Investimento em “tech” climática em Portugal dispara 520%, mas ainda “longe do grau de maturidade dos países europeus”
O disparo de 520% resulta da "maior ronda de financiamento de sempre em tecnologia climática em Portugal". Net Zero Insights pede que país estimule investimentos e crie mais incentivos para startups.
O ecossistema de startups que desenvolvem tecnologia para responder às alterações climáticas em Portugal tem registado um crescimento significativo nos últimos meses, mas ainda se encontra “longe” do mercado de startups a nível europeu.
Segundo um relatório da Net Zero Insights, uma base de dados de startups e PME (pequenas e médias empresas) de tecnologia climática na Europa, sediada em Lisboa, durante o primeiro semestre de 2022, “o financiamento climático em Portugal foi superior a todos os anos anteriores combinados”, tendo atingindo os 292 milhões de euros. Parte desse valor foi resultado da “maior ronda de financiamento de sempre em tecnologia climática em Portugal”, depois de a empresa de carregamento de carros elétricos Power Dot ter recebido 150 milhões de euros — isto é, 51,3% do investimento total em startups “verdes” portuguesas captado este ano.
Apesar da valorização do setor, a Net Zero Insights indica que ainda existe um longo caminho a percorrer. Em termos comparativos, o Reino Unido somou 491 milhões de dólares (cerca de 498,73 milhões de euros) só em agosto de 2022. “Isto pode significar que o ecossistema português de startups de tecnologia climática, embora ainda muito longe da maturidade, mostra sinais positivos de crescimento”, lê-se no relatório.
Este é um sinal claro de que apesar do progresso, o ecossistema ainda está longe de atingir o grau de maturidade de outros países europeus
Outro sinal da falta de maturidade do ecossistema é o tipo de financiamento predominante. Segundo o documento, o investimento proveniente de fundos comunitários — como o Portugal 2020 ou o Horizonte 2020 — representam 60% do dinheiro que chega às startups. Estes fundos “representam geralmente rondas de financiamento inferiores a um milhão de euros”, o que, por sua vez, refletem apenas 8% do valor total investimento nestas startups.
Em termos absolutos, existem 346 startups climáticas com nacionalidade portuguesas — a maioria localizada em Lisboa e no Porto — bem abaixo da média europeia de 628 startups por país. No entanto, quando analisados os países com um Produto Interno Bruto (PIB) semelhante — Finlândia, Roménia, República Checa, Grécia e Hungria –, Portugal consegue destacar-se. Estes países têm, em média, 165 startups dedicadas à causa ambiental. Só a Finlândia ultrapassa o ecossistema português, ao contabilizar 553 startups “verdes”.
Apesar de a Power Dot ter concretizado a maior ronda de investimento de sempre em tecnologias climáticas em Portugal, os setores da agricultura e têxtil e moda são os que atraem mais atenção por parte dos investidores. Segundo o relatório, a agricultura é o setor que mais investimento conseguiu acumular este ano (27 milhões de euros), ao passo que o setor do têxtil conta com maior número de startups até ao momento (71). E, em tanto num como noutro, o capital é, tendencialmente, direcionado a startups que desenvolvem software para melhorar a eficiência geral do setor.
Assim, a Net Zero Insights alerta que “aumentar o interesse geral na tecnologia climática não é suficiente” e defende que Portugal “precisa de criar um ecossistema com incentivos gerais para investimento e criar incentivos governamentais estimular a criação de startups“.
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