Portugal entre os 12% da OCDE que mais cumprem com os objetivos sustentáveis. Acesso à energia limpa com maior destaque
Portugal está acima da média da OCDE na aplicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com os esforços para garantir "acesso à energia limpa para todos" entre aqueles com melhor cumprimento.
Portugal está entre os 12% dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que melhor cumprem com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tendo saltado da 27ª posição, em 2021, para a 20.ª, este ano. Entre os objetivos cumpridos com mais sucesso, surge o sétimo, o qual tem como meta “garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos” (ODS 7).
A conclusão surge no “Relatório Anual de 2022 – Observatório dos ODS nas Empresas Portuguesas”, divulgado esta segunda-feira, um estudo realizado pelo Center for Responsible Busines and Leadership da Universidade Católica, com o apoio do BPI Fundação “La Caixa” e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que tem como objetivo monitorizar a implementação da Agenda 2030 das Nações Unidas nas empresas portuguesas.
Segundo o documento, a implementação dos ODS em Portugal “tem vindo a ser um processo desafiante desde 2017”, ano em que as Nações Unidas definiram os 17 ODS a serem atingidos até 2030. Desde então, nota o estudo, a evolução de Portugal e o posicionamento nos rankings internacionais têm sido “positivos”, no entanto, existe “um largo caminho de melhoria”.
No relatório publicado, onde são citadas as conclusões do Relatório do Desenvolvimento Sustentável (SDG Index 2022), Portugal encontra-se na 20.ª posição de entre 163 países avaliados, estando, portanto, entre os 12% países mais bem posicionados — o país alcança esta posição depois de, em 2021, ter-se situado na 27ª posição, “ficando acima da média dos países da OCDE”, explica o documento.
Os países que lideram o ranking são, em primeiro lugar, a Finlândia, seguida da Dinamarca e da Suécia. Já no extremo oposto, os três países membros da União Europeia com a pior pontuação são a Lituânia, a Bulgária e o Chipre, respetivamente, enquanto Chade, Sudão do Sul e a República Centro-Africana ocupam as últimas posições a nível global. De referir que foram excluídos 30 países do SDG Index 2022 por “insuficiência de dados” – é o caso, por exemplo, de Cabo Verde e de Timor-Leste.
Fome, consumo e mares entre os objetivos mais desafiantes para Portugal
Olhando para a implementação dos ODS, o índice deste ano aponta a erradicação da fome e agricultura sustentável (ODS 2), consumo e produção responsáveis (ODS 12) e a conservação dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos (ODs 14) como os objetivos mais desafiantes para Portugal. Em agosto, o Tribunal de Contas tinha já alertado para o facto de Portugal não ter cumprido, em 2020, os objetivos de proteção dos oceanos e mares definido pelas Nações Unidas, estando em vias de falhar, também em 2030, as metas previstas.
Segundo o SDG Index 2022, são “necessárias melhorias” nestes três objetivos, sendo que o ODS 14 apresentou, este ano, tendências “negativas”, o ODS 2 tendências “moderamente positivas” e o ODS 12 com “tendências estagnadas”.
Em sentido contrário, o estudo revela que o ODS 7, aquele que visa garantir “energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos“, é o que se “destaca como sendo aquele em que Portugal se apresenta com melhor desempenho e tendência“, enquanto os trabalhos no sentido de inovar as infraestruturas (ODS 9) apresentam “uma tendência positiva”.
Destaque também para os esforços no sentido de erradicar a pobreza (ODS 1); atingir a igualdade de género (ODS 5) e garantir a paz, justiça e instituições eficazes (ODS 16) que “embora apresentem ainda um desempenho com vários desafios a ultrapassar, Portugal está claramente numa trajetória positiva já desde 2021“, frisa o relatório. Já no ODS 8 — aquele que promove o crescimento económico sustentado e inclusivo e garante emprego produtivo e decente para todos — apesar de manter “uma tendência de melhoria”, os esforços desaceleraram no último ano.
Empresas admitem adotar ODS por “pressão” de stakeholders
A “falta de conhecimento e meios para a incorporação estratégica dos ODS” é apontada como uma das cinco dificuldades sentidas pelas empresas e PME em Portugal. Mas, além desta, as organizações admitem que o ónus está mais em existir uma “pressão de variados stakeholders” para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serem incorporados nas suas estratégias, do que propriamento o reconhecimento de que estes objetivos podemconfigurar oportunidades de negócio.
“Muitas empresas adotam esta agenda por pressão de investidores e mercados financeiros ou apenas para cumprir as regulamentações, enfatizando a licença para operar como um dos elementos que motiva a adoção da Agenda 2030“, revela o estudo as conclusões apuradas pelas principais consultoras de sustentabilidade.
Nesta perspetiva, realçamos que as empresas que ainda não veem a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica muitas vezes atuam em relação à sustentabilidade devido às exigências, na sua maioria, de clientes externos.
Além destas, as organizações admitem outras três barreiras, nomeadamente, a operacionalização dos ODS, ao reporte dos desenvolvimentos, bem como a falta de recursos para a sua aplicação. Por esta razão, a grande maioria das empresas portuguesas revelam às consultoras “não estar onde gostariam de estar” quando comparada a sua ambição com o nível de implementação dos ODS.
Mas a realidade aparenta ser diferente consoante a dimensão das organizações. Segundo o relatório, as grandes empresas “mostram um maior nível de envolvimento e reporting considerável” quando comparado com as PME que revelam estar “ainda no seu início”. Esta realidade é “consequência de uma atitude mais ativa das grandes empresas face à Agenda 2030, que se espelha num maior alinhamento estratégico, maior comprometimento das comissões executivas e CEO, bem como maior conhecimento dos ODS nestas empresas”.
Ainda assim, a motivação das PME para um maior alinhamento com os ODS revela ser “clara”, apesar da menor pressão legislativa que sofrem estas empresas nestas matérias. “Explorar cientificamente esta dicotomia entre grandes empresas e PME poderá ser um tópico de interesse futuro”, recomenda o estudo.
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