Micro-empresas são as mais penalizadas com subida das taxas de juro
A contínua subida dos juros em 2023 deverá ter um impacto duas vezes superior nas contas das micro-empresas quando comparado com as médias e grandes.
A subida das taxas de juro no próximo ano terá um impacto grande nas contas das empresas, mas nem todas vão senti-lo da mesa forma.
De acordo com uma simulação apresentada hoje pelo Banco de Portugal no boletim económico de outubro, o aumento do custo com juros que as empresas enfrentam até julho de 2023 ascende a 1188 milhões de euros, caso as taxas de juro dos empréstimos bancários aumentem 1,58 pontos percentuais, como o mercado está hoje a antecipar que venha a acontecer.
Nas contas das empresas, assumindo a mesma variação de taxa para o encargo total com juros, traduz-se num aumento de custos correspondente a 5,3% do EBITDA de 2019, calcula a entidade liderada por Mário Centeno, adiantando que este rácio ficará entre os valores verificados em 2015 e 2016.
Todavia, são as micro-empresas que mais sofrerão com o aumento do custo de financiamento bancário em 2023. Na simulação do Banco de Portugal, a subida de 1,58 pontos percentuais da taxa de juro terá um custo equivalente a 8,7% do EBITDA nas suas contas, mais do dobro dos 4,3% que sentirão as médias empresas e superior aos 4,4% das grandes empresas.
Por setores de atividade, “destacam-se as empresas da construção e atividades imobiliárias (com um rácio de 9,1%), do alojamento e da restauração (8,5%) e da eletricidade, gás e água (7,9%), para as quais o rácio já registava valores muito elevados e comparação com o total”, lê-se no boletim.
Empresas serão forçadas as reduzirem os seus níveis de endividamento
Por forma a mitigar o impacto antecipado da subida das taxas de juro, o Banco de Portugal prevê que as empresas serão obrigadas a reajustar a sua estrutura de financiamento que passará, por exemplo, pela redução dos níveis de endividamento. “Estas estratégias de desalavancagem podem passar pela utilização dos depósitos existentes para amortizar total ou parcialmente os empréstimos bancários”, diz
Esta mudança de paradigma terá um forte impacto na economia dado que “os aumentos que não possam ser absorvidos pelas margens das empresas levarão a uma redução da procura de crédito, a uma alteração da gestão da liquidez das empresas e a um adiamento de projetos de investimento.” E, naturalmente, muitas tenderão também a passar, pelo menos parte, deste aumento para o preço final dos seus bens e serviços.
O Banco de Portugal revela que, em julho, a taxa de juro dos empréstimos das empresas cifrou-se em 2,23% (2,63% para os novos empréstimos), 0,21 pontos percentuais acima do mínimo histórico registado em abril de 2022. Nessa altura, os empréstimos com taxa variável ou mista representavam 83% do montante total do crédito e 61% do número de empréstimos – e 89% destes empréstimos estavam indexados a uma taxa Euribor.
Esta realidade cria a expectativa de que à medida que as taxas forem revistas nos contratos bancários, o impacto na gestão financeira das empresas, particularmente na sua tesouraria, seja considerável. No entanto, o Banco de Portugal, apesar de assumir “o peso elevado dos empréstimos a taxa variável ou mista”, sublinha que “a magnitude do aumento do custo de financiamento bancário das empresas foi, até à data, inferior à das taxas de juro de mercado.”
E deixa ainda a nota de que não antecipa que o rácio da despesa com juros sobre os resultados das empresas se aproxime dos valores máximos observados no passado.
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