EUA promete 11 mil milhões para o financiamento climático, mas verbas dependem do resultado das eleições

Depois das críticas, Joe Biden assegurou que o país está comprometido com as metas climáticas de 2030 e prometeu que, até 2024, seriam pagos 11,4 mil milhões para o financiamento climático.

Joe Biden reconheceu a importância da liderança norte-americana no combate às alterações climáticas e respondeu às críticas dos líderes mundiais que acusaram os Estados Unidos de falta de cooperação. Durante o discurso na cimeira do clima, o presidente norte-americano prometeu novas verbas para ajudar os países mais pobres na mitigação e adaptação, e um reforço nos esforços para diminuir a emissão de gases poluentes. “Estamos comprometidos com as metas climáticas”, garantiu.

A ação é uma “responsabilidade da liderança global”, afirmou o presidente norte-americano, esta sexta-feira, durante o sexto dia da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 27), em Sharm el-Sheikh, no Egito. “Os países que estão numa posição de ajudar, devem apoiar os países em desenvolvimento para que possam tomar decisões climáticas importantes, facilitando a transição energética e construindo um caminho para a prosperidade compatível com os objetivos climáticos”, disse durante o seu discurso.

Nesta sequência, Biden prometeu aos líderes mundiais que os 11,4 mil milhões de dólares anuais, destinados ao financiamento climático e que deveriam estar a ser entregues desde 2020, chegariam até 2024. Em 2009, os países mais ricos, e que beneficiam financeiramente do investimento nos combustíveis fósseis que contribuíram para a crise climática, comprometeram-se a alocar 100 mil milhões de dólares anualmente para ajudar os países mais vulneráveis a adaptar e mitigar os riscos das alterações climáticas, e a investir na transição energética e na redução de emissões de dióxido de carbono (CO2), sendo que os EUA deviam contribuir com 11,4 mil milhões para este bolo. Mas esse valor nunca foi atingido. Os países em desenvolvimento receberam 29 mil milhões de dólares em 2020, 4% acima dos níveis de 2019.

Essa verba poderá, contudo, estar dependente dos resultados das eleições intercalares. O enviado especial para o clima John Kerry já tinha alertado aos homólogos na COP27 que se os resultados das eleições não forem favoráveis a Joe Biden, o contributo norte-americano ao fundo climático ficaria comprometido — “não vão ver esse dinheiro”, citou a Bloomberg as declarações do antigo secretário de Estado, numa altura em que ainda está em incerto que irá liderar a Casa dos Representantes e o Senado.

Certo, é que mesmo que Biden assegure o apoio dos democratas no Congresso, os 11 mil milhões prometidos continuam aquém dos quase 40 mil milhões de dólares que os Estados Unidos deviam pagar e que se traduzem ao peso da sua responsabilidade climática, de acordo com a estimativa da consultora especializada em em ciência e política de alterações climáticas, Carbon Brief. Em 2020, o Executivo norte-americano dispôs apenas de 8 mil milhões de dólares destinados ao financiamento climático.

“No ano passado, comprometi-me em trabalhar com o Congresso para quadruplicar o apoio dos Estados Unidos para o financiamento climático (…), incluindo três mil milhões de dólares para a adaptação”, referiu Joe Biden. “Vou lutar para que estes e outros objetivos climáticos sejam completamente financiados”, prometeu.

O presidente garantiu que os EUA estão “prontos para agir”, e anunciou ainda uma duplicação do investimento no Fundo americano de Adaptação Climática, para 100 milhões de dólares, e mais 150 milhões para o Plano de Emergência do Presidente para Adaptação e Resiliência (PREPARE), destinado a ajudar o continente africano. Este montante acresce aos 20 milhões de dólares já previstos no PREPARE, que estão destinados aos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimentos.

Mas as promessas não se traduziram apenas em dólares. Joe Biden assegurou que os Estados Unidos estão “de forma implacável” comprometidos em reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, sendo esta “a melhor forma” de o país continuar “alinhado com a meta de limitar o aquecimento em 1,5 graus Celsius”. Para tal, anunciou, serão criadas novas regulamentações para o setor dos combustíveis fósseis que permitam reduzir as emissões em 87% até à próxima década, quando comparado com os níveis de 2005.

“Hoje, graças às ações que tomámos, posso, finalmente dizer, enquanto presidente, que os Estados Unidos vão atingir as metas de redução de emissões até 2030”, disse.

De fora ficou a referência ao fundo de Perdas e Danos. De acordo com o The New York Times, o conselheiro ambiental da Casa Branca foi questionado, em conferência de imprensa, sobre de que forma os Estados Unidos iriam contribuir para o fundo destinado a cobrir mais diretamente os prejuízos imediatos de catástrofes agravadas pelas alterações climáticas, como ciclones, cheias, ondas de calor ou vagas de frio. Mas ao invés de responder, Ali Zaidi apenas assegurou que o país está “comprometido em trabalhar em parceria e solidariedade com os países mais vulneráveis”.

O país com mais emissões históricas fica assim em silêncio quanto ao valor que irá atribuir a este fundo, apesar dos apelos dos países mais vulneráveis. Desde o arranque da cimeira, vários países europeus já se chegaram à frente para reiterar que estão comprometidos em ajudar as nações mais vulneráveis.

A Alemanha prometeu 170 milhões de euros destinados a ajudar 58 países em desenvolvimento; Áustria anunciou contribuir com cerca 50 milhões de euros para o fundo de Perdas e Danos, logo depois de a Escócia ter prometido alocar mais cerca 5 milhões de euros para apoiar os países em desenvolvimento, elevando o compromisso total para 8 milhões.

Já a Dinamarca, comprometeu-se a ceder quase 14 milhões de euros e a Bélgica 2,5 milhões. Do outro lado do globo, a Nova Zelândia prometeu contribuir para o fundo com 20 milhões de euros, do qual a maior parte será distribuída pelos países do Pacífico.

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