A nova vida de Horta Osório
Desde que saiu do Lloyds que o “Mourinho da banca” tem passado mais tempo em Portugal. Entrou no board de grandes empresas como a Bial, Impresa e grupo Mello. Que papel ainda terá na banca portuguesa?
“Todos temos duas vidas e a segunda começa quando percebemos que só temos uma”. Não foi por acaso que António Horta Osório citou Confúcio quando foi questionado na CNN Portugal sobre o que correu mal no Credit Suisse e como isso fez com que se voltasse a cruzar com Portugal depois de décadas fora do país.
Na verdade, trata-se mais de um semi-regresso ao país. Aos 58 anos, o gestor português divide o seu tempo entre Lisboa e Londres. Desde que saiu do britânico Lloyds, Horta Osório tem acumulado cargos em várias empresas nacionais de referência, como a Bial (farmacêutica), Impresa (media) e grupo Mello (saúde, indústria e infraestruturas), além da Fundação Champalimaud, razão pela qual passa agora 50% do seu tempo por cá.
Em todas elas o “Mourinho da banca” exerce funções não executivas, que “podem ser tão interessantes como as funções executivas, mas em momentos diferentes” da vida, como reconheceu na entrevista que concedeu à CNN Portugal, conduzida por Maria João Avillez.
Depois do trabalho de resgate bem-sucedido no Lloyds, Horta Osório parecia ter encontrado o novo ciclo na Suíça, mas os buracos no Credit Suisse – primeiro com o Archegos e depois com a Greensill — acabaram por precipitar a sua saída de um banco que resistiu à mudança cultural que o português queria impor. Foi um amargo de boca? “As coisas não são nem pretas nem brancas”, respondeu.
Horta Osório afirmou que “não tem nostalgia” dos tempos em que tinha de executar. Não é para menos, depois das últimas duas experiências. Encarar as funções não executivas é “uma evolução natural” após 30 anos a liderar bancos em quatro países diferentes: Portugal, Espanha, Brasil e Reino Unido (onde acabou por receber o título de Sir por ter devolvido os 24 mil milhões da ajuda pública dada ao Lloyds).
Da Bial ao grupo Mello e Impresa
Se o Credit Suisse não mudou à sua vontade, mudou-se Horta Osório para fazer o que gosta: trabalhar com pessoas com caráter e valores “à prova de bala” e em projetos onde pode acrescentar valor.
Foi isso que diz que encontrou na Bial, “um projeto extraordinário e único em Portugal”, onde assumiu os “big shoes” de Luís Portela no cargo de chairman, no início do ano passado. A farmacêutica procura dar um novo ímpeto ao seu negócio, depois de mercados como os EUA terem ficado aquém das expectativas.
No grupo José de Mello e na Impresa, onde acabou de entrar como administrador não executivo, os desafios serão diferentes e à medida das suas dívidas: 1,12 mil milhões de euros no primeiro caso; 150 milhões no segundo.
“Vai dar um importante contributo na concretização da nossa visão estratégica e ambição de crescimento para os próximos anos”, afirmou Vasco de Mello, presidente do grupo que tem participações na Brisa (17%) e CUF (66), entre outras, e que vê o futuro fora de portas. O grupo vai investir mil milhões até ao final da década para concretizar a sua ambição.
“O grupo beneficiará muito com a sua experiência internacional e com o seu conhecimento da realidade do nosso país”, ressalvou Francisco Pedro Balsemão, CEO do grupo que detém a Sic e o Expresso sobre a sua contratação.
Cerberus no caminho do… Novobanco-BCP?
Fifty-fifty, como dizem os ingleses. Horta Osório passa 50% do tempo em Portugal e 50% do seu trabalho está ligado ao setor financeiro. Apesar das mudanças, não esqueceu completamente o seu passado de mais de três décadas ligado à finança.
Em julho foi contratado para senior advisor da administração do Mediobanca, um dos maiores bancos de investimento em Itália. No mês passado entrou no fundo de private equity Cerberus para ajudar em vários bancos que detém na Europa. Um deles foi inclusivamente comprado ao Novobanco, dos americanos Lone Star: o francês Vénétie, em 2018.
Há mais ligações que unem Horta Osório, Novobanco e Lone Star e que deixam antecipar que o gestor português pode vir a ter um papel mais importante na banca portuguesa, de onde saiu em 2003 (para liderar o britânico Abbey National, do Santander).
Foram os americanos que escolheram o braço direito de Horta Osório no Lloyds para integrar o conselho geral e de supervisão do Novobanco: Carla Antunes da Silva.
Depois da reestruturação, o banco e o acionista dos EUA já olham para outras paragens. Há notícias a darem como destino final uma eventual fusão com o BCP por meio da intervenção de fundos de investimento: Fortitude e Carlyle foram nomes já avançados pelos jornais.
Xadrez e sem ambição política
A vida poderá ter mudado em muitos aspetos para Horta Osório, mas a vontade de se aventurar na vida política continua igual a zero – ainda que nas suas intervenções públicas tenham sempre recados para dar e receitas para os males do país.
“Acho que posso ser mais útil e que posso ajudar mais intervindo através da sociedade e das empresas às quais estou ligado”, sublinhou na entrevista à CNN Portugal.
Também mantém a sua paixão pelo ténis, mergulho (faz pelo menos umas férias por ano com a família para fazer mergulho) e xadrez. Neste último caso, não tem tempo para jogar com a regularidade de que gostaria, mas dá-lhe imenso gozo colecionar tabuleiros antigos ligados a batalhas e momentos históricos.
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