“O meu comportamento foi inqualificável”, admite o hacker Rui Pinto
Rui Pinto explicou que o mail enviado ao CEO da Doyen, a insistir para que houvesse uma resolução da divulgação de documentos do fundo de investimento através do Football Leaks, “foi um bluff".
Rui Pinto admitiu esta segunda-feira, em tribunal, que pode ter cometido o crime de tentativa de extorsão em relação à Doyen no processo Football Leaks, ao reiterar a falta de consciência e “infantilidade” da sua conduta.
“Não tinha a devida consciência, nunca tive ideia de que aquilo poderia constituir uma tentativa de extorsão. Hoje em dia, reconheço que o comportamento que tive pode ser enquadrado num crime de extorsão na forma tentada. Mas, naquela altura, agi com a maior naturalidade”, afirmou o criador da plataforma eletrónica na sessão do julgamento em curso no Juízo Central Criminal de Lisboa.
Continuando a responder às perguntas do coletivo de juízes, Rui Pinto explicou que o mail enviado ao CEO da Doyen, a insistir para que houvesse uma resolução na situação de divulgação de documentos do fundo de investimento através do Football Leaks, “foi um bluff, como tantos outros”, com vista a pressionar a Doyen.
Perante o email enviado por Aníbal Pinto a Pedro Henriques (advogado de Nélio Lucas), a levantar a possibilidade de estar em causa um crime, o jovem confessou não ter então real noção das coisas: “Em algum período terá sido usada a expressão chantagem ou extorsão, mas, na altura, não estava consciencializado do significado de extorsão. Houve uma altura, mas não me recordo se foi antes ou depois do encontro”.
Contudo, Rui Pinto procurou mais tarde distanciar o reconhecimento da possível ocorrência de um crime com uma suposta prática efetiva da tentativa de extorsão, quando confrontado com o email de Aníbal Pinto para Pedro Henriques.
“O email diz ‘parece configurar’… Do parecer ao ser vai uma distância muito grande, fazia todo o sentido discutirem presencialmente o que estava em causa”, salientou, sem deixar de enfatizar que o propósito do encontro entre Aníbal Pinto, Nélio Lucas e Pedro Henriques era criar “espaço para uma reunião posterior” com o CEO da Doyen, mas já com um “documento que conseguisse blindar” a identidade de Rui Pinto.
Reconhecendo ficar “embasbacado” com alguns aspetos relatados no processo no que diz respeito à tentativa de extorsão, Rui Pinto assinalou que “a própria divulgação de documentos no Football Leaks já poderia constituir crime” e admitiu até que esteve tentado a aceitar um acordo com Nélio Lucas. “O meu comportamento foi inqualificável. Balancei e pensei mesmo em aceitar o acordo com Nélio Lucas”, disse, apesar de ter frisado anteriormente que não tinha dado indicações a Aníbal Pinto para a elaboração de um contrato com a Doyen.
Rui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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