Preço do azeite vai subir em Portugal
O azeite vai encarecer em Portugal devido à baixa produção de azeitona no ano passado. Produtores nacionais estão "inquietos" relativamente à alteração dos preços de azeite na origem.
Em 2016, a produção de azeitona nacional para azeite caiu perto de 30%, segundo os dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No total, foram produzidas apenas cerca de 491 mil toneladas em todo o território nacional, embora o INE avance que é azeite “de boa qualidade”. A redução no total da produção deveu-se essencialmente a “condições climatéricas adversas” e à “alternância anual de produção dos olivais tradicionais”, esclareceu uma fonte do INE à agência Lusa.
Mas a situação não é exclusiva de Portugal. Em 2016, as condições adversas também afetaram as produções de países como a Tunísia, Grécia ou Itália.
Ao ECO, Mariana Matos, secretária geral da Casa do Azeite, que representa cerca de 90% do volume de azeite embalado comercializado em Portugal e exportado para vários países, defendeu que “uma vez que os stocks mundiais de azeite também se encontram em níveis relativamente baixos, a menor produção na campanha 2016/2017 deverá significar uma manutenção dos preços a níveis mais elevados, e até, provavelmente, um aumento dos preços de azeite nos meses de verão“.
O aumento do preço na origem (na matéria prima) terá de levar, mais tarde ou mais cedo, ao consequente aumento dos preços ao nível do consumidor final.
A responsável revelou ainda que várias empresas associadas à Casa do Azeite se mostraram inquietas relativamente à alteração dos preços de azeite na origem, porque “esse aumento do preço do azeite para o consumidor final” significa também, normalmente, “uma retração do consumo de azeite que não é desejável de todo”. Mariana Matos esclareceu que é sobretudo nos mercados de exportação, que têm uma menor tradição de consumo de azeite, que um aumento muito significativo do preço do produto tem mais possibilidade de levar “à sua rápida substituição por outras gorduras alimentares líquidas”, como os óleos vegetais, as margarinas ou manteigas. Assim, a situação ideal seria a de uma estabilidade de preços na origem “que permitisse também uma estabilidade dos preços para o consumidor final”, afirmou Mariana Matos.
Um golpe duro para o Alentejo
A região do Alentejo, sozinha, é responsável por “70 a 80%” da produção nacional de azeite, segundo Henrique Herculano, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo. A região detém quase 170 mil dos 315.340 hectares do país inteiro. Henrique Herculano esclareceu que a produção do ano passado foi prejudicada “pelas chuvas de maio, que afetaram a floração das árvores” e pelos “calores tardios, sobretudo em setembro, que diminuíram o rendimento da azeitona”, e alertou ainda que a “esmagadora maioria do azeite” que os portugueses estão a comprar agora “ainda não deve ser desta campanha”. “Lá para maio ou junho já é capaz de haver uma subida do preço, a não ser que haja a importação de azeites do norte de África”.
Também Paulo Velhinho, diretor executivo da Cooperativa de Olivicultores de Borba, que conta com cerca de 600 associados e é uma das principais da região alentejana, falou com a agência Lusa e afirmou que a produção conseguida em 2016 teve “uma quebra de cerca de 40% em relação a anos normais”, e como a azeitona foi paga a um preço “mais elevado”, “os sócios da cooperativa apanharam mais azeitona e não a deixaram nas oliveiras“, acrescentou.
“O preço da azeitona na campanha de 2015 foi, em média, entre 36 e 38 cêntimos por quilo“, enquanto, na última campanha, “a média foi de 48 cêntimos por quilo, embora tenha havido azeitona galega que chegou a render 55 cêntimos por quilo“, disse Paulo Velhinho à Lusa.
Em Trás-os-Montes são os produtores quem mais sofre
A seguir ao Alentejo, Trás-os-Montes e Alto Douro é a segunda maior região produtora de azeite em Portugal, e em 2016 as quebras na produção rondaram os 20%. O azeite é a produção agrícola com o segundo maior peso para a economia transmontana, a seguir ao vinho, e movimenta por ano um valor bruto de 30 milhões de euros, numa produção média anual de azeite que ronda as 80 a 90 mil toneladas, produzidas em mais de uma centena de lagares. Mas em 2016, tendo em conta a baixa na produção, as consequências foram muito negativas, principalmente para os produtores.
À Lusa, o presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Branco, disse que “sofre sempre o produtor” quando há uma diminuição da produção associada ao aumento do preço do azeite. Defendeu ainda que o acréscimo nos preços não compensa o trabalho tido na produção, que é sempre o mesmo independentemente do resultado, e classificou 2016 como um ano “muito confuso” na região nortenha, em especial tendo em conta o volume de venda da azeitona para fora, nomeadamente para Espanha. “É azeite bom que vai ser feito com a nossa azeitona fora da região”, acrescentando que a consequência será “menos azeite” com a marca regional, o que considerou “péssimo” para o azeite regional certificado. Defendeu ainda que o setor do azeite não devia depender das oscilações de mercado, mas ter “um preço estabilizado”.
Como estão a reagir os comerciantes
À Lusa, Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, a detentora da marca Pingo Doce, afirmou que uma vez que “o preço (do azeite) vai subir”, isso levará “automaticamente” a que “o consumidor vai procurar outras gorduras”. Mas considera que “não é nada de preocupante” porque “não vai haver falta de nada”.
Já para o Lidl Portugal, os maus resultados da produção de azeitona conseguidos em 2016 não são preocupantes, isto porque “tendo em atenção os ‘stocks’ de azeite existentes no final de 2016, e apesar de alguma quebra na produção verificada na campanha do ano anterior, não são esperadas grandes oscilações nos preços de azeite para o corrente ano”.
Já para os hipermercados Continente, do grupo Sonae, que não são produtores ou transformadores de azeitona, as questões da baixa na produção e aumento dos preços “deverão ser remetidas para os organismos que regem essa atividade como, por exemplo, a Casa do Azeite“, concluiu fonte da cadeia de hipermercados.
A Lusa também tentou entrar em contacto com o grupo Auchan (detentor dos hipermercados Jumbo) e o grupo Os Mosqueteiros, mas não obteve resposta.
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