Barroso quer UE a apoiar países com custos da energia

Durão Barroso defende plano europeu para limitar preços energéticos. "Aquilo que a Europa possa fazer para ajudar os governos a nível nacional a lidar com esta nova situação pode e deve fazê-lo".

A União Europeia decidiu avançar com a emissão de dívida conjunta no valor de 750 mil milhões de euros na resposta à crise pandémica, para criar o NexGenerationEU. Durão Barroso considera que, perante a invasão russa à Ucrânia, a União Europeia deve “fazer algo semelhante ou comparável”, nomeadamente para “ajudar os países com os custos da energia que se podem tornar insuportáveis”.

O antigo presidente da Comissão Europeia reconheceu estar “muito preocupado” com a situação na Ucrânia porque não antevê “nenhuma solução nem no curto nem no médio prazo”. “Do que conheço de Vladimir Putin é uma ilusão pensar que ele vai aceitar uma derrota e tem muitos meios que ainda não usou”. “Estamos no início de uma crise muito mais funda, que está a dividir o mundo. Temos de estar preparados para o longo prazo“, disse em declarações aos jornalistas, à margem de um evento organizado pela Comissão Europeia nos Açores.

“Temos uma situação de grande incerteza, muita séria do ponto de vista humanitário, militar e económico e a Europa tem de estar preparada para isso”, sublinhou o antigo primeiro-ministro português. “Até agora a Europa resistiu com coragem e com foça, mais até do que Putin esperava”, sublinhando que as sanções são uma forma de mostrar a posição europeia e pôr algum custo em ações consideradas erradas”.

O atual chairman do Goldman Sachs Europa apontou o dedo a alguns “erros nacionais” que foram cometidos aquando da invasão da Crimeia, porque a UE tomou posições muito claras para a segurança energética, incluindo financiar terminais de gás liquefeito, apoiar gasodutos entre países que não tinham acesso a gás houve dinheiro para isso e houve países que continuaram ou ficaram ainda mais dependentes da Rússia do ponto de vista energético. Isto foi errado por complacência e cumplicidade”, acusa.

Durão Barroso defende que “aquilo que a Europa possa fazer para ajudar os governos a nível nacional a lidar com esta nova situação pode e deve fazê-lo”, quando questionado se a Comissão deveria permitir ais Estados ter mais tempos para executar o Plano de Recuperação e Resiliência. No entanto, o antigo líder social-democrata recusou comentar a carta enviada por António Costa à Comissão Europeia nesse sentido.

Ucrânia não reúne condições para aderir à UE

A Ucrânia não reúne as condições políticas e económicas para aderir à União Europeia”, e não se devem baixar os padrões para que os países entrem no clube, defendeu o antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

Falta caminho na separação de poderes ou no combate à corrupção”, exemplifica o agora presidente da GAVI. Apesar de reconhecer que existem um grande setor da população ucraniana que deseja muito aderir à UE e que justifica a decisão da Comissão Europeia, liderada por Ursula Von der Leyen, de atribuir o estatuto de candidato ao país, Durão Barroso reconhece que “ainda muita água vai correr por baixo daquelas pontes”. Mas frisa: “Não podemos baixar os standards para entrar. É um processo”.

Nesta iniciativa organizada pela Comissão Europeia, em S. Miguel no Açores, o antigo primeiro-ministro português considera que “a Guerra na Ucrânia levou a Europa a acordar para algumas realidades”. “Está a perceber que que não pode ser uma organização supranacional de escuteiros”, afirmou Durão Barroso gracejando que não tem “nada contra os escuteiros. “Mas a UE foi feita para defender os europeus e os seus valores e não podemos fazer isso só de um modelo pacifista”, defendeu, dando como exemplo o facto de a Alemanha estar a apoiar a resistência ucraniana.

Questionado sobre o papel da Turquia na mediação do conflito gerado pela invasão da Rússia à Ucrânia, Durão Barroso considerou ainda que o país está “num equilíbrio instável”, “deu uma ajuda importante à Ucrânia, mas também não cortou relações com a Rússia nem impôs sanções”. Mas, “se tiver algum sucesso, serei o primeiro a felicitá-lo, porque era muito importante acabar com a guerra da Ucrânia”, disse o antigo chefe do executivo comunitário.

Barroso defende reformas que gerem resultados já

O antigo presidente da Comissão Europeia considera que, “agora, será difícil levar a cabo uma reforma institucional da União Europeia” e que a aposta deve ser em torno de três reformas: concluir a união bancária, criar um mercado de capitais e prosseguir a reforma para o mercado interno dos serviços.

Durão Barroso alerta para o risco de se avançar agora com grandes projetos que não gerem resultados e “depois criem frustração”.

Será difícil haver uma reforma institucional da UE”, disse perentório. “Em vez de apostar em macro reformas, mais vale fazer coisas concretas com impacto na vida dos cidadãos. Há muita coisa que se poder fazer já, desde que os governos aceitem. E se não houver unanimidade há sempre a cooperação reforçada”, recordou.

“Temos de terminar a união bancária e concluir a união dos mercados de capitais”, enumerou. “Na UE o financiamento é mais feito pela banca, mais conservadora, e menos por capital de risco. Temos startups magníficas, mas a partir de uma certa dimensão vão embora porque precisam de alguma dimensão”, lamenta. O antigo líder europeu defendeu ainda a necessidade de “prosseguir a reforma para o mercado interno dos serviços”, já que “há muitas restrições ao comércio de serviços”.

Durão Barroso foi ainda questionado sobre o processo de vacinação, tendo em conta as atuais funções que ocupa, o presidente da Aliança Global das Vacinas (GAVI) reconheceu: “Ficámos aquém dos objetivos”, disse assumido que desde que saiu da política a sua “honestidade está a aumentar exponencialmente”.

Manteve-se a desigualdade na distribuição de vacinas entre países ricos e pobres e houve estrangulamentos, com a acumulação excessiva de doses nos países ricos e restrições às exportações”. Apesar de terem sido ministradas 1600 milhões de doses.

“O vírus não para na fronteira”, frisou. “No one is safe until everybody is safe”, recordou em inglês e por isso “a resposta tem de ser global” e o “modelo multilateral continua a fazer sentido”.

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