“Mais pessoas” e “poucas restrições”. Como vai ser o Natal dos especialistas Covid?

Peritos asseguram que o Natal vai ser mais tranquilo, com mais pessoas à mesa. Mas alertam para a proteção dos mais vulneráveis, bem como para a ventilação e para se estar atento aos sintomas.

Pela primeira vez em dois anos, não há quaisquer restrições nem recomendações específicas da Direção-Geral da Saúde (DGS) relativamente à Covid para esta época festiva. Ao ECO, os especialistas que têm acompanhado a pandemia, asseguram que o Natal vai ser mais tranquilo, com mais pessoas à mesa. Mas alertam para a necessidade de manter os cuidados habituais, como a proteção dos mais vulneráveis, a ventilação dos espaços e, tendo sintomas, recomendam usar máscara ou até ponderar não ir: não só pelo SARS-CoV-2, mas pelos restantes vírus respiratórios.

“Vou comer bacalhau a 24, peru a 25… Ou seja, limitações gastronómicas não espero ter”, atira, entre risos, Carlos Robalo Cordeiro, diretor do serviço de Pneumologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, acrescentado que “tirando isso” haverá “poucas restrições”.

A única preocupação é com a minha mãe”, sublinha o pneumologista, referindo que neste momento “não é tão importante o SARS-CoV-2”, mas a junção de todos os vírus respiratórios que circulam habitualmente neste inverno, como a gripe e o vírus sincicial. Nesse sentido, Carlos Robalo Cordeiro afirma que “quem está doente tem a obrigação e o dever de se proteger” não infetando os outros, sobretudo, os mais idosos e vulneráveis.

Neste momento, em face do panorama que temos, não encontro grande preocupação com necessidades especiais“, remata o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, acrescentando que está convicto de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) vai declarar o fim da pandemia, após esta época de inverno.

Devemo-nos preocupar em saber se os nossos idosos tiveram o reforço vacinal agora. E senão tiveram devemos incitá-los a fazer esse reforço”.

Manuel Carmo Gomes

Epidemiologista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

A posição é partilhada por Manuel Carmo Gomes, que, além da preocupação com os mais idosos e vulneráveis e manter “sempre que possível” os espaços arejados, realça a importância da vacinação. “Devemo-nos preocupar em saber se os nossos idosos tiveram o reforço vacinal agora. E senão tiveram devemos incitá-los a fazer esse reforço”, sinaliza o epidemiologista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ao ECO, elencando que novos dados do Reino Unido e dos Estados Unidos relativamente à efetividade das vacinas bivalentes da Covid apontam para “uma proteção considerável” contra a infeção pelas novas variantes que circulam atualmente, além da proteção ” bastante elevada” contra o risco de hospitalização. “Na minha família é essa a preocupação”, conclui, em declarações ao ECO.

Um pouco mais cauteloso é Bernardo Gomes. “Para o meu Natal, a grande diferença este ano é que vamos ter um ajuntamento um bocadinho maior”, acrescentando que no total estarão presentes cerca de 15 pessoas. Mas haverá três preocupações centrais: garantir que todos receberam o reforço vacinal, assegurar que os convívios familiares decorrem sob uma boa ventilação, nomeadamente através de “um espaço mais amplo”, e, tendo sintomas respiratórios, usar máscara ou até ponderar não ir, “sobretudo em fase febril”, acrescenta o médico de Saúde Pública e investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Vou ter 14 pessoas em casa e vou tentar organizar os espaços de forma a que as pessoas possam estar sentadas confortavelmente, mas sem estarmos todos uns em cima dos outros e garantindo que o espaço é adequadamente ventilado.

Raquel Duarte

Pneumologista e ex-secretária de Estado da Saúde

Além disso, Bernardo Gomes lembra que é importante “ter a consideração de, numa mesa, colocar as pessoas mais vulneráveis na ponta” para que exista uma diminuição da exposição, diz ao ECO. Estas recomendações são partilhadas por Raquel Duarte, que sublinha que terá “exatamente os mesmo cuidados” face ao Natal do ano passado, sendo que a grande diferença deste ano está no número de pessoas.

“Vou ter 14 pessoas em casa e vou tentar organizar os espaços de forma a que as pessoas possam estar sentadas confortavelmente, mas sem estarmos todos uns em cima dos outros e garantindo que o espaço é adequadamente ventilado“, conta, ao ECO, a pneumologista que lidera a equipa de peritos que aconselhou o Governo na gestão da pandemia, acrescentando que, se necessário, irá tentar “espaçar as pessoas por várias mesas” ou espaços.

E testes? “Não vou pedir testes, mas vou pedir às pessoas confirmem que não têm sintomas. E vou pedir que se as pessoas tiverem queixas e sintomas que não venham“, riposta. “Não vale a pena correr o risco de ficarmos todos doentes”, remata.

Tenho tentado manter o meu dia-a-dia tranquilo sem grandes convívios com outras pessoas, mantendo a minha atividade normal, mas tentando minimizar o contacto com grupos alargados de pessoas para não chegar ao Natal infetado.

Gustavo Tato Borges

Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP)

Já Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), sublinha que mesmo não havendo nenhuma restrição do Governo vai passar o Natal “com a família mais chegada, convivendo com um número limitado de pessoas”, referindo que serão “dez em cada um dos lados”.

Apesar de admitir que este ano há razões para estar “um bocadinho mais tranquilo”, Gustavo Tato Borges sublinha que o mais importante não é apenas o convívio no Natal, mas os cuidados que se tem até lá. “Tenho tentado manter o meu dia-a-dia tranquilo sem grandes convívios com outras pessoas, mantendo a minha atividade normal, mas tentando minimizar o contacto com grupos alargados de pessoas para não chegar ao Natal infetado“, conta o médico, ao ECO.

Apesar de assumir que tem a “felicidade de ter toda a gente na família vacinada”, à semelhança dos restantes peritos, entre as preocupações do presidente da ANMSP para o habitual convívio de família estará garantir que as pessoas estejam “relativamente afastadas”, haver uma renovação do ar, “abrindo de vez em quando a janela” e proteger o avô, que tem 87 anos. “Irei realizar um teste para ter mais certeza de que não estarei infetado”, aponta.

Portugal deixou de estar em situação de alerta no âmbito da Covid a 1 de outubro, pelo que o isolamento deixou de ser obrigatório, a linha SNS24 deixou de passar requisições para testes e as baixas por Covid passam a ser pagas de forma semelhante às baixas médicas por outras doenças. Em suma, a Covid passou a ser genericamente trata como outras doenças. Este é também o primeiro Natal desde 2020 que a DGS não fez a habitual conferência de imprensa para relembrar os cuidados a ter para mitigar a doença.

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