EUA precisam de aperto monetário “durante algum tempo” que causará “dor” às famílias e empresas, avisa Powell em Jackson Hole
Presidente da Fed alertou que subida dos juros vai causar "alguma dor" às famílias e empresas, mas será necessária para fazer regressar a taxa de inflação de novo para os 2%.
A economia dos EUA precisará de aperto monetário “durante algum tempo” para fazer regressar a taxa de inflação para o objetivo de 2%, mas o necessário abrandamento económico irá causar “alguma dor às famílias e empresas”, alertou esta sexta-feira o presidente da Reserva Federal norte-americana, Jerome Powell, no aguardado discurso em Jackson Hole.
“A redução da inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência. Além disso, muito provavelmente haverá algum abrandamento das condições do mercado de trabalho. Embora as taxas de juros mais altas, o crescimento mais lento e as condições mais fracas do mercado de trabalho reduzam a inflação, também trarão alguma dor para as famílias e as empresas“, disse o líder do banco norte-americano no simpósio anual do Kansas City, no Wyoming, EUA.
“Estes são os custos infelizes de reduzir a inflação. Mas uma falha em restaurar a estabilidade de preços significaria uma dor muito maior“, acrescentou.
Nesse sentido, Powell reforçou o compromisso da Fed para controlar os preços. “Restaurar a estabilidade dos preços irá requerer a manutenção de uma abordagem de política restritiva durante algum tempo“, assinalou.
A Fed tem vindo a empreender uma agressiva campanha de aumento das taxas de juro para travar a inflação que está em máximos de quatro décadas. Desde março já subiu as suas taxas em 225 pontos base.
A taxa de inflação nos EUA foi de 8,5% em julho, o que trouxe já um ligeiro abrandamento em relação à taxa de 9,1% observada em junho, e que representou um recorde em 40 anos. Em 2023, a inflação deverá atingir os 4%.
"A redução da inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência. Além disso, muito provavelmente haverá algum abrandamento das condições do mercado de trabalho. Embora as taxas de juros mais altas, o crescimento mais lento e as condições mais fracas do mercado de trabalho reduzam a inflação, também trarão alguma dor para as famílias e as empresas.”
História “não aconselha alívio prematuro”
Sem dar pistas sobre quanto mais as taxas de juro vão ter de subir para assegurar a estabilidade dos preços, Powell lembrou que “o registo histórico adverte fortemente contra um alívio prematuro da política monetária”. “Devemos continuar até que o trabalho seja feito. A história mostra que os custos de emprego para reduzir a inflação provavelmente aumentarão com o atraso”, explicou.
A Fed volta a reunir-se a 20 e 21 de setembro para anunciar uma nova subida e Powell não desvendou qualquer indicação sobre a decisão que sairá dessa reunião. Os analistas apontam para uma subida de 50 pontos base ou 75 pontos base.
Os sinais de que a inflação pode ter atingido o pico não descansam as autoridades monetárias, com Powell a frisar que “a melhoria de um único mês fica muito aquém do que o comité precisará de ver antes de estar confiante de que a inflação está a cair”. Além disso, também deu conta de algumas áreas que parecem dar sustentação à pressão inflacionista, como o mercado de trabalho “claramente desequilibrado” com mais vagas disponíveis do que candidatos.
Powell usou do chavão que outros banqueiros centrais utilizam para deixar todas as opções em aberto neste momento, sem se comprometer com qualquer guidance: a subida das taxas de juro “vai depender da totalidade dos dados recebidos e das perspetivas de evolução”.
Em Wall Street, os investidores estão a interpretar essas declarações como agressivas naquilo que será o rumo dos juros nos próximos tempos. Os principais índices recuam mais de 1%, com o S&P 500 a ceder cerca de 1,5%.
(Notícia atualizada às 15h53)
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