Reservas para os hotéis e AL no verão perto do nível pré-pandemia. Preços sobem
Hotelaria e alojamento local apontam para reservas bastante próximas dos números pré-pandemia. Ambos os setores admitem aumentos de preços.
Já passaram dois anos desde que a pandemia apareceu no país e o turismo, que foi um dos setores mais afetados, está hoje praticamente recuperado de todo o impacto. As reservas são hoje feitas em cima da hora, o chamado last minute, e os turistas estrangeiros estão de volta. O setor está bastante otimista para o verão e os números são claros. Hotelaria e alojamento local estimam que as reservas estejam praticamente ao nível de 2019, com o Algarve a liderar a procura, como é habitual. Em termos de preços, podem esperar-se aumentos.
“As previsões para o verão são muito boas. Acho que já devemos estar a igualar os números de 2019, na ordem dos 90%”, diz ao ECO Cristina Siza Vieira, CEO da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). “A concretizarem-se as reservas em pipeline, podemos ficar muito próximos de 2019. Contamos sempre com reservas last minute, mas as previsões apontam para um verão excelente do ponto de vista da ocupação“, reforça.
Do lado do alojamento local, a poucas semanas do verão, as perspetivas são igualmente positivas. “Tendo em conta o que foram os últimos dois anos, o feedback foi positivo. Há mais vontade de viajar e os estrangeiros estão, nitidamente, a voltar”, diz Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local de Portugal (ALEP). “Já começamos a sentir, finalmente, uma retoma positiva”, acrescenta.
A associação estima que as dormidas e o número de hóspedes fiquem entre 8% a 12% abaixo dos números de 2019. Um cenário que está em linha com as projeções do setor hoteleiro. Por enquanto, a principal preocupação é em termos da conectividade aérea, sobretudo no que diz respeito aos slots que a TAP terá de libertar no aeroporto de Lisboa. “Isso preocupa um pouco, porque há interesse [dos estrangeiros] em virem para Portugal”, diz.
Do lado do Grupo Pestana, os números falam por si. “As reservas estão boas”, diz José Theotónio, notando, contudo, que hoje “são todas canceladas à última da hora”, referindo-se ao last minute. Comparando com os demais anos, as “estimativas apontam para ficar entre 85% a 90% dos números de 2019, se nada acontecer até lá”, adianta o CEO da cadeia hoteleira, ao ECO.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo Vila Galé, diz ao ECO que, “desde abril, o número de reservas melhorou significativamente”. “Estamos com níveis de reserva e procura semelhantes a 2019”, afirma o responsável pela segunda maior cadeia hoteleira do país.
Cristina Siza Vieira diz ainda não ser possível antecipar como terminará o ano de 2022: “Ainda é um pouco cedo”. Mas a CEO da AHP nota que tudo aponta para que só em 2023 se alcancem os números de 2019, sendo que 2022 deverá ficar a cerca de 80% a 85% do desempenho pré-pandemia.
Eduardo Miranda prefere olhar para o futuro com cautela, mas acredita que o turismo “vai ser essencial e o motor principal para a retoma do país”. “O alojamento local tem hoje um papel muito importante, representa 40% das dormidas. Sem alojamento local não há recuperação do turismo“, afirma.
Interior sobe, mas Algarve mantém-se líder
Uma das tendências trazidas pela pandemia foi a maior procura pelas regiões do interior. “O interior continua a mostrar força, com os estrangeiros também a mostrarem interesse por aquelas regiões”, diz o representante do alojamento local. “O interior tem uma boa procura. Claro que a oferta não é grande, mas foi interessante este despertar” que a pandemia trouxe. Eduardo Miranda nota que hoje as estadias estão mais longas e que isso “é bom para a própria sustentabilidade do destino”, permitindo visitar novas zonas.
Sobre os demais destinos, o presidente da ALEP acredita que “os destinos que já estavam consolidados vão continuar”, incluindo os destinos urbanos, como Porto e Lisboa. Aqui, destaca-se o Algarve, que continua a ser o destino mais procurado no verão. E não só para quem opta pelo alojamento local.
“O Algarve é o destino de excelência. É o rei durante o verão”, diz Cristina Siza Vieira, acrescentando que zonas como o Centro, Alentejo e Norte “também cresceram muito na pandemia” e que a procura por cidades também se mantém “muito sólida”.
José Theotónio, do Grupo Pestana, complementa e afirma que “tudo o que é praia” se vai destacar este verão, nomeadamente as unidades localizadas no Algarve e Porto Santo, na Madeira. Em termos de nacionalidades, “os mais fortes são os ingleses”, mas o mercado alemão começa a recuperar. Mas os turistas habituais vão continuar, como os espanhóis e holandeses. Cristina Siza Vieira destaca ainda o mercado americano, “que tem tido um comportamento interessante”.
Inflação e oferta ditam subida de preços
Como aconteceu na Páscoa, a tendência para o verão é de subida de preços. Não só pelo aumento da inflação, que está em máximos de 29 anos, mas também porque é a lei da oferta e da procura. “Os preços naturalmente cresceram”, diz Cristina Siza Vieira, sem conseguir adiantar um número, uma vez que os resultados do inquérito que a AHP faz junto dos associados só serão conhecidos a 2 de junho.
“Sabemos que os preços cresceram. Na pandemia não houve um sacrifício do preço e este ano temos de descontar a inflação, por isso é natural que o preço aumente. Fora isso é a lei da oferta e da procura”, explica a responsável. Isto porque, como as reservas são feitas em cima da hora, os hotéis têm capacidade para ajudar os preços consoante a procura.
No Grupo Pestana os preços aumentaram, sobretudo “porque há hoje uma muito menor intermediação”, diz José Theotónio. O CEO da cadeia hoteleira explica ao ECO que “o preço é muito mais dinâmico e feito em função da procura” e que atualmente as estadias estão 10% a 15% mais caras. “Mas isso é muito pela desintermediação”, sublinha. “Quando o hóspede marca diretamente connosco, temos a receita toda, e quando marca com o operador, o operador fica com uma margem de 20% a 30%. O preço que fica para nós tem subido”.
Nos hotéis Vila Galé, “os preços estão ligeiramente acima de 2019 no que diz respeito ao alojamento”, diz Gonçalo Rebelo de Almeida, notando ainda que, “no caso da alimentação, ainda poderão ter que ser revistos em alta devido ao aumento generalizado das matérias-primas”.
Do lado do alojamento local, “os preços estão a manter-se”, diz Eduardo Miranda. “O maior receio que tínhamos era que, no início da retoma, houvesse uma guerra de preços”, com os empresários “a caírem na tentação de baixar os preços para conseguir clientes. Mas isso, felizmente, não aconteceu”.
O presidente da ALEP diz que, “em alguns casos, tem-se conseguido alguma atualização de preços, porque os custos são maiores”, referindo-se às despesas com o pessoal e à subida da inflação. E os aumentos poderão não ficar por aqui. “É capaz de haver alguma margem de manobra para recuperar um pouco as perdas que a inflação traz“, remata Eduardo Miranda.
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