Draghi volta a sobreviver a moção de confiança, mas houve novo boicote
O primeiro-ministro italiano voltou a ter a confiança da maioria dos senadores, mas três partidos, entre os quais o Movimento 5 Estrelas, boicotaram a votação.
Mario Draghi venceu novamente uma moção de confiança no Senado italiano, mas três partidos boicotaram a votação. Uma semana depois da anterior moção, o partido populista antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) voltou a não participar, acompanhado agora pelo Liga, partido de extrema-direita liderado por Matteo Salvini, e o Forza Italia, partido sob a liderança de Silvio Berlusconi.
Numa votação em que estiveram presentes apenas 133 dos 315 senadores, incluindo os do M5S – apesar de não terem participado na votação, terão permanecido na câmara apenas para evitar que não houvesse quórum –, o primeiro-ministro italiano contou com 95 votos a favor e 38 contra.
Num discurso diante do Senado na manhã desta quarta-feira, Mario Draghi disse que a “única forma de avançar” com o seu Executivo era “reconstruir o pacto de confiança” sob o qual foi fundado. Porém, o Forza Italia, o Liga e outros partidos de centro-direita não concordaram e pediram a Draghi que formasse um novo Governo sem o M5S.
No dia 14 de julho, Mario Draghi apresentou a demissão ao Presidente Sergio Mattarella, mas este recusou, convencendo o chefe de Governo a voltar ao Parlamento esta semana para uma avaliação do apoio político à sua coligação governamental, que entrou em crise após o partido do ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte ter boicotado um voto de confiança vinculado a um pacote social para lidar com o aumento vertiginoso da inflação.
Contudo, mesmo que Draghi reúna o apoio parlamentar suficiente para continuar no cargo, já confessou que não quer continuar a governar com as sistemáticas críticas e boicotes do M5S, que é a principal força política na sua coligação.
Caso o primeiro-ministro italiano insista em renunciar ao cargo amanhã, dia em que está previsto ainda apresentar-se diante da Câmara dos Deputados (câmara baixa), Mattarella pode decidir dissolver o Parlamento, provocando eleições antecipadas – que o La Repubblica aponta para que ocorram em 2 de outubro –, mas também pode ver se há apoio político para que um Governo de agenda limitada permaneça no cargo até que os deputados italianos aprovem o orçamento nacional, necessário até ao final do ano.
Para os próximos cinco meses estão em jogo várias reformas que precisam de ser finalizadas, nomeadamente no âmbito da concorrência e justiça, para que o país possa receber a próxima verba da “bazuca” europeia, no valor de 20 mil milhões de euros. O Governo italiano necessita também de preparar e aprovar uma lei orçamental para fazer face ao custo de vida vertiginoso e a uma crise energética sem precedentes, exacerbada pelo conflito na Ucrânia.
“Tempestade perfeita para o BCE”, diz Constâncio
Numa publicação no Twitter, o ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio disse que este impasse em Itália constitui a “tempestade perfeita” para o Banco Central Europeu (BCE), que esta quinta-feira reúne os seus governadores para anunciar a primeira subida das taxas de juro na Zona Euro em mais de uma década.
Tweet from @VMRConstancio
Também o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, defendeu que os partidos da coligação que abandonaram o primeiro-ministro italiano são “irresponsáveis” e arriscam-se a mergulhar o país numa tempestade. “O ballet dos irresponsáveis contra Draghi pode causar uma tempestade perfeita. Agora é o momento de amar Itália: meses difíceis estão pela frente, mas somos um grande país”, escreveu no Twitter.
Tweet from @PaoloGentiloni
(Notícia atualizada pela última vez às 20h53)
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