Ausência de altos-cargos da China e da finança na COP não deverá frustrar esforços climáticos

Apesar de algumas ausências marcantes na COP27, da parte de algumas das mais altas patentes da China e de instituições financeiras, a colaboração destes na transição verde não estará em causa.

O presidente da China, Xi Jinping, não esteve nem vai estar presente na 27.ª Conferência das Partes (COP). Da parte do gigante asiático, foi enviada uma comitiva. Ao mesmo tempo, o CEO da Blackrock, Larry Fink, o do Standard Chartered, Bill Withers, e a do Citigroup, Jane Fraser, também decidiram ficar de fora desta edição da cimeira. Estas ausências afetarão significativamente os resultados da conferência? Os consultores, analistas e ambientalistas consultados pelo Eco creem que não.

Em representação da China, estarão presentes Xie Zhenhua, Representante Especial para Assuntos Climáticos, e Zhao Yingmin, o vice-ministro do Meio Ambiente. “Ambos têm muita experiência em negociações ambientais e já chefiaram delegações chinesas em COPs anteriores”, indica o professor de Finanças da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), Rodrigo Tavares. Além disso, considera, “a delegação da China é significativa, com cerca de meia centena de pessoas”.

É natural que quando os maiores emissores de CO2 do mundo não se fazem representar ao mais alto nível, a confiança no respetivo comprometimento face à ação climática seja posta em causa”, avalia Carolina Silva, da associação ambientalista Zero. Sendo a China o maior emissor de gases com efeito de estufa, que contribui com cerca de 30% das emissões mundiais, “foi um dos grandes ausentes do segmento dos líderes”, continua.

A mesma sublinha, contudo, que “a China não ficará de fora dos trabalhos que decorrerão ao longo dos próximos dias e terá, consequentemente, um papel a desempenhar nos resultados desta COP27”. Adicionalmente, o encontro entre o enviado especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, e Xie Zhenhua “marca um avanço notoriamente positivo”, depois de as negociações bilaterais formais sobre alterações climáticas entre a China e os Estados Unidos terem sido suspensas como represália pela visita de Nancy Pelosi a Taiwan.

Apesar desses recuos, Cláudia Coelho, partner da PwC dedicada à Sustentabilidade e Alterações Climáticas, afere que a China “dá sinais de se manter empenhada com o tema” das alterações climáticas, reconhecendo, contudo, que a suspensão das relações bilaterais tem implicações na participação da China na cimeira.

Investidores ausentes, mas compromissos presentes

No segmento dos investidores, Rodrigo Tavares é perentório: “Não acho que estas ausências sejam particularmente marcantes”. Relembra que o mercado financeiro sempre esteve representado nas COPs e estará também representado no Egito. “O que é importante salientar é que as principais instituições financeiras estão a incorporar riscos e oportunidades climáticas nas suas estratégias de investimento e de crédito. Seria irresponsável não fazê-lo e possivelmente prejudicial ao seu desempenho financeiro”, indica.

O importante é que estas grandes entidades financeiras mantenham os seus compromissos

Carolina Silva

Zero

Apesar de na COP26 ter nascido a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, uma coligação global de instituições financeiras comprometidas em financiar a descarbonização da economia global, “há outras iniciativas semelhantes e igualmente relevantes, desenvolvidas fora do âmbito das COPs”, relembra o professor, como a Climate Investment Coalition, que junta fundos de pensão nórdicos e britânicos.

Já a Zero considera a ausência dos CEO da Blackrock, Standard Chartered e Citigroup “notória e de lamentar”, sobretudo numa cimeira onde a necessidade de maiores fluxos financeiros direcionados para a ação climática assume destaque. Mas também relativiza, afirmando que “o importante é que estas grandes entidades financeiras mantenham os seus compromissos”, e tanto a Blackrock, como o Citigroup e o Standard Chartered continuam a fazer parte da Glasgow Financial Alliance for Net Zero.

"Não existem dúvidas sobre a relevância do risco climático para os investimentos”

Cláudia Coelho

Sócia da PwC dedicada à Sustentabilidade e Alterações Climáticas

Apesar de registar um crescente número de compromissos, a organização alerta que esta evolução tem sido acompanhada por “uma proliferação de critérios e padrões dúbios para os avaliar, sendo muitas vezes mera propaganda ambiental”. “O que precisamos de ver, mais do que a presença de CEOs na Cimeira, é um compromisso sério com o fim dos investimentos nos setores do petróleo e gás, algo que ainda está muito longe de acontecer”, defende Carolina Silva.

O analista da XTB Eduardo Silva aponta que os executivos em causa justificaram a ausência com incompatibilidades na agenda, e não com alguma objeção concreta ao evento. “A primeira leitura é que ao enviarem delegações e representantes a importância que atribuem ao evento é menor, por melhor que seja a justificação”, balança. Para Eduardo Silva, a crise de inflação elevada e desaceleração económica podem ter alterado as prioridades para estes gestores.

Por seu lado, a PwC considera que “não existem dúvidas sobre a relevância do risco climático para os investimentos”, tendo várias entidades financeiras e não financeiras assumido uma posição, com compromissos e metas nesta matéria, ao mesmo tempo que o tema tem sido incluído nos principais desenvolvimentos regulatórios e normativos. “Embora a presença e apoio de entidades não governamentais seja um sinal importante de compromisso e inspiração ao apoio à ação climática, os investidores e o setor privado não fazem parte das negociações formais que têm um ciclo anual entre países membros das partes desta Conferência das Nações Unidas”, refere Cláudia Coelho.

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