Pandemia aumenta desigualdade e reforça urgência de baixar dívida
Estudo da FFMS concluiu que a pandemia de Covid-19 teve um impacto maior nos trabalhadores com relações de trabalho mais precárias.
A pandemia de covid-19 reforçou a urgência da redução do endividamento, bem como as desigualdades já existentes, penalizando os mais jovens, menos experientes, com menor escolaridade e os que têm “relações de trabalho mais precárias”, segundo um estudo.
“A pandemia parece assim ter reforçado desigualdades anteriores. Penalizou os mais jovens, menos experientes, e os menos escolarizados. Teve um impacto maior nos trabalhadores com relações de trabalho mais precárias”, concluiu a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) no estudo “Um novo normal? Impactos e lições de dois anos de pandemia em Portugal”.
De forma geral, a covid-19 veio assim expor e acentuar problemas que já existiam, associados “à segmentação do mercado do trabalho português”, levando à convivência de “um elevado grau de rigidez e proteção no emprego de trabalhadores mais velhos e qualificados com mecanismos compensatórios de flexibilidade que afastam sobretudo os mais jovens de relações duradouras de trabalho”.
Segundo a fundação, confirmando-se a natureza estrutural da recomposição da atividade económica, surge um “potencial desajustamento” entre o stock de capital humano e a procura de qualificações e competências.
Em Portugal poderá implicar um “difícil trade-off” entre o aumento da produtividade e a diminuição da exclusão, situação que pode ser atenuada caso se mantenham “artificialmente” empresas e empregos “pouco produtivos”, contudo isto acarreta o risco de “deprimir” o crescimento da economia nacional.
Neste sentido, tanto o desenho dos apoios públicos como o seu timing têm que negociar esse trade-off.
“Deste modo, o reforço da capacidade para reconverter carreiras e competências parece, ao fim de dois anos, um aspeto decisivo para assegurar que a economia portuguesa não se veja confrontada com uma escolha entre produtividade e igualdade”, acrescentou.
Por outro lado, a crise provocada pela pandemia veio reforçar a urgência da contração do nível de endividamento da economia portuguesa, bem como o seu respetivo crescimento.
A isto, conforme apontou, acresce a dúvida sobre a persistência ou a transitoriedade dos aumentos de preços.
No que se refere à recuperação económica a nível europeu, a FFMS disse que o facto de esta ainda estar incompleta sugere que a implementação das agendas de crescimento, que orientam os programas de recuperação e resiliência, permanece relevante.
Adicionalmente, estas podem levar ao aumento do dinamismo no mercado do trabalho, o que classificou como um objetivo desejável ao longo prazo.
Porém, a perspetiva de uma subida das taxas de juro tem “riscos substanciais” para a sustentabilidade da dívida dos países periféricos e para a recuperação do impacto económico gerado durante a pandemia.
“Para todos estes desafios, a capacidade de agência da economia portuguesa é muito limitada”, referiu, notando que a guerra na Ucrânia cria um novo “foco de incerteza” que vai influenciar, diretamente, estes desafios e reforçar a “tal falta de capacidade de agência”.
Este estudo tem por base, entre outras fontes, um inquérito de opinião, que foi aplicado em duas vagas.
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