Maioria dos empresários considera semana de quatro dias “nada vantajosa”

A grande maioria (71%) dos gestores prevê um impacto negativo sobretudo ao nível dos lucros. Por outro lado, 83% considera que a medida seria positiva para o bem-estar, conclui o inquérito da APE.

Mais de metade dos empresários considera “nada vantajoso” os vários cenários apresentados para a implementação da semana de quatro dias de trabalho, mesmo aqueles que admitem um corte salarial de 10% e um apoio financeiro do Estado para apoiar a transição para o novo modelo. A grande maioria (71%) prevê um impacto negativo sobretudo ao nível dos lucros. Por outro lado, 83% dos empresários considera que a medida seria positiva para o bem-estar, revela o inquérito levado a cabo pela Associação Empresarial de Portugal (APE).

“É muito claro o sentido de opinião dos empresários quanto ao segmento que terá mais benefícios com a implementação da semana dos quatro dias, considerando que serão seguramente os trabalhadores e não as empresas”, lê-se no relatório do inquérito, que contou as respostas de 1.130 empresas.

Entre os cenários possíveis, o pior, na perceção dos gestores, seria a “redução de 20% nas horas trabalhadas, sem cortes de salário, e sem apoios financeiros do Estado para essa transição”, com 85% dos empresários a considerarem-no “nada vantajoso” e 9% “pouco vantajoso”.

Contudo, nem o cenário oposto — “redução de 20% nas horas trabalhadas, com um corte de 10% no salário, e com apoios financeiros do Estado para essa transição” — recolhe consenso. Quase 60% dos inquiridos olha para esta possibilidade como sendo “nada vantajosa”, enquanto 27% diz ser “pouco vantajosa”.

 

O cenário de uma “redução de 10% nas horas trabalhadas, sem cortes de salário, e com apoios financeiros do Estado para essa transição” é, apesar de tudo, o cenário que recolhe mais adeptos, com 8% dos empresários a considerarem-no “muito vantajoso” e 15% “vantajoso”, enquanto 22% responde “pouco vantajoso” e novamente uma maioria (59%) “nada vantajoso”.

O inquérito mostra que mais de um terço dos inquiridos afirma que a implementação da semana de quatro dias de trabalho “apenas é benéfica para os trabalhadores”, sendo que a proporção sobe para cerca de 50% no caso das respostas dadas pelos empresários do setor da indústria.

Empresários temem impacto negativo nos lucros

Lucro (71%), queixas dos clientes (70%), organização dos processos internos (70%), competitividade (69%) e produtividade (65%) são as principais áreas onde os empresários percecionam que a implementação desta medida traria um “impacto negativo” ou “muito negativo”.

Já no que toca a fatores como a satisfação no trabalho, a intenção de permanecer na empresa ou o nível de comprometimento com a organização, a maioria dos inquiridos prevê um impacto neutro.

Em termos de impactos positivos para as empresas, os gestores assinalam, sobretudo, os custos de energia (40%) e a taxa de absentismo (39%).

A avaliação é diferente quanto ao ponto de vista do impacto no trabalhador, onde os empresários percecionam como sendo vantajosa nos diferentes cenários possíveis. Quanto ao impacto positivo nos trabalhadores, as empresas valorizam sobretudo os fatores de bem-estar pessoal (83%), qualidade de vida (83%), apoio à família (76%) e dos custos com deslocações (66%).

Ainda assim, as vantagens não são suficientemente fortes para convencer os empresários, que não consideram que a semana laboral reduzida seja um tema prioritário neste momento. A esmagadora maioria das empresas (77%) concorda (parcial ou totalmente) que, em alternativa ao modelo da semana de quatro dias, seria preferível uma total flexibilidade no modelo a adotar, por acordo entre o trabalhador e a empresa.

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