Portugal seduz empresas alemãs com cockpit de Valongo e cabelo de CR7

Industriais estão na Hannover Messe a tentar provar que “Portugal faz sentido” como hub de engenharia e fornecedor “verde e digital” para clientes alemães, alinhados com os anseios de Costa e Scholz.

Na madrugada de 3 de outubro de 2016, um incêndio destruiu por completo as instalações da Soplast, detida por Frederico Moura e Armando Alves e que emprega atualmente 70 pessoas em Valongo. Quase seis anos depois daquele que foi “o maior azar da [sua] história” iniciada em 1980, a empresa especializada na produção de componentes termoplásticos para os setores automóvel, construção e eletrónica está na Hannover Messe renascida (literalmente) das cinzas, tendo faturado perto de 8,4 milhões de euros no ano passado.

Depois de se ter estreado em 2019 nesta que é a maior feira do mundo no setor da tecnologia industrial, a empresa que reconstruiu a fábrica na freguesia de Campo começou esta segunda-feira a mostrar que “[leva] muito a sério a participação” neste evento. O diretor-geral, Henrique Rézio, descreve ao ECO como um “momento histórico” a apresentação mundial do UNIC2, um cockpit automóvel desenvolvido em parceria com a Universidade de Coimbra e já patenteado a nível internacional, que “faz uso de uma tecnologia única de eletrónica elástica capaz de ser integrada em geometrias ilimitadas e em vários materiais”.

O projeto UNIC2 da Soplast e da Universidade de Coimbra foi um dos selecionados para estar presente no Pavilhão de Portugal

O protótipo da Soplast é um dos destaques no hall da feira que concentra o maior número de empresas portuguesas – aquelas ligadas à engenharia, maquinaria e automação -, num total de 109 que durante quatro dias integram a comitiva portuguesa que quer atacar o Mittelstand alemão com fiabilidade e talento. Já no extremo oposto da Hannover Messe, há uma estreante -– a Insparya, dedicada ao diagnóstico, tratamento e investigação em saúde e transplante capilar — que consegue rivalizar nesta feira com gigantes mundiais à custa da imagem de… Cristiano Ronaldo. É que o futebolista do Manchester United e capitão da seleção nacional é sócio da empresa fundada e liderada pelo economista Paulo Ramos, que inclui ainda no grupo de acionistas o consórcio de fundos luso-britânico Vallis/Hermes.

Com clínicas no Porto, Braga, Lisboa, Vilamoura, Marbella e Madrid, o antigo grupo Saúde Viável conta com uma equipa de cerca de 300 pessoas e está na Alemanha a apresentar dois projetos: uma ferramenta de extração capilar que já está em utilização e o HairBot, que promete a automatização completa do procedimento de transplante capilar com recurso a um braço robótico. Foram ambos desenvolvidos pelos cinco engenheiros que trabalham no centro de investigação e desenvolvimento (I&D) dedicado à área da biomedicina e da robótica aplicada à saúde capilar, localizado há três anos na cidade Invicta (clínica da Foz) e no qual diz investir dois milhões de euros por ano.

“As pessoas primeiro reconhecem o Cristiano Ronaldo [no cartaz] e depois perguntam-nos pela tecnologia [risos]. Estamos a dar passos incrementais para automatizar o processo de transplante capilar, que será uma vantagem competitiva face às outras clínicas. E queríamos mostrar que, além dos serviços médicos, existe esta componente tecnológica dentro do grupo, da qual estamos muito orgulhosos”, resume ao ECO um dos engenheiros da equipa de investigação da Insparya, João Correia Leite, notando que estas inovações foram desenvolvidas e fabricadas em Portugal, com 80% dos componentes de origem nacional.

João Correia Leite integra o centro de investigação e desenvolvimento da Insparya, dedicado à biomedicina e robótica aplicada à saúde capilar30 maio, 2022

O “talento, a inovação, a qualidade e a fiabilidade” da indústria portuguesa são os principais argumentos destacados pela AICEP, que, nesta edição de 2022 em que Portugal tem o estatuto de país parceiro da Hannover Messe, assume a coordenação da participação nacional com a associação do metal (AIMMAP) e com a CCILA – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã. E com um forte apoio político, além de um cheque de quatro milhões de euros. Depois da abertura institucional realizada na noite de domingo por António Costa e Olaf Scholz, o primeiro-ministro português e o chanceler alemão voltaram a estar juntos esta segunda-feira no recinto da feira, percorrendo durante duas horas alguns dos stands para conhecer projetos de parceria entre os dois países.

Siegfried Russwurn, presidente da confederação da indústria alemã (BDI), notou na sessão de abertura que “sabe bem sentir o apoio político”, numa altura em que reconheceu estar “assustado com a situação da guerra na Ucrânia, que ameaça os equilíbrios” necessários também na vertente empresarial. “Está na altura de o Governo olhar para as empresas como parceiras”, reforçou António Saraiva, presidente da CIP. Olaf Scholz dramatizou a necessidade de a indústria inovar para ser “mais verde, mais inteligente e mais eficiente”; e Costa garantiu ao sucessor de Angela Merkel que Portugal está em boas condições para cooperar.

O chefe do Executivo socialista sublinhou que, numa altura em que a “Europa está a relocalizar uma parte da sua produção” novamente para o continente, “Portugal é o sítio para se adquirir equipamento e inputs industriais para investir e para inovar”. “Neste momento, com as transições climática e digital, Portugal é o país para fazerem crescer os vossos negócios de uma maneira verde e digital”, insistiu António Costa, dirigindo-se aos empresários alemães presentes na plateia e terminando a intervenção com entusiasmo: “Let’s do business!”.

Máquinas e software para integrar na indústria alemã

Foi precisamente para fazer negócios que a Cheto viajou de Oliveira de Azeméis para Hannover, contando “aumentar a credibilidade da sua marca no mercado alemão e dignificar a tecnologia Made in Portugal”. Criada em 2009 por Carlos Teixeira e Sérgio André, produz máquinas de furação profunda e fresagem para os setores dos moldes, do petróleo e gás, e da energia nuclear. Exporta para vários mercados na Europa, Ásia, América do Norte e América do Sul, com o presidente executivo a destacar países como a Noruega ou a Coreia do Sul, que a “procuraram pela inovação e pela capacidade de resposta em setores avançados como os da energia”.

Líder de uma empresa que ocupa cerca de 10 mil metros quadrados na Área de Acolhimento Empresarial de Ul-Loureiro, emprega perto de 50 pessoas e gera uma faturação anual média de 7,5 milhões de euros, Carlos Teixeira explica ao ECO que as máquinas da Cheto se distinguem pela “integração completa de furação profunda e fresagem numa só máquina ferramenta”. A presença na Hannover Messe, aponta, é “uma excelente oportunidade para apresentar ao mercado alemão o novo modelo SIC 1000, (…) que surge de um grande investimento no desenvolvimento tecnológico, mostrando a [sua] capacidade de customização digital e adaptação à indústria 4.0”.

As máquinas da Cheto distinguem-se pela integração completa de furação profunda e fresagem numa só ferramenta

A digitalização é outra das grandes apostas de Portugal para esta edição da Hannover Messe, que arrancou esta segunda-feira e só termina no dia 2 de junho. É no pavilhão dedicado aos ecossistemas digitais, onde estão mais 14 empresas nacionais, que a Infraspeak está a mostrar a sua plataforma inteligente de gestão de manutenção e infraestruturas. Fundada em 2015, a empresa sediada no Porto tem também escritórios em Londres (Reino Unido), Barcelona (Espanha) e Florianópolis (Brasil), tem 160 trabalhadores, soma mais de 600 clientes em duas dezenas de mercados e realizou recentemente uma ronda de investimento (série A) no valor de dez milhões de euros.

Rui Santos Couto, vice-presidente para a área do crescimento, diz ao ECO que o “ponto alto” em Hannover vai ser o lançamento conjunto da integração da plataforma da Infraspeak com o Building Management System (BMS) da Siemens, para permitir que todos os dados recolhidos possam ser transformados em ações concretas de manutenção, em tempo real. Resultado esperado? “Redução de consumos de energia e de componentes dos equipamentos, com um impacto relevante na pegada carbónica dos edifícios e na sustentabilidade”. “Os edifícios são hoje responsáveis por perto de 50% das emissões anuais de CO2, sendo que 27% estão diretamente relacionadas com a operação. É urgente tornar os edifícios mais eficientes e a manutenção é uma das principais alavancas para o aumento dessa eficiência”, argumenta o gestor.

Os edifícios são hoje responsáveis por perto de 50% das emissões anuais de CO2, sendo que 27% estão diretamente relacionadas com a operação. É urgente tornar os edifícios mais eficientes e a manutenção é uma das principais alavancas para o aumento dessa eficiência.

Rui Santos Couto

Vice-presidente da Infraspeak

 

Esta conexão das PME com as perto de 600 organizações alemãs presentes no mercado português está presente em todos os discursos e até na maior parte dos stands. Além da portuense Infrapeak, também a Introsys trouxe à feira trabalho para mostrar: um sistema de localização de veículos em tempo real para a unidade da Volkswagen Autoeuropa, designado Sinergea. A Siemens forneceu o hardware e o software, assim como a engenharia. A Introsys, instalada junto à fábrica de Palmela, tratou do desenvolvimento, programação e implementação do software em função das especificações fornecidas pela equipa de planeamento logístico da construtora automóvel.

Outros projetos que a Siemens está a mostrar em Hannover, a par dos hubs exportadores que localizou em Portugal para modernizar portos e para soluções logísticas para armazéns automáticos, são um sistema de gestão inteligente de resposta a inundações, energia e qualidade das águas balneares desenvolvido com a Águas do Algarve e diversas universidades; a plataforma de produção modular adaptável a várias indústrias, com a Zeugma e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP); o armazenamento de energia e gestão de microrrede na Ilha Terceira para a EDA – Eletricidade dos Açores; a parceria com a CaetanoBus para a eletrificação e descarbonização de autocarros; e um projeto que acelera a recuperação de pacientes no Hospital da Luz, através de luzes humanizadoras.

Outro símbolo desta ligação luso-alemã é o centro de investigação que a Fraunhofer tem em Portugal desde 2009, com o chanceler Olaf Scholz a referi-lo na sessão de abertura da Hannover Messe como “um grande sucesso”. Com sede no Porto e escritórios em Lisboa, surgiu de uma parceria entre a Sociedade Fraunhofer (Fraunhofer-Gesellschaft), a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a Universidade do Porto. Com uma carteira de clientes de áreas de negócio como a saúde, agricultura, retalho ou energia, tem competências consolidadas nas áreas da inteligência artificial, sistemas ciberfísicos e design centrado no utilizador.

“O nosso lema é resolver problemas reais da sociedade, usando a inovação. Propomos soluções em tecnologia avançada que tenham em conta as necessidades dos utilizadores finais”, resume Liliana Ferreira, diretora do Fraunhofer Portugal AICOS. Em 2021, de acordo com os dados fornecidos ao ECO por esta organização, as receitas de projetos de investigação aumentaram 34%, para um total de 2,7 milhões de euros, contando atualmente com 96 colaboradores, incluindo investigadores, equipa de suporte, bolseiros e alunos de mestrado.

Do metal de Águeda às cintas de Arouca. Outras dez empresas para seguir na cimeira industrial de Hannover

Portugal está (até literalmente) no centro da maior feira industrial do mundo, aproveitando o estatuto de “país parceiro” na edição de 2022 da Hannover Messe, que arranca esta segunda-feira e só termina a 2 de junho. Entre a comitiva nacional que integra um total de 109 empresas, o ECO mostra o histórico, as novidades e as expectativas de dez projetos ligados aos setores da engenharia e maquinaria, automação, energia e serviços digitais.

Fundiven

Presente na Hannover Messe desde 2011, a Fundiven volta a ver nesta feira “uma oportunidade para estar com os clientes do principal mercado”, conta ao ECO o administrador, Joaquin Almeida. Fundada em 1978 por Ricardo Anjos e Vítor Almeida com o objetivo de produzir peças em alumínio por fundição injetada, a empresa familiar de Águeda é gerida atualmente pelas segunda e terceira gerações, emprega 180 pessoas e no ano passado gerou receitas de 13 milhões de euros.

Direta ou indiretamente, a exportação pesa 90% do negócio e a Fundiven – Fundição Venezuela “continua a apostar nos mercados mais desenvolvidos da Europa para crescer”. Além da Alemanha, também Suécia, França, Reino Unido, Bélgica e Espanha se destacam na lista de clientes em setores como a indústria do gás, automóvel, eletrodomésticos, eletricidade e eletrónica, máquinas e equipamentos industriais, e mobilidade suave.

“Hannover Messe já é para nós uma presença tradicional desde 2011. Uma oportunidade para estar com os clientes do nosso principal mercado.

Joaquin Almeida

Administrador da Fundiven

Depois do “forte investimento” realizado nos últimos anos, conta hoje com 30 mil metros quadrados de área edificada, 23 células de injeção e 17 centros de maquinação e equipamentos de primeira linha na área de controlo de qualidade e ambiente. Joaquin Almeida sublinha que a Fundiven continua a “apostar nas feiras como um meio de afirmação perante os clientes tradicionais e como um meio para [se] apresentar a potenciais novos clientes”.

ETMA Metal Parts

O sistema de dez Processos Produtivos Integrados, que a ETMA Metal Parts reclama ser caso único na Europa — e que tem na lista de “benefícios” um maior controlo de processos internos, a redução de custos (logística e qualidade) e maior flexibilidade –, continua a ser a principal aposta da empresa de Braga, pelo que este “será, sem dúvida, um dos motivos de maior atração ao stand” na Hannover Messe. Em declarações ao ECO, o administrador, António Miranda, frisa que esta feira “proporciona o ambiente e as condições ideais para apresentar as suas capacidades, tecnologias, soluções e novidades, não só para manter a relação com os [atuais], mas também numa perspetiva de angariação de novos clientes”.

António Miranda, administrador e diretor comercial da ETMA

Criada em 1940, esta fabricante minhota de peças metálicas de pequena dimensão tem mais de 200 trabalhadores, faturou 13,4 milhões de euros em 2021 e tem como principais mercados Espanha, Polónia, França, Hungria, Holanda, República Checa e Alemanha. Hitachi, Schneider Electric, Aspöck, Bosch, Continental, ABB, Borgwarner, Efapel, Lear Corporation, Novares são os principais clientes. António Miranda, que é também diretor comercial, descreve como “estratégica” a diversificação da atividade em várias áreas de negócio, incluindo as indústrias de componentes automóveis; bicicletas, ciclomotores e motociclos; elétrica; eletrodomésticos; sistemas de fixação; e injeção de plásticos.

Fábrica da ETMA Metal Parts, em Braga

Celoplás

Com unidade industrial de 41 mil metros quadrados de área total instalada a poucos quilómetros, em Grimancelos, no concelho vizinho de Barcelos — onde tem um parque com cerca de uma centena de máquinas de injeção e uma equipa com mais de 200 pessoas que trabalha 24 horas por dia e sete dias por semana –, a Celoplás, fundada em 1989, exporta também mais de 95% da produção para a Europa e para a Ásia (sendo o alemão o principal destino), num total de vendas próximo dos 30 milhões de euros.

Fábrica da Celoplás, em Barcelos

O que faz? Projeta, desenvolve e fabrica – através do processo de moldação por injeção e microinjeção – mais de 200 milhões de componentes de engenharia de elevada precisão por ano. Além disso, desenvolve e produz componentes à escala micro, utilizando tecnologias de micromaquinação e micromoldação. Está em Hannover para mostrar as competências em “produtos tecnicamente exigentes, envolvendo processos complexos”. O presidente, João Cortez, diz ao ECO que vê nesta feira “mais uma oportunidade para reforçar a sua posição competitiva (…) em especial no mercado alemão, caracterizada pela capacitação para a inovação e ainda para aceitar novos desafios tecnológicos situados na vanguarda da tecnologia”.

Artefita

De Barcelos para Escariz, freguesia de Arouca cujo nome deriva até do germânico “Aschari”. É lá que mora desde 1995 a Artefita, atualmente com 115 funcionários e receitas anuais de nove milhões de euros conseguidas sobretudo em França, Suécia, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Repete-se o objetivo, verbalizado ao ECO pelo diretor-geral, Gonzaga Oliveira, de mostrar na Hannover Messe 2022 “a verticalização do processo produtivo, a capacidade de adaptação ao desenvolvimento de novos produtos e a forma cada vez mais sustentável como os produz”. Expondo, por exemplo, alguns produtos reciclados e diversos acessórios em plástico e metal 100% produzidos localmente.

É possível encontrar os nossos produtos na embalagem, no desporto, na logística, nos cuidados de saúde, na organização de eventos, na construção ou em cadeiras de bebé.

Gonzaga Oliveira

Diretor-geral da Artefita

A Artefita produz cintas de fixação, de segurança e multiusos, que desenvolve à medida de cada cliente OEM (Original Equipment Manufacturer) e à escala global. A partir das fitas têxteis produzidas dentro de portas ou em parceria com os clientes em 35 países, desenvolve, testa e adapta diversos tipos de soluções que podem ser encontradas em embalagens, no desporto, na logística, nos cuidados de saúde, na organização de eventos, na construção ou em cadeiras de bebé. “Esperamos com esta participação, que é a 40ª num evento fora de Portugal, poder trazer vários desafios para posteriormente, com a nossa fantástica equipa, os convertermos em negócios”, acrescenta o gestor.

Do iT Lean

No Hall 5 da Hannover Messe, numa área dedicada aos ecossistemas digitais, estará durante quatro dias a Do iT Lean, sediada em Leiria e com perto de 300 colaboradores, que é uma empresa de desenvolvimento de aplicações web e mobile baseadas em exclusivo na plataforma low-code do “unicórnio” português OutSystems. Fundada em novembro de 2009 por Frederico Ferreira e Pedro Delgado, no ano passado fez no estrangeiro quase 80% das vendas totais de 15 milhões de euros, com destaque para EUA, Canadá, França, Espanha, Reino Unido, Países Baixos, Hong Kong, Malásia, Austrália e Singapura.

Em declarações ao ECO, o fundador e presidente, Frederico Ferreira, relata que aceitou o convite da associação dos industriais do metal (AIMMAP) para integrar a delegação portuguesa nesta feira “com o objetivo de demonstrar o portefólio de projetos de transformação digital para empresas de todas as dimensões, diferentes setores de atividade e de diferentes países”. Expandir a presença na Europa, conquistar novos clientes para entregar estas “soluções ‘lean’ fáceis de usar e manter”, aumentar o alcance e o reconhecimento da marca, e “ter a oportunidade de interagir diretamente” com os milhares de visitantes. Estas são as metas do responsável da Do iT Lean para a participação de estreia nesta feira.

Frederico Ferreira, CEO da Do iT Lean

Bresimar Automação

Soluções nacionais com inovação de ponta é também o que traz à Hannover Messe o grupo Bresimar, presença habitual na feira desde 2013 e que dedica o stand às novidades desenvolvidas “dentro de portas” pela Tekon Eletronics. Uma marca que criou em 2011 para consolidar o investimento em Investigação & Desenvolvimento (I&D), especializada em tecnologia de sensores sem fios para recolha de variáveis como temperatura, humidade, pressão, qualidade do ar ou CO2. Também na Alemanha está a Selmatron, empresa do grupo que fornece soluções especializadas de automação industrial e máquinas especiais para a Indústria 4.0.

Para João Breda, administrador do grupo especializada em equipamentos, sistemas e soluções para automação industrial, esta feira visitada por centenas de milhares de pessoas abre “uma oportunidade com um alcance de nível global”. Citado em comunicado, mostra-se “otimista pelo potencial tremendo em gerar clientes”. No stand, nas conferências ou nos showcases, vai apresentar as “valências, experiência e criação de valor para o cliente”, completa o gestor da empresa de Aveiro. Fundada em 1983, emprega 110 pessoas e em 2022 espera crescer 10% em relação aos 13 milhões de euros com que fechou o exercício do ano passado.

Energest

A energia é um dos temas quentes do momento e as soluções nesta área merecem um espaço próprio na participação portuguesa. Entre as 13 empresas, incluindo as gigantes EDP, Galp, REN ou Efacec, está a estreante Energest, localizada na Maia, que se dedica à conceção, projeto, construção e montagem de equipamentos e instalações térmicas industriais para vários setores: alimentar e bebidas, cimento, embalagens, fabricantes de equipamentos, farmacêutica, papel, madeiras, produção de energia, química e têxtil. Vocacionada para a consultoria em engenharia, tem 46 colaboradores e uma faturação anual de 7,2 milhões de euros.

Dos projetos em exibição na feira destacam-se as caldeiras de recuperação que aproveitam a energia contida nos gases de escape de turbinas e motores; e uma caldeira de vapor a gás natural / hidrogénio desenvolvida para a Navigator, em Setúbal, que apresenta como “a caldeira de maior potência construída em Portugal”. Um equipamento que diz permitir reduzir as emissões de CO2, aumentar a eficiência através da utilização de Best Available Technologies e elevar a eficiência na preparação e no transporte de combustível, diminuindo os riscos ambientais.

“A experiência adquirida ao longo de mais de três décadas pela equipa de engenharia multidisciplinar tem sido reconhecida, em vários projetos, por várias multinacionais de referência no setor da transformação de energia. Em Hannover, pretendemos dar a conhecer às empresas alemãs e de outras geografias as fortes competências da Energest no desenvolvimento de sistemas de transformação de energia”, resume ao ECO o administrador e fundador, José Guedes.

Cleanwatts

Outra empresa nacional em evidência na “ilha” da energia é o de uma cleantech digital sediada em Coimbra e com operações espalhadas pela Europa, EUA, Brasil e Japão, que no ano passado instalou a primeira comunidade de energia renovável (CER) em Portugal e que lidera o projeto de empreendedorismo social “100 Aldeias”, que está a implementar comunidades de energia em zonas rurais e interiores. Fundada em 2014, a Cleanwatts mostra em Hannover sistemas de otimização energética e o seu sistema operativo para a gestão das CER, que a cofundadora e diretora de tecnologias (CIO) apresenta ao ECO como “uma resposta aos grandes desafios da transição energética”.

Luísa Matos, CIO e cofundadora da Cleanwatts

A proposta das CER é a promoção de uma comunidade sustentável, com centrais de produção partilhadas, onde todos os membros consomem energia verde, limpa, produzida localmente e a custos reduzidos. Em Portugal, a Cleanwatts é pioneira na implementação das CER, assegurando todas as etapas do processo: organiza, gere, financia e constrói as soluções, projetando-as à medida dos modelos mais adequados para cada comunidade. (…) Vamos procurar demonstrar [nesta feira] os nossos casos de sucesso e alargar conhecimento de mercado, assim como criar awareness nesta área tão importante para a Europa, no contexto atual de uma maior independência energética, e obter novos leads comerciais”, resume Luísa Matos.

ISQ

É também no Hall 13 que está “estacionada” por estes dias o ISQ, que nesta terceira presença consecutiva em Hannover, como destaca ao ECO o presidente, Pedro Matias, vem mostrar soluções inovadoras na área do hidrogénio, assim como o desenvolvimento de algoritmos para a utilização de drones em inspeções técnicas industriais avançadas, nomeadamente em espaços confinados. Foi em 2004 que iniciou atividade nesta área, quando num projeto europeu investigou os efeitos da introdução de mistura de hidrogénio na rede europeia de gás natural. Hoje reclama ter know-how para avaliar a conversão de processos ou equipamentos para a utilização de hidrogénio, desde a fase de produção até ao transporte e distribuição.

Outro “projeto absolutamente disruptivo” em que participou e que está em exibição na Alemanha é o da cápsula espacial com revestimento de cortiça que foi desenvolvida para a agência espacial europeia (ESA). Será a primeira vez na história que uma sonda vai a Marte recolher amostras do solo e trazer qualquer coisa de volta ao planeta Terra. “Estes projetos demonstram que hoje em dia a indústria portuguesa e a engenharia portuguesa subiram na cadeia de valor e estão a um nível bastante elevado. As empresas portuguesas são cada vez mais procuradas para o desenvolvimento de soluções integradas de engenharia, nomeadamente em termos das necessidades da Indústria 4.0”, sustenta Pedro Matias.

A indústria portuguesa e a engenharia portuguesa subiram na cadeia de valor e estão a um nível bastante elevado.

Pedro Matias

Presidente do ISQ

Critical Manufacturing

Quem conhece os cantos ao recinto de Hannover é a Critical Manufacturing, que marca presença desde 2013 e que este ano está presente com o stand habitual (Hall 4) e integrado na delegação portuguesa dos ecossistemas digitais. “Por um lado, queremos manter o nosso espaço junto das maiores empresas mundiais com soluções para a indústria, como a Microsoft, Google e SAP. Por outro, queremos aproveitar o facto de Portugal ser o país parceiro e todas as oportunidades que essa chancela nos podem trazer”, resume Francisco Almada Lobo, CEO e um dos fundadores em 2009 da companhia instalada no Tecmaia – Parque de Ciência e Tecnologia da Maia.

Fabricante de produtos de software de gestão da produção, automação e analítica para várias indústrias de base tecnológica, emprega atualmente mais de 300 pessoas – e está à procura de mais 200 engenheiros -, faturou 33 milhões de euros em 2021 e é detida desde 2018 pela gigante de Singapura ASM, cotada na Bolsa de Hong Kong e líder mundial em equipamentos para semicondutores. Em evidência na Alemanha está o sistema de gestão de operações (MES) que disponibiliza através da cloud, nas instalações do cliente ou de forma híbrida.

“Estando o mundo em constante mudança devido a pandemias, guerras e novas aquisições, a Critical Manufacturing acredita que é necessário haver um software que seja rápido de implementar, em qualquer lado e a qualquer hora”, conclui o empresário, que trabalhava na mega fábrica de componentes eletrónicos da Qimonda em Vila do Conde quando a multinacional de origem alemã entrou em processo de insolvência.

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