Candidata italiana da extrema-direita Meloni diz à UE que “diversão acabou”
“Não deixem que Bruxelas faça coisas que Roma pode resolver melhor, e não deixem Roma sozinha a resolver coisas que esta não consegue solucionar sozinha”, disse Meloni.
Duas visões diferentes da União Europeia (UE) estarão em confronto nas legislativas italianas de 25 de setembro, tendo a candidata de extrema-direita Giorgia Meloni dito esta semana a Bruxelas que, se ganhar as eleições, “a diversão acabou”.
Segundo noticiou a publicação digital Euractiv, no discurso que proferiu na praça Duomo, em Milão, a menos de duas semanas das legislativas antecipadas no país, a líder do partido Irmãos de Itália (FdI), Giorgia Meloni, declarou: “Se eu ganhar, para a Europa, a diversão acabou”, e defendeu o princípio da subsidiariedade.
Meloni referia-se ao princípio que delimita o exercício de competências da União Europeia (UE) e dos seus Estados-membros, determinando que Bruxelas apenas intervém se a sua ação for mais eficaz a resolver questões políticas ou sociais que a prosseguida pelos 27 no plano mais imediato com capacidade para as solucionar, seja ele nacional, regional ou local. A resposta do seu adversário do centro-esquerda, Enrico Letta, do Partido Democrático (PD), foi imediata: “É uma afirmação perturbadora (…). Se o centro-direita governar [em Itália], temo que a Itália acabe”.
Meloni lidera uma coligação de direita com Matteo Salvini, o dirigente da Liga (que, no Parlamento Europeu, pertence ao grupo eurocético, nacionalista e populista de direita Identidade e Democracia), e o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, líder da formação Força Itália (e pertencente ao Partido Popular Europeu, no hemiciclo de Estrasburgo). A sua coligação surge na primeira posição em todas as sondagens, contra a coligação de esquerda liderada pelo PD de Enrico Letta.
Os dois principais candidatos entraram em confronto na segunda-feira, num debate organizado pelo diário italiano Corriere della Sera, em que ambos clarificaram as suas linhas políticas em relação à UE. Meloni disse que a UE deveria ser um gigante político e não um gigante burocrático, gerindo as “grandes questões” e deixando aos Estados-membros “as questões mais próximas da vida dos cidadãos” e deu como exemplo a crise do gás, sustentando que a solidariedade na Europa é relativa.
“A Alemanha não quer impor um limite ao preço do gás, porque tem contratos com a russa Gazprom e não lhe dá jeito”, observou Meloni, acrescentando que ninguém está a queixar-se disso porque o chanceler alemão, Olaf Scholz, é socialista. “Não deixem que Bruxelas faça coisas que Roma pode resolver melhor, e não deixem Roma sozinha a resolver coisas que esta não consegue solucionar sozinha”, exortou Meloni.
Por seu lado, Enrico Letta atacou as conservadoras Polónia e Hungria, definindo esta última como defensora dos interesses do [Presidente russo, Vladimir] Putin na Europa. Os dois países, segundo Letta, são os verdadeiros culpados da inexistência de uma estratégia comum para lidar com a emergência energética desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano.
“A razão pela qual a Europa não está a funcionar é exatamente porque os partidos políticos conservadores não querem que a União Europeia decida por maioria. Querem ter poder de veto, [por isso, é-lhes mais favorável] decidir por unanimidade”, frisou Letta. De acordo com o líder da coligação de centro-esquerda, precisamente as decisões sobre essas “grandes questões”, mencionadas por Meloni, são impedidas pelo facto de o direito de veto ser utilizado como uma arma de chantagem.
“Precisamos de acabar com o direito de veto, que todos os conservadores (…), como [o primeiro-ministro húngaro, Viktor] Orbán, usam sempre que podem contra os interesses de Itália. A Hungria e a Polónia fizeram tudo para que [o plano] ‘Next Generation EU’, que depois levou ao Fundo Nacional de Recuperação (pós-pandemia de covid-19). Para nós, esse tipo de Europa não pode continuar a funcionar”, disse Letta.
Outro tema espinhoso relacionado com a Europa são as relações com a Rússia, tendo em conta que a amizade do partido Força Itália de Silvio Berlusconi com Putin é histórica e que o seu entendimento político com a Liga, de Matteo Salvini, é bem conhecido.
Giorgia Meloni é uma atlanticista convicta, mas os seus aliados têm uma simpatia demasiado forte pela Rússia, segundo Letta. “A soberania de Itália estaria em grave risco com o centro-direita no Governo. Berlusconi e Salvini parecem defender mais a soberania da Rússia do que a da Europa”, comentou Letta. “Na Europa, queremos uma Itália que conte, e não uma que proteste e vete em conjunto com a Polónia e a Hungria”, acrescentou.
Numa entrevista anteriormente concedida este mês à Euractiv Italy, Iratxe García, a líder da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, deixou um alerta: “Uma eventual vitória dos conservadores [em Itália] enfraqueceria a unidade e a solidariedade de que tanto necessitamos agora, perante a agressão de Putin, devido à agenda nacionalista deles”.
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