Governos europeus já gastaram 280 mil milhões no combate à crise energética. E pode ser preciso mais
Alemanha, Itália e França foram os países que mais gastaram no combate à crise energética, segundo os cálculos do 'think thank' Bruegel.
Os governos europeus gastaram cerca de 280 mil milhões de euros em medidas para amortecer o impacto da crise energética nas habitações e empresas desde setembro de 2021 — entre elas, a redução de impostos e criação de subsídios. Segundo os dados da Bruegel, um think thank com sede em Bruxelas, citados pela Bloomberg esta quarta-feira, Alemanha (60 mil milhões de euros), Itália (49,5 mil milhões) e França (44,7 mil milhões) foram os países que mais gastaram. Não existem dados referentes a Portugal.
Os valores surgem numa altura em que o preço do gás se mantém em alta, isto depois de a empresa estatal russa, Gazprom, ter anunciado que o principal gasoduto que liga a Alemanha à Rússia irá ficar suspenso durante três dias (de 31 de setembro a 2 de agosto) para trabalhos de manutenção. Esta quinta-feira, os futuros do gás holandês TTF para entrega em setembro aproximavam-se dos 310 euros por MWh (megawatt-hora), depois de terem superado a marca dos 300 euros na sessão anterior.
“Os preços energéticos vão continuar em alta durante o inverno e os governos devem trabalhar assumindo sempre o pior cenário: que os preços manter-se-ão altos mesmo depois desse período”, disse Giovanni Sgaravatti, analista da Bruegel. “Os governos devem concentrar-se em reduzir a procura de energia sempre que possível”, acrescenta o responsável.
O aumentos dos custos energéticos acontecem numa altura em que o bloco europeu vive entre a promessa de se libertar do gás russo e a ameaça de Moscovo de fechar o abastecimento através do Nord Stream 1 a qualquer momento, o que levou a que a Comissão Europeia apelasse aos 27 Estados-membros que desenhassem planos de poupança energética. O objetivo é reduzir os consumos até 15% entre agosto e maio de 2023 de forma a garantir reservas de gás suficientes para o inverno. Em Portugal, o plano deverá ser apresentado no final do mês tendo como objetivo reduzir em 7% o consumo de energia durante o mesmo período.
Apesar de já reservados cerca de 280 mil milhões de euros para mitigar o aumento dos preços da energia para as empresas e os consumidores, este valor pode não ser suficiente, noticia a Bloomberg. Isto deve-se à escalada da crise energética. Com a Rússia a diminuir a entrega de gás à Europa e as interrupções de fornecimento das centrais elétricas, os preços grossistas da energia subiram mais de 10 vezes face à sua média sazonal durante os últimos cinco anos. Os aumentos sucessivos têm afetado a economia do bloco europeu, com a indústria intensiva a verificar os maiores impactos.
Sob a presidência checa do Conselho da União Europeia (UE), os ministros que tutelam a pasta da Energia nos 27 Estados-membros ponderam realizar uma reunião de emergência para debater o pico nos mercados de energia, prevendo-se a discussão de um limite aos preços da eletricidade, segundo noticiado pela agência de notícias CTK Newswire, da República Checa, que citou o ministro checo da Indústria, Jozef Sikela. Estes mesmos responsáveis já acordaram em julho um consenso sobre a meta para reduzir 15% do consumo de gás até à primavera.
Até agora, os esforços dos líderes europeus concentraram-se principalmente na redução das contas de energia, mas há mais. Medidas como, por exemplo, um corte nos impostos sobre o gás na Alemanha e um subsídio para aquecimento na Polónia sem restrições para os níveis de rendimento ou eficiência energética são mais suscetíveis de apoiar a procura, em vez de a travar.
“Estão a apagar fogo com gasolina”, disse Joanna Mackowiak-Pandera, presidente do Fórum Energia, sediado em Varsóvia, acrescentando que ainda não se chegou ao fundo da crise. Ou seja, as medidas políticas aplicadas até ao momento podem liquidar os recursos financeiros dos países da UE e fazer escalar ainda mais a inflação. Os contribuintes correm o risco de pagar a conta por mais apoios no futuro, esperando-se que os preços permaneçam altos pelo menos até ao próximo ano.
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