EUA resistem a maré republicana. As eleições intercalares em 5 pontos

  • Joana Abrantes Gomes
  • 9 Novembro 2022

A prevista "onda vermelha" ainda não deu à costa. Mas os republicanos seguem na frente para reconquistar a maioria na Câmara dos Representantes. O Senado deverá continuar uma incógnita até dezembro.

As sondagens das últimas semanas apontavam para uma “onda vermelha” do Partido Republicano e um desempenho desastroso dos democratas nas eleições intercalares de terça-feira. Mas, até agora, não se verifica nenhum dos cenários, numa altura em que ainda estão a ser contados os votos em vários estados norte-americanos.

Em jogo estavam a totalidade dos 435 lugares na Câmara dos Representantes e 35 dos 100 lugares no Senado, bem como a eleição dos governadores em 36 estados, procuradores-gerais em 39 estados e secretários estaduais em 37 estados. Houve ainda 6.300 eleições para parlamentos estaduais (em 46 estados), a eleição de 27 tesoureiros estaduais, várias presidências de câmara e alguns referendos.

Os resultados finais podem demorar a ser conhecidos, sobretudo face à elevada polarização nos EUA. Os republicanos deverão reconquistar a maioria na câmara baixa do Congresso, enquanto no Senado ainda é cedo para tirar conclusões. Que certezas há até ao momento?

1) Republicanos à frente na Câmara dos Representantes

Neste momento, a contagem do The New York Times atribui 206 congressistas ao Partido Republicano e 181 ao Partido Democrata, faltando apurar 48 da totalidade de 435 lugares da Câmara dos Representantes. A maioria atinge-se com pelo menos 218 membros.

Os democratas dominam atualmente a câmara baixa do Congresso com uma estreita maioria de cinco assentos, mas, por enquanto, os republicanos seguem em vantagem, confirmando as sondagens das últimas semanas, que davam como quase certa a vitória do GOP (Grand Old Party). Ainda que mude de cor, a diferença não parece que vá ser tão grande quanto se esperava.

2) Luta renhida no Senado

Segundo a contagem do jornal nova-iorquino, os democratas têm garantidos 48 senadores, e os republicanos já conseguiram outros tantos. O Senado tem 100 assentos, mas nas intercalares estavam em disputa apenas 35. Em caso de igualdade (50-50), o Partido Democrata tem vantagem graças ao voto da vice-presidente, Kamala Harris – um cenário que já se verifica atualmente.

É de destacar a vitória de John Fetterman frente ao famoso médico e apresentador de televisão Mehmet Oz, que deu aos democratas um lugar no estado da Pensilvânia que pertencia aos republicanos. Para assumirem o controlo do Senado, os republicanos têm de ganhar pelo menos duas eleições entre Nevada, Arizona e Geórgia. Nestes dois últimos, são os candidatos democratas que seguem na frente, mas algumas projeções apontam para uma segunda volta na Geórgia, a realizar-se em 6 de dezembro.

3) Vitória de Ron DeSantis abre eventual disputa com Trump para 2024

Entre as corridas para o cargo de governador em 36 estados, destaca-se a reeleição, já esperada, de Ron DeSantis na Florida. O republicano aumentou bastante a sua votação em relação a 2018, ano em que ganhou as eleições com o apoio de Donald Trump. Esta vitória reforça a ideia de que deverá concorrer contra o ex-presidente para ser o candidato republicano nomeado para a corrida presidencial de 2024.

Nos chamados swing states (estados onde tanto vence o Partido Democrata como o Republicano), o republicano Brian Kemp venceu na Geórgia contra a democrata Stacy Abrams, enquanto o Wisconsin (Tony Evers), o Michigan (Gretchen Whitmer) e a Pensilvânia (Josh Shapiro) registaram triunfos dos candidatos democratas.

4) Aborto foi a votação em três estados

Nestas intercalares, estão também em jogo referendos em 37 estados, que vão de temas como a legalização do uso recreativo da canábis a leis relacionadas com a interrupção voluntária da gravidez, depois de o Supremo Tribunal ter revogado, em junho, o acórdão Roe vs. Wade.

Os eleitores de Maryland e do Missouri aprovaram a legalização da canábis, o que significa que o uso recreativo desta droga leve já é legal em 21 estados norte-americanos. Em contrapartida, no Arkansas e na Dakota do Norte as propostas foram rejeitadas, enquanto na Dakota do Sul ainda não é possível aferir o resultado.

Outros três estados foram a votos para proteger o direito ao aborto. No Michigan e na Califórnia, este direito foi consagrado nas respetivas constituições estaduais. Em Vermont, os eleitores aprovaram uma emenda à constituição do Estado que os defensores do direito ao aborto acreditam que irá proteger “o direito de cada pessoa a tomar as suas próprias decisões reprodutivas”.

Já os eleitores do Tennessee, Alabama, Oregon e Vermont aprovaram em referendo o fim de quaisquer formas de escravatura, enquanto uma proposta semelhante foi rejeitada no Louisiana.

5) Lusodescendentes vencem na costa leste

Dos vários luso-americanos e lusodescendentes que concorreram a cargos nestas eleições intercalares, pelo menos três já garantiram vitórias nas suas corridas eleitorais na costa leste dos EUA.

Com mais de 80% dos votos apurados, a democrata Lori Loureiro Trahan, cujas raízes remontam ao Porto e aos Açores, garantiu a sua reeleição para um terceiro mandato na Câmara dos Representantes pelo 3.º distrito congressional de Massachusetts. Lisa Boscola, também democrata e filha de emigrantes minhotos, conseguiu o seu sétimo mandato como senadora estadual na Pensilvânia.

Jack Martins, advogado de origem portuguesa que concorria pelo Partido Republicano para o 7.º Distrito do Senado Estadual de Nova Iorque, venceu na noite de terça-feira a rival democrata, regressando assim a um cargo que já ocupou.

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