no dia 21.
Na entrevista, Isabel Schnabel admite que o BCE tem de melhorar a sua comunicação e diz compreender a preocupação dos europeus. “A inflação está extremamente elevada e isso tem um impacto particularmente duro nos rendimentos mais baixos“, disse, referindo que é por isso que tenta explicar a política monetária de forma mais inteligível em formatos diferentes dos habituais, como o Twitter e o YouTube.
“Antes da pandemia, a inflação tinha estado baixa por um longo período e por isso não era um assunto para a maioria das pessoas, mas quando um certo nível foi ultrapassado a inflação de repente passou a ser um assunto de debate público intenso, o que aumenta as expectativas [sobre o BCE] para reagir“, reconhece a economista alemã.
Schnabel explicou ainda que, neste momento, não vê uma espiral de preços e salários que se autoalimenta. Contudo, notou que os dados contam a história do passado e que a política monetária tem de olhar para o futuro. Isto é, o BCE não pode “esperar até que haja uma espiral de preços-salários já em andamento para atuar”.
A missão do BCE será “evitar” que a elevada inflação fique “enraizada” nas expectativas dos agentes económicos, mas Schnabel admite que haverá pressão para subir salários se a inflação se mantiver “tão alta durante um período prolongado” por causa da perda de poder de compra acumulada.
Na reunião de política monetária de abril, o BCE confirmou que iria acabar com a compra de obrigações soberanas — estímulos que são conhecidos por quantitative easing — algures no terceiro trimestre. Dias depois, Lagarde indicou que tal deverá acontecer logo no início do terceiro trimestre, ou seja, em julho. A próxima reunião de política monetária do BCE ocorrerá a 9 de junho.
A concretizar-se a subida dos juros a 21 de julho, este será o primeiro aumento dos juros diretores do BCE em mais de uma década. A última vez que houve uma subida foi a 13 de julho de 2011, ainda com o francês Jean-Claude Trichet, que viria a ser substituído pelo italiano Mario Draghi.
A aceleração da taxa de inflação já vinha do segundo semestre de 2021 devido à recuperação económica pós-pandemia, mas a invasão russa na Ucrânia veio intensificar as pressões inflacionistas, em particular no preço da energia e de determinados produtos do setor agrícola.
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