3º dia da COP27. Críticas aos países mais ricos marcam cimeira do clima. “Isto é fundamentalmente injusto”

Quénia, Barbados e Ruanda acusam países mais ricos de não fazerem o suficiente para ajudar as nações mais vulneráveis, que precisarão de dois biliões por ano para enfrentar crise climática.

Críticas e apelos aos países do continente africano marcaram o terceiro dia da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 27), em Sharm el-Sheikh, no Egito – dia em que líderes acusaram os países mais ricos de não fazerem o suficiente para ajudar os mais vulneráveis na mitigação e adaptação das consequências das alterações climáticas.

O continente africano contribui com menos de 3% para a poluição responsável pelas alterações climáticas, mas é severamente mais afetado pela crise “, afirmou o presidente do Quénia, William Ruto, esta terça-feira. “E, portanto, é justo e adequado que nesta conferência sejam tomadas as medidas necessárias para reconhecer as necessidades especiais do continente”, citou o The Guardian.

Já Mia Mottley, primeira-ministra dos Barbados, considerou que “o mundo ainda se parece demasiado com o que era quando havia um império colonialista“, denunciando as desigualdades e acesso a recursos entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Fomos aqueles cujo sangue, suor e lágrimas financiaram a revolução industrial. Devemos agora enfrentar um risco duplo por ter que pagar o custo como resultado desses gases de efeito estufa da revolução industrial? Isto é fundamentalmente injusto“, citou o jornal britânico.

Por sua vez, Paul Kagame, presidente do Ruanda defendeu que a “contribuição mais valiosa que os países em desenvolvimento podem fazer para reduzir as emissões [de gases com efeito estufa] é investindo em África para desenvolver energia verde e sustentável”.

Fomos aqueles cujo sangue, suor e lágrimas financiaram a revolução industrial. Devemos agora enfrentar um risco duplo por ter que pagar o custo como resultado desses gases de efeito estufa da revolução industrial? Isso é fundamentalmente injusto

Mia Mottley, primeira-ministra dos Barbados

O financiamento climático e fundo de Perdas e Danos estão no topo da agenda da lista de prioridades a serem debatidas nas reuniões entre os líderes mundiais durante a COP 27. Em 2009, os países mais ricos, e que beneficiam financeiramente do investimento nos combustíveis fósseis que contribuíram para a crise climática, comprometeram-se a alocar 100 mil milhões de dólares para ajudar os países mais vulneráveis a adaptar e mitigar os riscos das alterações climáticas, e a investir na transição energética e na redução de emissões de dióxido de carbono (CO2). Mas esse valor nunca foi atingido. De acordo com o Adaptation Gap Report 2022, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), em 2020, os países em desenvolvimento receberam apenas 29 mil milhões de dólares.

Mas o apontar de dedos não se ficou por aqui. Harjeet Singh, consultor sénior da Climate Action Network (CAN), acusou os Estados Unidos de “agir de má-fé” e de engendrar um “plano de décadas de negação, atraso e deceção” quando se trata do fundo de Perdas e Danos.

“Os Estados Unidos estão há décadas a agir de má-fé em relação às Perdas e Danos, mas os atrasos e enganos têm consequências na vida real. Precisamos concordar com um mecanismo de financiamento nesta COP para que possamos trabalhar para torná-lo operacional até 2024, e os EUA precisam de passar de ser obstrutivos a construtivos“, cita o The Guardian, as declarações do especialista.

Os apelos também ecoaram do lado da União Europeia (UE), que garantiu estar alinhada com os compromissos climáticos assumidos apesar dos impactos e as dificuldades sentidas, como a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia. No púlpito, Ursula von der Leyen instou o norte do globo a seguir o exemplo dos 27 Estados-membros que contribuíram “de forma significativa para a promessa dos 100 mil milhões de euros”.

“Trabalharemos com os países desenvolvidos para que dupliquem o financiamento da adaptação até 2025, relativamente aos níveis de 2019, e aumentem a contribuição para financiar a luta contra as alterações climáticas, a fim de cumprir o objetivo anual de 100 mil milhões de dólares com o qual a UE contribuiu com 23,04 milhares de milhões de euros em 2021 – uma contribuição estável e, de longe, a mais elevada” – uma tendência o bloco europeu pretende manter, garante.

Desde o arranque da cimeira, vários países europeus chegaram-se à frente para reiterar que estão comprometidos em ajudar as nações mais vulneráveis. A Áustria anunciou contribuir com cerca 50 milhões de euros para o fundo de Perdas e Danos, logo depois de a Escócia ter prometido alocar mais cerca 5 milhões de euros para apoiar os países em desenvolvimento, elevando o compromisso total para 8 milhões. Já a Dinamarca, comprometeu-se a ceder quase 14 milhões de euros e a Bélgica 2,5 milhões. Do outro lado do globo, a Nova Zelândia prometeu contribuir para o fundo com 20 milhões de euros, do qual a maior parte será distribuída pelos países do Pacífico.

Países mais vulneráveis precisam de dois biliões por ano para enfrentar crise climática

Mas os esforços deverão continuar aquém – e os próprios valores previstos para o financiamento climático e fundo de Perdas e Danos poderão ser insuficientes. Num relatório apresentado esta terça-feira, o economista ambiental Nicholas Stern revelou que serão necessários dois biliões de dólares todos os anos até 2030 para ajudar os países com menos recursos a evitar um “colapso climático”.

As verbas serão necessárias para que os países pobres possam abandonar os combustíveis fósseis, investir em energia renovável e outras tecnologias de baixo carbono, ao mesmo tempo que reúnem recursos para enfrentar os cenários de clima extremo, como secas, escassez de água, cheias e ciclones.

Durante a apresentação, o autor do estudo defendeu que os países ricos “devem reconhecer que é de seu interesse – bem como uma questão de justiça, devido aos graves impactos causados pelos seus altos níveis de emissões atuais e passadas – investir em ação climática em mercados emergentes e em países em desenvolvimento”. Para Nicholas Stern, não existem margens para dúvidas, a próxima década será determinante para o futuro do planeta. “O mundo não será capaz de evitar as alterações climáticas perigosas, que vão danificar e destruir milhares de milhões de vidas e meios de subsistência tanto nos países ricos, como pobres”.

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