Covid. EUA ponderam testar águas residuais dos aviões internacionais
Com o aumento de casos de Covid na China, várias nações começam a exigir teste negativo aos visitantes chineses. Espanha anunciou hoje que irá fazê-lo. Os peritos dizem que existem soluções melhores.
Com a China a lutar contra uma nova onda de casos de Covid-19, e vários países a começarem a impor novas medidas de restrição aos viajantes chineses, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (EUA) estão a considerar a possibilidade de recolher amostras de águas residuais retiradas de aeronaves internacionais para rastrear quaisquer novas variantes da doença emergentes.
Comparativamente às novas restrições anunciadas esta semana pelos EUA e também por outros países — como é o caso de Espanha, Itália, Coreia do Sul ou Japão — que passam a exigir teste negativo à Covid aos viajantes provenientes da China, esta seria uma melhor solução para rastrear o vírus e retardar a sua entrada nos Estados Unidos, defendem três especialistas em doenças infecciosas ouvidos pela Reuters (acesso livre, conteúdo em inglês).
“[Os testes à Covid] Parecem ser essenciais de um ponto de vista político. Penso que cada governo sente que será acusado de não fazer o suficiente para proteger os seus cidadãos se não o fizer”, afirma Michael Osterholm, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota.
“Testar as águas residuais das companhias aéreas ofereceria uma imagem mais clara de como o vírus está em mutação, dada a falta de transparência dos dados na China”, refere Eric Topol, especialista em genómica e diretor do Scripps Research Translational Institute em La Jolla, Califórnia. Testar as águas residuais dos aviões da China “seria uma tática muito boa”, acrescenta Eric Topol.
Os EUA queixam-se de pouca informação sobre a situação epidemiológica na China, nomeadamente sobre que variantes estão atualmente a circular.
A China, por sua vez, já veio dizer que as críticas feitas às suas estatísticas são infundadas, e minimizou o risco de novas variantes, afirmando que espera que as mutações sejam mais infecciosas mas menos graves. Ainda assim, persistem dúvidas sobre os dados oficiais chineses, o que já levou muitos países, incluindo os EUA, a impor novas regras de testes aos visitantes chineses.
Espanha também passa a exigir teste negativo à Covid-19
Espanha junta-se à lista de países que estão a exigir um teste negativo à Covid-19 aos visitantes provenientes da China. A ministra da Saúde, Carolina Darias, anunciou esta sexta-feira que, perante a elevada propagação do vírus na China, será obrigatório que os passageiros do país asiático tragam consigo um testes negativo ou a pauta de vacinação completa.
“Existe uma preocupação partilhada a nível internacional e nacional devido à evolução dos contágios na China e à dificuldade que existe para podermos realizar uma correta avaliação da situação, tendo em conta a escassa informação que existe”, disse a dirigente, citada pela agência Infosalus (acesso livre, conteúdo em espanhol).
Em Itália, a decisão de tornar obrigatória a testagem à Covid-19 para quem chega da China já tinha sido tomada. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, aumentou a pressão sobre a União Europeia para aderir à abordagem do seu Governo, ao defender que a testagem de todos os passageiros da China “só é eficaz se [tal] for feito a nível europeu”, notando que muitos chegam em voos de ligação através de outros países europeus. Mais de 50% das pessoas rastreadas à chegada ao aeroporto de Malpensa, em Milão, estavam infetadas.
Já em Portugal, não está previsto o reforço das medidas de controlo e mitigação da pandemia, pelo menos para já. Em resposta na quarta-feira à Lusa, o Ministério da Saúde assegurou que as autoridades portuguesas estão a acompanhar a situação epidemiológica na China “em articulação com os parceiros europeus e organismos internacionais”.
Fora da Europa, aos EUA junta-se o Japão, a Malásia, a Coreia do Sul e Taiwan. Todos estão a exigir testes aos visitantes da China.
Medidas adotadas pelos países perante surto na China são “compreensíveis”, diz OMS
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as medidas de proteção adotadas por vários países face à explosão de casos de Covid-19 na China são “compreensíveis”, sobretudo perante a falta de informação prestada por Pequim. “Na ausência de informações completas da China, é compreensível que os países estejam a adotar medidas que acreditam proteger o seu povo”, defendeu o responsável da OMS, numa publicação no Twitter.
Tedros Adhanom Ghebreyesus lembrou ainda que já tinha alertado que, para fazer uma avaliação de risco abrangente da situação de Covid-19 na China, são necessárias “informações mais detalhadas”.
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“Continuamos preocupados com a evolução da situação e continuamos a incentivar a China a rastrear o vírus Covid-19 e a vacinar as pessoas de maior risco. Continuamos a oferecer o nosso apoio para o atendimento clínico e proteção do seu sistema de saúde”, acrescentou ainda.
Por outro lado, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças ( CDC, na sigla em inglês) considera injustificada a despistagem obrigatória da Covid-19 na União Europeia para os viajantes oriundos da China, sustentando que os países europeus “têm níveis de imunização e vacinação relativamente elevados” e que as variantes do coronavírus SARS-CoV-2 “em circulação na China já circulam na UE”.
Para já, a União Europeia absteve-se de seguir a decisão de Itália e Espanha de exigir testes à Covid-19 aos viajantes provenientes da China que chegam aos seus aeroportos, mas prometeu manter-se vigilante e pronta a agir em conjunto.
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