OCDE revê em baixa crescimento de Portugal para 5,4% em 2022

No caso da Zona Euro, o PIB deverá crescer apenas 2,6% este ano e 1,6% em 2023, o que já inclui o impacto económico de proibir a importação de petróleo russo de forma faseada.

O PIB português vai crescer 5,4% este ano, em vez de 5,8% como previa em dezembro do ano passado. A estimativa é atualizada esta quarta-feira no Economic Outlook da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Esta revisão em baixa repete-se em 2023 com o crescimento anual a passar de 2,8% para 1,7%. Já a taxa de inflação vai acelerar para 6,3% em 2022, travando depois para 4% em 2023.

Apesar de crescer menos do que o antecipado anteriormente nas contas da OCDE, o PIB português vai ainda assim acelerar face a 2021, ano em que cresceu 4,9% — um número que ficou acima das expectativas, o que pode explicar em parte a revisão em baixa feita agora pela OCDE face a dezembro. Já em 2023 haverá uma forte travagem para um crescimento de apenas 1,7%.

A OCDE confia que um investimento público “robusto”, alimentado por fundos europeus, e o regresso das exportações de turismo vão sustentar a recuperação económica. Apesar do relativo otimismo, a Organização avisa que há “risco de atrasos” dado o “significativo” montante do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Apesar de Portugal não ter uma grande dependência à Rússia e Ucrânia, o país não é alheio aos efeitos que tem no mundo e, por isso, já se vê um afrouxamento do velocidade da retoma. A invasão russa na Ucrânia, as disrupções nas cadeias de abastecimento e o aumento dos preços da energia e de outras matérias-primas terão impacto na atividade económica, reduzindo a confiança dos agentes económicos e o poder de compra dos consumidores.

Perante estas pressões inflacionistas, a taxa de inflação em Portugal deverá situar-se em 6,3% em 2022 e 4% em 2023. Ambas previsões ficam significativamente acima da expectativa do Governo que aponta no Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), entregue em abril deste ano, para uma taxa de 4% este ano.

Mais: a OCDE diz que a subida dos preços está a generalizar-se cada vez mais a todos os setores, tal como já tinha dito o Banco de Portugal e como sugerem os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística. Porém, os peritos da OCDE confirmam a expectativa de que a inflação vá desacelerar ao longo deste ano.

A OCDE admite que os salários vão acelerar à medida que as horas trabalhadas se aproximam dos níveis pré-pandémica, mas considera que “não será suficiente” para proteger a perda de poder de compra devido à aceleração da inflação.

Outra das questões em aberto é a velocidade e dimensão da subida das taxas de juro diretoras, em resposta à taxa de inflação elevada, o que poderá “reduzir o financiamento bancário e gradualmente limitar a capacidade de Governo para gastar”.

No que toca às finanças públicas, a OCDE recomenda que Portugal mantenha uma “política orçamental prudente”, definindo uma “consolidação orçamental credível no médio prazo”, o que será “crucial” para assegurar condições financeiras favoráveis e para “limitar os aumentos nos custos de financiamento à medida que a política monetária da Zona Euro se normaliza“. Depois de um Orçamento expansionista em 2022, a Organização espera uma política orçamental neutra em 2023.

Assim sendo, como deve o Governo responder ao surto inflacionista? À semelhança do FMI, a OCDE recomenda que o apoio orçamental seja “temporário e focado nos mais vulneráveis”, substituindo o corte nos impostos dos combustíveis por apoios diretos a quem tem comprovadamente menos posses.

A OCDE recomenda ainda que Portugal acelere o investimento na transição climática para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, assim como na transição digital para aumentar a competitividade das empresas e melhorar a produtividade da economia portuguesa.

As previsões da Organização para o PIB mundial, Estados Unidos e Zona Euro também sofrem um corte significativo. No caso da Zona Euro, o PIB deverá crescer apenas 2,6% este ano e 1,6% em 2023, o que já inclui o impacto económico de proibir a importação de petróleo russo de forma faseada.

A taxa de inflação europeia vai acelerar para 7% em 2022, travando depois para 4,6% em 2023, acima de Portugal. Contudo, a taxa de inflação subjacente (exclui as componentes mais voláteis como a energia e os bens alimentares) ficará pelos 3,8% em 2022, bastante abaixo dos 5,3% que se prevê para a economia portuguesa.

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